(Liturgia do Vigésimo
Sétimo Domingo do Tempo Comum)
Já estamos perto do encerramento do Ano da Fé, que será na Solenidade de
Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, dia 24 de novembro.
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Fé é, de fato, a palavra chave das três leituras de hoje. Para ser mais exato, lidas através da chave
interpretativa da fé como espera.
Por outro lado esta é a fé exigida à Igreja desde o início de sua
peregrinação, inaugurada com Ascensão de Jesus ao Céu. “Este Jesus, que do meio de vós foi elevado ao céu, virá do mesmo modo
no qual vós vistes subir ao céu” (At
1, 11), garantiram os anjos aos Apóstolos.
Desde então, toda a Igreja orientada para o momento daquele encontro,
continuamente celebra a morte do Senhor, proclama a Sua Ascensão e
Ressurreição, na espera de Sua vinda.
É esta espera que ilumina os passos de sua peregrinação terrena, ou
melhor, que faz com que o seu caminhar não seja apenas um passeio desorientado,
mas uma verdadeira peregrinação, com um destino certo e um lugar de luz e
glória. "Ela virá" –
assegura a liturgia de hoje – "não
tardará!".
Na primeira leitura (1,2-3; 2,2-4),
o profeta Habacuc faz ressoar a voz de um povo exausto por causa da guerra. Diante
disso, não seria demais pensar nas imagens de violência que nos assustam insistentemente
há meses, ultimamente. Diante de tanta violência um grande profeta dos nossos
tempos, o papa Francisco adverte: “a
guerra está gerando situações de cansaço moral, físico, psicológico e
espiritual insuportável... a oração pela paz parece não chegar ao céu. Nessa
conjuntura é natural perguntar: "onde está Deus?"…O nosso grito sincero é a resposta ao grito mais sincero de Deus ainda:
"E tu, homem, onde estás?" (Gen3
9). Sim, porque Deus nunca se distancia do homem. Pelo contrário, é muito
mais o homem que se extravia tragicamente do caminho de Deus.
Na verdade, há um limite para o mal e para o sofrimento que o mal gera.
A visão do profeta garante um fim ao mal, quando se refere a um prazo.
Mas somente ao justo será concedido contemplar o cumprimento da visão,
enquanto aquele que não é correto e não é justo, vai morrer. O justo é justo
porque é justificado pela fé em Cristo
(Gal 2,16).
Portanto, o justo é alguém que vive da fé e pela fé. O desonesto sucumbe
diante das forças adversas, porque não é sustentado pela fé. Vive somente o
“aqui e agora”. Não consegue olhar para além das evidências, para um horizonte
de luz, certamente distante, porém certo.
É um horizonte certo porque o Senhor não pode mentir e, se disse que
virá, com certeza, virá. E ainda mais, é igualmente certo que virá, mesmo “que
sejamos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-se a Si mesmo” (2Tm 2,13).
Mas para quem está reservado este dom da fé? Talvez para poucos eleitos.
Alguns leigos chegam até mesmo a considerar as pessoas consagradas no
sacerdócio ou na vida religiosa como eleitos para esse dom da fé. Chegam, às
vezes, até a nos dizer: “felizes são vocês que tem fé”... E por isso, quando
pedem a nossa oração, confiam que será mais ouvida por Deus.
Na verdade, na segunda leitura (2Tm
1,6-8.13-14), quando Paulo se dirige a Timóteo, dirige-se a um Apóstolo, contudo, o Concílio Vaticano II nos ensina que “a todos coube a mesma fé pela justiça de Deus” (LG 32).
Portanto, o dom da fé é para todos nós, porque todos nós fomos consagrados
no Batismo como reis, profetas e sacerdotes, todos fomos chamados a ser
apóstolos na força da vocação batismal. Cada um no seu “estado de vida”.
Somos todos, portanto, depositários de um “dom”, de um “bem precioso”
que nos foi confiado. Este dom não deve ser apenas “guardado”, isto é, cuidado,
mas também reavivado, renovado.
