(Liturgia
do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)
Neste Décimo Sétimo Domingo do
Tempo Comum é impossível deixar de pensar na grandeza e no sentido da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) que
está acontecendo no Rio de Janeiro. Como disse nesses dias o Santo Padre, o
Papa Francisco, o Rio de Janeiro se tornou o centro da Igreja.
São milhares de milhares de
jovens que, depois de uma semana missionária riquíssima de encontros, de sinais
de partilha e comunhão, de abertura ao diferente nas mais diversas expressões
culturais dos mais diferentes países do Planeta, unindo-se na oração e na
fraternidade, enche o mundo de esperança.
A JMJ é um daqueles eventos que põe o olhar do mundo inteiro, tanto
dos que crêem como dos que não crêem em Deus, na esperança.
Todos nós temos necessidade dessa
esperança, principalmente num tempo em que experimentamos duras crises e tanta
falta de esperança.
É nesse contexto eclesial que a
liturgia de hoje nos convida a olhar mais uma vez para Jesus, enquanto Ele
reza, depois de ter-nos colocado no caminho do Bom Samaritano, exigindo de nós
uma atitude de amor diante do sofrimento alheio e depois de fazer-nos “entrar”
com Ele, por um momento, na casa de Marta e Maria para lembrar-nos que não
existe ação, ainda que seja a mais nobre e ainda que fundamentada na caridade,
que não parta da escuta da Sua Palavra, hoje o Senhor nos dá, mais uma vez, o
fundamento do sentido de escutá-Lo. Trata-se da oração na esplêndida dimensão
da amizade.
Todos nós experimentamos o que
significa rezar. Desde os que vivem em um contínuo relacionamento com Deus, até
àqueles que elevam aos Céus uma simples invocação. Todos rezam! Seja quem se
lembra de rezar só nos momentos de dificuldade, ou seja quem se lembra de
agradecer a Deus por tudo, todos os dias. A oração, indiferente da forma que se
exprima é uma expressão essencial da nossa vida. Não podemos viver sem rezar.
Inclusive para quem não consegue
e/ou não quer encontrar momentos de encontro com Deus é esquecida a dimensão
profunda da oração, porque rezar é a nossa pobreza de criaturas com a sua
necessidade nunca satisfeita de verdade, de amor, de beleza e de paz. Não há
quem não busque, mesmo inconscientemente verdade, amor, beleza e paz! Santo
Agostinho, comentando o Salmo 37, encontra esta belíssima expressão: “O teu desejo é a tua oração”.
Cada ser humano é uma oração viva
e forte. Às vezes, em forma de um grito e às vezes, em forma de um pedido de
socorro.
“Senhor, ensina-nos a rezar”, os discípulos pedem a Jesus. Na
verdade, este pedido não diz respeito tanto ao valor da oração, que não está em
discussão, mas ao modo como se deve rezar.
Mas como deveriam rezar os
discípulos de Jesus, de modo a se distinguirem dos discípulos dos outros
mestres, sobretudo dos discípulos de João que, talvez, rezavam de uma forma
muito mais elaborada e articulada?
Na verdade, o pedido dos
discípulos a Jesus “esconde” outro desejo. Como poderiam rezar de modo que a
sua experiência fosse parecida com a experiência de Jesus que, todas as vezes
que entrava em oração, mesmo de noite, revelava um semblante luminoso e
iluminado, como se deixasse transparecer uma alegria indescritível?
Jesus responde à pergunta dos
discípulos, talvez, desapontando-os um pouco, porque a oração que lhes sugere é
simples, aparentemente elementar.
Na realidade, a oração ensinada
por Jesus, que se tornou um dos tesouros mais preciosos da nossa fé, encerra
toda a beleza do Seu Evangelho.
O que este breve texto tem de
extraordinário que nos faz a repeti-lo tantas vezes, infelizmente, nem sempre
com a mesma compenetração e comoção que deveria tomar-nos cada vez que, como
criaturas, “ousamos dizer” ao Criador, Pai, “papai”?
Esta é a primeira extraordinária
revolução da oração do “Pai nosso”. Isto é, a confiança filial, a possibilidade
de se dirigir a Deus como filhos se dirigem ao pai mais amoroso, é a verdadeira
revolução no exemplo do relacionamento que Jesus tem com o Pai.
Alegrar-se com o verdadeiro rosto
de Deus, o rosto do Pai é a maior graça porque, se Deus fosse um Deus terrível
para nós, mais “patrão” do que Pai viveríamos debaixo de um medo incessante e
de uma tristeza sem igual!
Na primeira leitura (Gn 18,20-32) vimos que Abraão já se liberta desse medo de Deus
quando ousa dirigir-se a Deus “negocia” com Ele, com a
confiança e a coragem de um amigo íntimo, em favor de duas cidades ameaçadas de
extinção por causa de seus crimes.
Com a voz da sua oração, na
verdade, Abraão está dando voz ao desejo de Deus que não é o desejo de
destruir, mas de salvar; que não é de punir, mas de perdoar.
