(Liturgia
do Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum)
Estamos tão acostumados com
algumas convenções no dia a dia, que nem sempre temos consciência de como e
porque repetimos certos hábitos, gestos e palavras.
Isso também acontece quando
pedimos desculpas ou agradecemos. Não é raro fazer ou presenciar pedidos de
desculpas ou agradecimentos de um modo formal. Na verdade, algumas vezes,
ficamos com a impressão de que são expressões usadas como uma obrigação, porque
assim se deve proceder, superficialmente.
Diante das leituras deste
Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum pergunto-me como eu mesmo pronuncio
estas palavras? Como expresso as desculpas que peço ou a gratidão que sinto? Será
que eu sei agradecer sinceramente, de coração? Será que eu sei pedir desculpas
de verdade, e não só porque é algo que devo fazer, por educação?
A Palavra de Deus hoje nos mostra
o exemplo de dois pagãos que sabem agradecer, de verdade. Pra falar a verdade, a
primeira leitura (2Rs 5, 14-17)
apresenta o agradecimento de um pagão famoso, de alto nível social. Trata-se de
Naamã, o sírio que foi agradecer a Eliseu a cura recebida, com toda a sua comitiva.
Mesmo sendo “famoso”, ele retorna
com humildade diante do homem de Deus e, ao pedir um pouco de terra para levar
para a sua pátria demonstra que, de fato, converteu-se à fé do profeta Eliseu,
que lhe concedeu o favor da cura.
É este homem pagão que nos ensina
que agradecer significa muito mais do que dizer algumas palavras da “boca pra
fora”. Agradecer é uma ação fundamental da prática cristã. É a fonte e o cume
de tudo aquilo que significa a liturgia, haja vista ser a própria Eucaristia um
ato de agradecimento, pois ela é, em primeiro lugar Ação de Graças.
Parece que aquele que sabe
agradecer por tudo aquilo que recebe, portanto, aquele que o faz de todo o seu coração,
só este ama de verdade e, conseqüentemente, é amado por todos.
A gratidão é o teste decisivo
para saber como e quanto alguém ama. Quem não sabe amar desinteressadamente, jamais
saberá agradecer.
Neste ponto, surgem outras perguntas
provocativas: você já sentiu na pele, portanto, já experimentou, o quanto se
sente bem quando alguém agradece mesmo por algo simples e pequeno que você fez?
Ou mais concretamente ainda, alguma vez na vida alguém lhe agradeceu por algo
que você fez a uma terceira pessoa? É uma dádiva! Agradecer pelo bem que outro
recebeu!
Geralmente, na família, entre
parentes e amigos também se agradece. Diz-se, por exemplo, “obrigado pela
ajuda que me prestou ou por algo que me deu”, deixando claro que haverá,
certamente, ocasião para retribuir.
Na verdade este é um
agradecimento que também os pagãos fazem, disse Jesus, noutra ocasião, mas não
é um agradecimento que “aquece” o coração. Na verdade, é um agradecimento
motivado por algum interesse.
A gratidão é também o assunto do
ensinamento de Jesus no quadro do Evangelho de hoje (Lc 17, 11-19). Diz respeito aos dez leprosos curados e ao retorno
de apenas um (pagão) para agradecer.
Diante disso, Jesus pergunta onde
estariam os outros nove que também receberam a cura. Com isso não está lamentando
o fato de que esses ex-leprosos ingratos não voltaram para agradecê-Lo.
O que Ele lamenta é o fato de
que, justamente, os ingratos eram judeus, membros do povo escolhido e,
portanto, deveriam ser os primeiros a voltar e a louvar a Deus em alto e bom
som.
Jesus se entristece porque
aqueles seus conterrâneos viviam sob o pretexto de que o próprio Deus lhes devia
tudo e, por isso, não havia necessidade de agradecer o que haviam recebido,
nesse caso, a cura, por retribuição.
Mas se é assim, por que, então,
Jesus realizou o milagre também para esses ingratos? Porque com a Sua Encarnação
Jesus quer nos mostrar a face de um Deus que conhece a cada um de nós; um Deus
capaz de diminuir o Seu passo para acompanhar os nossos passos lentos; um Deus
que usa uma linguagem que podemos compreender.
É exatamente o Deus que Jesus
revela que Paulo nos lembra na segunda leitura de hoje (2Tm 2, 8-13): “se Lhe somos infieis, Ele permanece fiel”!
Isto é, mesmo se falharmos Ele
manterá a Sua Promessa para sempre. Sua Aliança conosco não tem como fundamento
a nossa fidelidade. Como já dissemos noutra ocasião, o amor fiel de Deus é um amor
desproporcional.
Portanto, Deus não nos perde,
largando-nos à nossa própria sorte, tateando à mercê de nós mesmos e do mundo.
Pelo contrário, incansavelmente tenta fazer com que levantemos o nosso olhar da
terra para o céu, nosso lar. Aliás, foi o que o samaritano fez quando foi
curado. Tão logo se percebeu curado tirou suas próprias conclusões, saiu de si
mesmo, levantou o olhar para o infinito de Deus e logo soube que havia recebido
algo que o mundo não poderia lhe dar.
Quanto aos nove ingratos, uma
pergunta que não quer calar: se não retornaram para agradecer a Jesus, aonde
foram? O Evangelho não informa. Não saberemos. O que podemos dizer é que eles
não sabiam dar graças a Deus de verdade e que, provavelmente, faziam parte do
tipo de pessoa que acredita que todos lhes
devem tudo!
De qualquer forma, os ingratos
que receberam tanto, perderam a oportunidade de dar um testemunho verdadeiro da
sua fé e da intensidade do seu amor. Na verdade, esta é a atitude de quem é
grato, pois a gratidão gera testemunho de amor! De fato, um agradecimento sincero,
ou seja, feito desinteressadamente, é mesmo uma graça!
Um agradecimento sincero aquece o
coração e o enche de coragem e de esperança. Realmente, aqueles que sabem
agradecer fazem verdadeiros milagres. Dizer “muito obrigado” de todo o coração
pode transformar muitas coisas!
Creio que hoje podemos pedir ao Senhor
que nos dê a graça de saber agradecer de verdade. Porque só desta forma podemos
viver com o coração sereno e cheio de paz... Como o coração de filhos e filhas.
Que possamos perceber o que Deus
fez e faz por nós, em nossa vida, nossa história e descubramos que também nós
fomos e somos muitas vezes curados. Afinal, encontramos tanta gente de bom
coração nas estradas desta vida, tanta generosidade e dons recebidos a todo o
momento.
Finalmente, reconheçamos que, muitas
vezes, Ele estava ao nosso lado para nos ajudar e abramos o nosso coração para
louvá-Lo e para agradecer o quanto Ele é fiel a nós. Muito obrigado por receber
e partilhar comigo as reflexões semanais. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário
Inaciano – www.inacianos.org.br –formador@inacianos.org.br).
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