(Liturgia
do Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum)
“Alegrai-vos”! A liturgia da
Palavra deste Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum começa e terma com essa
exortação.
Na verdade é um apelo para que
nos coloquemos neste clima de alegria e de festa e, nessa perspectiva, convida-nos
a olhar mais profundamente a Palavra que o Senhor nos dirige.
“Alegrai-vos”! Este convite corresponde bem aos desejos de
cada coração. Ao escutá-lo, rapidamente abre um horizonte de luz diante dos
nossos olhos. Este, então, passa a ser o horizonte que cada pessoa busca alcançar,
a saber, viver na verdadeira alegria! O convite que o Senhor nos faz para viver
nessa alegria nos conforta. Mas, como chegar nesse horizonte e como, de
coração, nos alegrar?
“Alegra-te,
cheia de graça, o senhor é contigo”
(Lc, 1,28). Quando o anjo saúda
Maria, na verdade, anuncia-lhe exatamente a alegria, dando-lhe a motivação para
tal convite: “O Senhor está contigo”!
Isso, portanto, para qualquer um
de nós, assim como para Maria, é motivo de alegria. Uma alegria que se fundamenta
na presença de Deus em nossas vidas! O Senhor está conosco, o Seu Reino está
próximo!
Não há outra alegria verdadeira,
estável e segura a não ser aquela que nasce da certeza de Sua presença em nossa
vida.
Aliás, São Paulo já convidava os
seus ouvintes a viverem nessa dinâmica: “Alegrai-vos
no Senhor! Repito, alegrai-vos”! É porque Ele está próximo de nós que
podemos ser felizes, e amáveis, pois a alegria do coração faz transparecer no
exterior e torna-se amabilidade, torna-se ternura que flui no relacionamento
com os irmãos.
Mas a Palavra de hoje vai ainda
mais longe. Não apenas o Senhor está próximo de nós, mas ainda mais, isto é,
está próximo de nós como uma mãe! “Isto
diz o Senhor: “(...) Sereis amamentados, carregados ao colo e acariciados sobre
os joelhos. Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei”,
garante a primeira leitura (Is
66,10-14c).
Na verdade, não há na natureza
nenhum outro relacionamento mais íntimo e profundo do que aquele que se
estabelece entre mãe e filho. A mãe que traz o filho dentro de si, que cuida
dele como um tesouro no “baú” do seu ventre. A mãe que gera a vida através da
“porta” da dor.
Uma dor que ela rapidamente
esquece, “por causa da alegria que de
trazer um homem ao mundo” (Jo 16,
21).
A mãe que o nutre no seu seio,
portanto com o seu próprio corpo. É exatamente isso que Deus faz conosco. Deus nos
traz pacientemente nas suas “entranhas maternas”, como nos lembra outra
passagem dos Atos dos Apóstolos: “Nele,
de fato, vivemos, nos movemos e existimos” (17,28).
Deus, como mãe, nos traz à vida
com a dor da Paixão e da Morte do Seu Filho: “Por Ele os filhos da luz renascem para a vida eterna” e “nossa morte foi redimida pela Sua e na Sua
ressurreição ressurgiu a nossa vida (Prefácio
da Páscoa II).
Na realidade, Ele nos nutre
dando-nos o “Pão vivo e verdadeiro
descido do Céu” (Jo 6,52), que
nada mais é do que o Corpo de Cristo, a Sua carne e o Seu Sangue, verdadeira
comida e verdadeira bebida (Jo 6,55).
O amor de Deus, como o amor de
uma mãe, portanto, é como um rio de paz e como uma torrente que corre abundante
para nós, segundo o profeta Isaías.
E é este anúncio que Jesus faz
aos Seus, ordenando-lhes que o precedam ao longo do caminho anunciando: “Em qualquer casa em que entrardes, dizei
primeiro: “A paz esteja nesta casa”! “Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz
repousará sobre eles, se não, ela voltará para vós”!
Trata-se da paz como dom estável,
que não pode ser anulado. Se alguém não for digno dessa paz, ela retornará para
aquele que a oferece e, portanto, não se perderá, tampouco se anulará.
