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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

“ATIROU-SE AOS PÉS DE JESUS E LHE AGRADECEU”

(Liturgia do Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum)

Estamos tão acostumados com algumas convenções no dia a dia, que nem sempre temos consciência de como e porque repetimos certos hábitos, gestos e palavras.
Isso também acontece quando pedimos desculpas ou agradecemos. Não é raro fazer ou presenciar pedidos de desculpas ou agradecimentos de um modo formal. Na verdade, algumas vezes, ficamos com a impressão de que são expressões usadas como uma obrigação, porque assim se deve proceder, superficialmente.
Diante das leituras deste Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum pergunto-me como eu mesmo pronuncio estas palavras? Como expresso as desculpas que peço ou a gratidão que sinto? Será que eu sei agradecer sinceramente, de coração? Será que eu sei pedir desculpas de verdade, e não só porque é algo que devo fazer, por educação?
A Palavra de Deus hoje nos mostra o exemplo de dois pagãos que sabem agradecer, de verdade. Pra falar a verdade, a primeira leitura (2Rs 5, 14-17) apresenta o agradecimento de um pagão famoso, de alto nível social. Trata-se de Naamã, o sírio que foi agradecer a Eliseu a cura recebida, com toda a sua comitiva.
Mesmo sendo “famoso”, ele retorna com humildade diante do homem de Deus e, ao pedir um pouco de terra para levar para a sua pátria demonstra que, de fato, converteu-se à fé do profeta Eliseu, que lhe concedeu o favor da cura.
É este homem pagão que nos ensina que agradecer significa muito mais do que dizer algumas palavras da “boca pra fora”. Agradecer é uma ação fundamental da prática cristã. É a fonte e o cume de tudo aquilo que significa a liturgia, haja vista ser a própria Eucaristia um ato de agradecimento, pois ela é, em primeiro lugar Ação de Graças.
Parece que aquele que sabe agradecer por tudo aquilo que recebe, portanto, aquele que o faz de todo o seu coração, só este ama de verdade e, conseqüentemente, é amado por todos.
A gratidão é o teste decisivo para saber como e quanto alguém ama. Quem não sabe amar desinteressadamente, jamais saberá agradecer.
Neste ponto, surgem outras perguntas provocativas: você já sentiu na pele, portanto, já experimentou, o quanto se sente bem quando alguém agradece mesmo por algo simples e pequeno que você fez? Ou mais concretamente ainda, alguma vez na vida alguém lhe agradeceu por algo que você fez a uma terceira pessoa? É uma dádiva! Agradecer pelo bem que outro recebeu!
Geralmente, na família, entre parentes e amigos também se agradece. Diz-se, por exemplo, “obrigado pela ajuda que me prestou ou por algo que me deu”, deixando claro que haverá, certamente, ocasião para retribuir.
Na verdade este é um agradecimento que também os pagãos fazem, disse Jesus, noutra ocasião, mas não é um agradecimento que “aquece” o coração. Na verdade, é um agradecimento motivado por algum interesse.
A gratidão é também o assunto do ensinamento de Jesus no quadro do Evangelho de hoje (Lc 17, 11-19). Diz respeito aos dez leprosos curados e ao retorno de apenas um (pagão) para agradecer.
Diante disso, Jesus pergunta onde estariam os outros nove que também receberam a cura. Com isso não está lamentando o fato de que esses ex-leprosos ingratos não voltaram para agradecê-Lo.
O que Ele lamenta é o fato de que, justamente, os ingratos eram judeus, membros do povo escolhido e, portanto, deveriam ser os primeiros a voltar e a louvar a Deus em alto e bom som.
Jesus se entristece porque aqueles seus conterrâneos viviam sob o pretexto de que o próprio Deus lhes devia tudo e, por isso, não havia necessidade de agradecer o que haviam recebido, nesse caso, a cura, por retribuição.
Mas se é assim, por que, então, Jesus realizou o milagre também para esses ingratos? Porque com a Sua Encarnação Jesus quer nos mostrar a face de um Deus que conhece a cada um de nós; um Deus capaz de diminuir o Seu passo para acompanhar os nossos passos lentos; um Deus que usa uma linguagem que podemos compreender.
É exatamente o Deus que Jesus revela que Paulo nos lembra na segunda leitura de hoje (2Tm 2, 8-13):se Lhe somos infieis, Ele permanece fiel”!
Isto é, mesmo se falharmos Ele manterá a Sua Promessa para sempre. Sua Aliança conosco não tem como fundamento a nossa fidelidade. Como já dissemos noutra ocasião, o amor fiel de Deus é um amor desproporcional.
Portanto, Deus não nos perde, largando-nos à nossa própria sorte, tateando à mercê de nós mesmos e do mundo. Pelo contrário, incansavelmente tenta fazer com que levantemos o nosso olhar da terra para o céu, nosso lar. Aliás, foi o que o samaritano fez quando foi curado. Tão logo se percebeu curado tirou suas próprias conclusões, saiu de si mesmo, levantou o olhar para o infinito de Deus e logo soube que havia recebido algo que o mundo não poderia lhe dar.
Quanto aos nove ingratos, uma pergunta que não quer calar: se não retornaram para agradecer a Jesus, aonde foram? O Evangelho não informa. Não saberemos. O que podemos dizer é que eles não sabiam dar graças a Deus de verdade e que, provavelmente, faziam parte do tipo de pessoa que acredita que todos lhes devem tudo!
De qualquer forma, os ingratos que receberam tanto, perderam a oportunidade de dar um testemunho verdadeiro da sua fé e da intensidade do seu amor. Na verdade, esta é a atitude de quem é grato, pois a gratidão gera testemunho de amor! De fato, um agradecimento sincero, ou seja, feito desinteressadamente, é mesmo uma graça!
Um agradecimento sincero aquece o coração e o enche de coragem e de esperança. Realmente, aqueles que sabem agradecer fazem verdadeiros milagres. Dizer “muito obrigado” de todo o coração pode transformar muitas coisas!
Creio que hoje podemos pedir ao Senhor que nos dê a graça de saber agradecer de verdade. Porque só desta forma podemos viver com o coração sereno e cheio de paz... Como o coração de filhos e filhas.
Que possamos perceber o que Deus fez e faz por nós, em nossa vida, nossa história e descubramos que também nós fomos e somos muitas vezes curados. Afinal, encontramos tanta gente de bom coração nas estradas desta vida, tanta generosidade e dons recebidos a todo o momento.
Finalmente, reconheçamos que, muitas vezes, Ele estava ao nosso lado para nos ajudar e abramos o nosso coração para louvá-Lo e para agradecer o quanto Ele é fiel a nós. Muito obrigado por receber e partilhar comigo as reflexões semanais. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br –formador@inacianos.org.br)


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