(Liturgia do Décimo Sexto Domingo do Tempo
Comum)
A Palavra
de Deus nos apresenta neste Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum, Jesus como o
Pastor bom, verdadeiro, atencioso e guia seguro para o Seu rebanho.
Na primeira
leitura profeta Jeremias (26,1-3) nos apresenta um rebanho disperso, confuso e
dividido por causa do desinteresse ou da maldade dos pastores aos quais tinha
sido confiado. “Ai dos pastores que
deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem"! Fica muito claro que o rebanho é propriedade
do Pastor Supremo e não dos pastores!
É terrível
a maldição de Deus para os falsos e maus pastores, para os impostores, para
quem escandaliza e desvia o rebanho!
A cada um de
nós é confiado um “pequeno rebanho”. A família, os amigos, os colegas de
trabalho etc. Em todos esses ambientes podemos ser fieis testemunhas do amor de
Deus ou, pelo contrário, apossar-nos e aproveitar-nos tanto das pessoas como
das situações de acordo com o nosso próprio interesse.
O pressuposto fundamental para que alguém seja um
bom pastor é o de preocupar-se com as ovelhas que lhe são confiadas. Tomar
cuidado das suas necessidades, das suas fragilidades e aspirações.
No
Evangelho (Mc 6,30-34) deste domingo Jesus parece quase ver o rebanho descrito por
Jeremias e, olhando-o com ternura infinita, se comove!
Mas nós,
cristãos deste século, homens deste tempo temos, de fato, necessidade de um
pastor? Somos mesmo semelhantes à ovelhas perdidas e confusas? Não seria
ofensiva essa comparação ao homem moderno que desvendou tantos segredos da
natureza, da ciência e até mesmo do sobrenatural? É claro que a primeira e imediata resposta dada por cristãos
verdadeiros é que sim! Sem dúvida, temos ainda necessidade de um ponto de referência,
de um guia, um farol no qual basear a rota da nossa vida e da nossa existência,
de modo a reduzir o risco de nos perdermos.
Portanto, há sim, a necessidade de uma moral, uma
filosofia divina ou um ideal. O risco aqui é o de trocar a necessidade de ter o
Pastor como referência e paradigma pelas “cercas” que podem dar segurança ao
rebanho.
É preciso lembrar que as “cercas” que dão segurança
ao rebanho são apenas o abrigo das ovelhas durante a noite. O resto do dia o
rebanho corre e caminha livre pelos pastos, onde cada ovelha vive ao seu modo
sob o olhar atento do Pastor que sabe reconhecer a cada uma individualmente, ao
ponto de chamá-la pelo nome.
Infelizmente, como sempre, não há alternativa: ou
seguir o Pastor, ou perder-se, correndo o risco de vir a ser devorado pelos
lobos.
A nossa
profunda necessidade do Pastor se revela nos momentos das perdas irreparáveis e
das dificuldades na vida. É quando descobrimos que somente Ele é capaz de
enfrentar as noites escuras e os caminhos acidentados para procurar-nos,
resgatar-nos e curar nossas feridas.
É
justamente quando a ovelha está mais perdida que o Pastor Bom e verdadeiro
estará mais próximo! Nesses momentos o ser humano, ovelha ferida, tem
necessidade de um encontro e não de teorias, explicações e conceitos! Nesses momentos
terríveis da vida, somente aquele que é Bom Pastor, que vem procurar para carregar
o peso das nossas misérias e das nossas dores, pode salvar-nos do desespero.
Jesus queria parar um pouco para descansar com os
seus discípulos, mas “viu uma numerosa
multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas que não tem pastor”.
Ele consegue enxergar no mais profundo da alma de
cada homem e de cada mulher, a imensa sede de Deus. Consegue ver no mais
profundo de cada ser uma imensa necessidade de verdade, de resgate e de sentido
da vida!
E então, começa a ensinar-lhes. Recomeça a guiá-los
um a um, para que todos, sem exceção, sejam salvos. O Bom Pastor, no entanto, não se limita
a guiá-los com o Seu ensinamento. Ele compreende, não condena, protege e cura
cada uma das ovelhas, ainda que tivessem fugido e ido para longe dele! Então,
Ele as cura e doa a Si mesmo, diferentemente dos maus pastores denunciados na
primeira leitura pelo profeta Jeremias, que são o motivo das feridas nas ovelhas!
Jesus, o
Bom Pastor, cuida de suas ovelhas, sacrificando-Se a Si mesmo! Ele se oferece
como “presa” para satisfazer o apetite do “lobo” e manter o Seu rebanho salvo,
definitivamente, da boca do predador feroz.
Ao
oferecer-Se em sacrifício na cruz, Jesus o Bom Pastor, reúne as Suas ovelhas
marcando-as com o Seu sangue precioso e tornando-as dignas do Paraíso. Destrói,
assim, como escreve São Paulo na segunda leitura (Ef 2, 13-18) a inimizade, o
“muro da separação” e o medo.
Graças ao
Seu sangue derramado na cruz, a divisão do rebanho e a divisão entre o rebanho
e Deus, foi superada para sempre. Ele re-pacifica com o sacrifício redentor, a
humanidade inteira consigo mesma e com Deus.
É por isso
que temos necessidade de um Pastor. Sozinhos, certamente, nos perderemos e não
conseguiremos vencer o mal que se agita dentro e em torno de cada um de nós.
Mas incorporados em Cristo, como os ramos na videira e como os membros no
corpo, com a sua Graça santificante é que vencemos o “bom combate”. Com o
salmista podemos então rezar: “Felicidade
e todo o bem hão de seguir-me por toda a minha vida”! (Frei Alfredo
Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br
– Website: www.inacianos.org.br).
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