Mas se, pelo contrário, ela for
acolhida, não será contida, e fluirá como um rio para a vida, derramando-se
sobre os irmãos.
É o próprio Jesus que assegura, “Quem crer em mim, do seu interior fluirá
rios de água viva”! E ainda, como
diz a Escritura: “No último e mais importante dia da festa,
Jesus levantou-se e disse em alta voz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba (Jo 7.37-38).
Daí a importância da oração. Ela tem a força e o poder de
tornar-nos arautos da paz. Isso, para que a maternidade da Igreja se estenda,
realmente, até os confins da terra, tanto geograficamente, mas também e
principalmente, daquela terra que todos nós somos e na qual vivem nas “periferias”,
“aqueles que ainda não conhecem o Evangelho e vivem segundo uma lógica mundana”,
como diria o nosso querido Papa Francisco.
Daí, também a importância de ir como
pobres e humildes mensageiros da paz, sem "bolsa, nem sacola, nem sandálias, ir "como cordeiros entre lobos".
Aqui está o aviso de Jesus que o
mais importante é ser mais livres e mais leves, fortes não do poder humano, mas
apenas da graça daquele rio de paz e que urge em ser derramado no coração e a
todo e qualquer lugar.
De fato, há quem se orgulhe dos carros e dos cavalos, mas nós somos fortes no
nome do Senhor nosso Deus (Sl 20,8).
Aqui está, novamente, a liberdade
de acolher na simplicidade a recompensa pelo dom do qual somos portadores.
O que se poderia dar em troca do
dom da paz e que nenhuma riqueza humana poderia comprar? Os ricos e poderosos o
sabem bem, pois muitas vezes estão saciados de bens, mas são pobres de
verdadeira alegria.
Daí, finalmente, os riscos pelos
quais devemos nos afastar de quem se recusa a aceitar e acolher o dom de Deus.
Não se pode perder tempo, porque
a torrente de paz da qual é cheio o coração dos mensageiros de Deus é uma
torrente plena. Na verdade, corre o risco de perder-se se não encontra acolhida
e, portanto, é urgente encontrar um lugar onde possa correr continuamente,
irrigando a terra e produzindo frutos.
E eis que os setenta e dois vão,
voltam vencedores sobre o poder de satanás e, por isso, estão cheios de
alegria. Mas eis que Jesus os corrige. “...
Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque
vossos nomes estão escritos no céu”.
Jesus quer que os Seus discípulos
compreendam que o motivo da verdadeira alegria não deve concentrar-se no
sucesso. Nem mesmo no sucesso da ação apostólica, tampouco na quantidade de conversões
por causa do nosso trabalho, ou de membros numerosos em nossa comunidade, nem mesmo
pelos doentes curados ou pelas pessoas perturbadas pelo espírito do mau,
libertadas.
É este o ensinamento que também
Paulo nos dá, na segunda leitura: “Quanto
a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por Ele,
o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo”!
Porque o que conta, de fato é “ser uma nova criatura” e quantos seguirão
esta norma de paz e misericórdia. Nesse caso,
a alegria subsiste até mesmo quando fracassamos. Na verdade, não há outro “fracasso”
- pelo menos diante dos olhos do mundo descrente – maior do que a morte de Deus
na cruz!
Isso, porque funda suas raízes na
consciência que fomos salvos, libertos e agraciados, justamente, pela morte de
Jesus, e que por isso mesmo, há um lugar que nos espera nos céus e que Ele
mesmo nos preparou.
Motivo de alegria plena
é ser habitado pela Sua paz. Aquela paz que, em Seu nome, qualquer pessoa pode
nos dar e ao mesmo tempo, aquela paz que nenhuma pessoa pode destruir ou roubar
de nós, mesmo se for acolhida pelos irmãos a quem a levamos, retornará a nós. E ninguém poderá tirar a nossa alegria (Jo 16, 22). (Frei Alfredo Francisco de
Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.br
– www.inacianos.org.br).
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