Mas como reavivar o dom da fé? Cada virtude cresce na medida em que é
exercitada, assim como os talentos da parábola dão frutos a quem sabe
trabalhá-los.
Só é possível guardar o precioso dom da fé se o reavivamos, só é
possível renová-lo exercitando-o através de contínuos atos de fé.
O Espírito Santo nos ajuda, assegura São Paulo. Quanto a nós cabe a
tarefa de ir além dos nossos medos, para viver com “força, caridade e prudência”. Trata-se de ir além, não somente além do
real, enxergando aquilo que ainda não se vê, mas também além do nosso
sentimento diante da realidade, na certeza de que, pelo Batismo, fomos
“equipados” para fazer esse “salto”.
Neste ponto surge também em nós o pedido espontâneo dos apóstolos que
aparece no Evangelho de hoje (Lc
17,5-10): “Senhor, aumenta a nossa
fé!” É como se quisessem dizer: “Se tu não nos ajudas, Senhor, como
faremos?” Como fazer crescer a semente da fé semeada em nós pelo Batismo?
Jesus, paciente como sempre, explica que a fé não é uma questão de
quantidade, de quem entre os batizados a tem mais ou menos, porque todos fomos
“equipados” do mesmo modo. Explica também que o dom é igual para todos e
completo, desde o início.
Já dissemos que o problema não está apenas em fazê-lo crescer, mas em
cuidar e renovar o dom que já recebemos abundantemente no batismo.
Se é verdade que basta tê-lo como um grão de mostarda, quanto mais
poderá ser o fruto da semente maior daquele semeador tão generoso que semeia
mesmo à beira do caminho, no terreno pedregoso e no meio dos espinhos! (Mt 13,3ss).
O problema é que não sabemos esperar. Queremos as respostas aqui e
agora. Não experimentamos lançar o olhar do coração e da mente para um horizonte além, prometido com a certeza da sua
realização, mas que deve ser esperado porque nos será dado no tempo certo.
O patrão que pede ao seu servo que o sirva, como recompensa, mesmo
depois de chegar cansado do trabalho, é aquele mesmo que um dia “ao encontrar os servos acordados... ele
mesmo vai arregaçar sua veste, os fará sentar à mesa e passará para servi-los” (Lc 12,37).
Mas isso vai acontecer "na hora em que menos se esperar". Isto
é, naquela hora bendita pela qual toda a Igreja anseia. Trata-se da hora do
filho do homem (Lc 12,40): “Na hora em que menos pensais, virá o Filho
do Homem!”
Mas então, não haverá recompensa para o presente? Na verdade, é preciso
conceber o nosso serviço como o serviço de servos inúteis. Essa não é uma
imagem agradável de se aceitar... servos que trabalham sem uma utilidade e sem
gozar já da recompensa devida pelo seu trabalho. Servos que deveriam, na
verdade, agradecer por poderem servir a um Senhor como o nosso Senhor.
No entanto,
Jesus assegura a Pedro que, como nós, estava preocupado com a recompensa do seu
serviço ao Reino, “Todo aquele que tiver
deixado casa, mulher, irmão, pais ou filhos por causa do Reino de Deus,
receberá muitas vezes mais no presente e, no mundo futuro, a vida eterna” (Lc 18, 29-30).
Então, há sim
uma recompensa! Tanto para hoje, isto é, para a vida presente, mas não só, há
uma recompensa também para a vida futura. Trata-se do “muito mais’! Não significa
simplesmente de ter o privilégio de servir a um rei tão grande como o nosso.
Diz respeito
também ao aqui, isto é, à vida presente e, a saber, também enxergar mais além. Para
além das “reivindicações sindicais” do nosso próprio eu, além da nossa lógica,
às vezes tão mesquinha, para compreender quem é o destinatário final do nosso
serviço, da nossa doação. Então, poderemos nos alegrar conscientes de que fomos “chamados a servir a um Rei a quem servir é reinar” (LG 36). (Frei Alfredo Francisco de Souza,
SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br
– formador@inacianos.org.br).
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