É justamente porque, não apenas
em Sodoma e no AT, mas em todas as cidades em que vivemos e hoje, como também
em todas as épocas da história, nunca se encontrará um homem plenamente justo.
Foi necessária a Encarnação para
que houvesse entre nós um homem plenamente justo e, por isso, Deus mesmo fez-se
homem.
Haverá para nós para sempre o justo,
porque Ele, o Inocente, trouxe salvação ao mundo inteiro morrendo na Cruz,
dando a vida a todos nós, como lembra Paulo aos Colossenses na segunda leitura (2, 12-14) “Existia contra nós uma
conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a
eliminou, pregando-a na cruz”.
É por isso que a oração de cada
homem encontra a sua resposta. Cada uma das nossas intercessões serão sempre
ouvidas, porque Jesus nos revelou o rosto do Pai. Esta é a prova do cumprimento
seguro de cada oração.
Na história de amizade, narrada na
parábola no Evangelho deste domingo (Lc
11, 1-13), Deus dá a quem pede, ajuda a quem procura encontrar, abre a quem
bate, porque é verdade, Ele é um bom Pai.
Mas é preciso ter muito! O Evangelho não nos diz que devemos pedir uma
coisa e nos será dada. Diz apenas, “pedi e recebereis”.
Com certeza, muitas vezes, nós
pedimos e não recebemos. Talvez,
Deus não tenha nos dado o que pedimos, mas, com certeza, nos surpreendeu! Basta olharmos para as nossas lutas do passado, para tudo o que já superamos para percebemos que foi Ele quem nos deu a força necessária para enfrentar as experiências difíceis. Basta prestarmos um pouco mais de atenção nas mais diversas situações da nossa vida, para perceber que Ele também nos deu forças para crescermos na fé! Deu-nos aquela esperança que vai além das maiores dores, inclusive a dor da morte de uma pessoa querida.
Deus não tenha nos dado o que pedimos, mas, com certeza, nos surpreendeu! Basta olharmos para as nossas lutas do passado, para tudo o que já superamos para percebemos que foi Ele quem nos deu a força necessária para enfrentar as experiências difíceis. Basta prestarmos um pouco mais de atenção nas mais diversas situações da nossa vida, para perceber que Ele também nos deu forças para crescermos na fé! Deu-nos aquela esperança que vai além das maiores dores, inclusive a dor da morte de uma pessoa querida.
Jesus não nos promete a cura
quando estamos doentes ou a nota máxima em um exame que fazemos na escola. Tampouco
nos promete uma promoção, uma bela carreira profissional com um salário alto.
Aqui fica um alerta para
evitarmos o perigo da superstição que verificamos quando percebemos que muitos
pensam que basta acender uma vela ou apegar-se a qualquer devoção, para conseguiremos
despertar um Deus que, caso contrário, estaria ausente ou indiferente da nossa
vida e às nossas necessidades. Jesus não nos promete as coisas que queremos,
mas nos promete muito mais! “(...) Quanto
mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”.
Mas por que o Espírito Santo?
Porque é o Espírito Santo que pode revelar-nos o verdadeiro rosto de Deus,
rosto de um Pai que permanece ao nosso lado com a ternura que nenhum pai e
nenhuma mãe seriam capazes de demonstrar ao seu próprio filho.
Nessa relação afetuosa e confiante
com o Pai somos capazes também de descobrir a alegria da fraternidade.
Reconhecer-nos filhos significa saber que temos irmãos. Aliás, pensando na
parábola contada por Jesus, a propósito da oração, como seria bom que como
irmãos, ao anoitecer de cada dia pedíssemos ao Senhor o pão da Sua presença e
da Sua ternura para todas as pessoas que encontramos durante o dia, seja para
as pessoas que sofrem, que se desesperam, que buscam e procuram, que rezam sem
nem mesmo saber o que pedir.
Rezando com esta intenção, com
certeza, receberemos também a graça de perseverar, de insistir e de tornar-nos
“incômodos” mesmo, como um amigo que bate à nossa porta no meio da noite.
Deus estará sempre acordado e
alerta: “Batei e vos será aberto”! É
ele quem se disponibiliza a abrir a porta quando batermos, mas, na verdade, é
Ele quem bate na porta do nosso coração, nos avisa a maravilhosa passagem do
Apocalipse: “Eis que estou à porta e
bato. Se alguém escuta a minha voz e me abre a porta, entrarei e juntos faremos
refeição” (3, 20).
Na verdade, só o fato de batermos
à Sua porta já é um grande sinal de que nos abrimos a Ele, e este já é também
um sinal de que a nossa oração já foi ouvida. O simples fato de rezar já é um
fruto do dom da Sua presença.
Olhando para a multidão dos
jovens no Rio de Janeiro e sustentados pela força de esperança que nesses dias está
concentrada no nosso Brasil, na JMJ, reencontramos
a coragem, a beleza, a dignidade, a alegria e a simplicidade da amizade com
Deus que, como Pai, acolhe a nossa oração. (Frei
Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.br
– www.inacianos.org.br).