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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

QUEM PODE OU NÃO SER MEU DISCÍPULO?

(Liturgia do Vigésimo Terceiro do Tempo Comum)
Quando se decide colocar um projeto em prática ou cumprir uma missão é oportuno, e por que não dizer fundamental, fazê-lo tendo consciência das próprias capacidades.
Antes de tudo é necessário ter a humildade e a coragem de analisar, examinar, calcular o quanto a pessoa está disposta a colocar em jogo tudo o que até momento em que decide assumir um projeto grandioso era o seu estilo de vida.
Trata-se de um repensar os valores fundamentais que, até aquele momento, inspiraram os pensamentos, os sentimentos e as ações, até chegar à tomada da decisão.
Nesse sentido é indispensável também fazer um discernimento entre as “perdas” e “ganhos” e considerar, sem muitos rodeios, a própria capacidade de fazer sacrifícios, assumindo o novo passo sem medo de encarar a si mesmo, nem a ninguém, sem lamentações e sem medo de ser julgado pelos outros.
Quem decide colocar um novo projeto em prática ou assumir uma nova missão, precisará ter coragem de fazer certa “revolução” na própria vida. Isso será sempre necessário, tratando-se de pequenos projetos, como por exemplo uma viagem turística ou coisa parecida ou, principalmente, tratando-se de projetos existenciais maiores.
No caso dos grandes projetos existenciais ou de grandes missões é necessário encarar-se a si mesmo seriamente e perguntar-se qual a “motivação” profunda que move a própria vontade e qual será o fim, isto é, a meta que se pretende atingir.
Esses questionamentos são importantíssimos para evitar o risco do desânimo ou do abandono do primeiro sonho, do primeiro ideal ou do primeiro amor porque, diante das primeiras dificuldades ou das dificuldades que nos ferem quanto aos sonhos e projetos, temos a tendência de esquecer a motivação que nos lançou para que os assumíssemos, por causa das inevitáveis dificuldades que encontramos ao longo do caminho.
Portanto, é importantíssimo perguntar-se a cada dia “eu fiz por causa de quem”? Antes que sejam os outros a fazerem a pergunta, talvez, com uma ironia magistral, como se diz comumente: “quem mandou fazer”? Como Jesus ensina na parábola do Evangelho de Lucas (14,25-33) deste Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum: “Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar”!
É justamente sobre esta dinâmica que o Evangelho deste domingo lança a sua luz para esclarecer a “escolha do projeto” do seguimento Jesus.
Não é curioso perceber como tal esclarecimento acontece “no caminho”, como em tantas outras ocasiões, e que a motivação seja o fato de que “grandes multidões acompanhavam Jesus”? Não é curioso que tenha sido provocado por um evento banal, por causa das pessoas que seguiam Jesus, talvez com as mais diversas motivações e, talvez, sem se questionarem muito sobre a própria “finalidade” de O estarem seguindo?
O fato é que Jesus, vendo a multidão que O seguia “voltando-se, lhes disse: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”!
Ao invés de ficar lisonjeado por causa do sucesso e da popularidade, como tantos líderes religiosos que arrastam multidões hoje ficariam, Jesus apresenta severas condições para aqueles que querem escolher o projeto do Seu seguimento.
Ele não teme que O abandonem ou que o número dos Seus seguidores diminua como, de fato, aconteceria mais tarde. Afinal, o Seu único compromisso é com o Reino e não, com o sucesso!
Ao apresentar as condições Ele o faz com o Seu estilo “paradoxal” arriscando, quando está em jogo a causa do Seu Reino, como sempre, ser incompreendido e/ou recusado.
 Seguir Jesus não é como fazer um passeio turístico onde escolhemos tudo ao nosso sabor e de acordo com os sentimentos, como quando fazemos o que queremos, estipulamos as horas e os momentos, o tempo e os destinos, de acordo com o que sentimos a cada momento.
Tampou é como fazer uma peregrinação onde há sempre algum pequeno sacrifício a suportar, mas depois sempre se volta para o conforto de casa.
Seguir os passos de Jesus envolve uma inversão radical da própria perspectiva de vida, o que implica um preço a pagar pessoalmente, e diz respeito a ter sempre como um parâmetro para seus pensamentos, suas emoções e as próprias ações, a grande causa do Reino de Deus.
Implica, portanto, compreender que “o discípulo de Cristo já não se pertence mais”, como nos ensina Santo Inácio de Antioquia ao justificar sua adesão radical a Cristo, abraçando o martírio.
Seguir os passos de Jesus é uma escolha sem volta, um percurso sem saída em que não seria possível ter um “plano B” em mente, como nos dizia um pregador há pouco tempo. Vai contra a radicalidade da escolha pelo projeto! De fato, é uma escolha que requer ascese.
Na verdade, trata-se de um percurso que, mais ou menos lentamente, conduz ao ponto mais alto onde está situada a Cruz, e não um divã: “Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.
 Somente esta “referência” constante, depois de ter calculado e examinado bem as próprias capacidades, com a graça do Espírito Santo, poderá evitar que os seus discípulos vacilem, batam em retirada, ou vivam fazendo lamentações ou reclamações crônicas dizendo “ah, se eu soubesse antes...ou eu não imaginava que seria tão difícil”! Afinal, “qual é o construtor que vai construir uma torre e não se senta primeiro e não calcula os gastos? Ou ainda, qual é o rei que ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil”?
Somente o paradigma constante da grande realidade do Seu Reino, e aqui motivação e finalidade coincidem, permitirá aos discípulos a tomada de decisão diária pela escolha vocacional realizada.
Aliás, é a referência do Reino que fez e faz tantos homens e mulheres vocacionados terem uma confiança total e inabalável, mesmo diante das piores crises, decepções e perseguições.
Assim, Jesus conclui peremptoriamente o Seu ensinamento no Evangelho de hoje: “... portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo”!
É bom prestar atenção nas expressões que denotam o radicalismo evangélico: “qualquer um de vós”, inclusive quem já optou por um caminho de seguimento mais radical, e “renunciar a tudo”, porque se quisermos, realmente, ser seguidores de Jesus é preciso lembrar que não é possível fazê-lo impondo condições e procurando exceções.  
Além disso, é bom lembrar também que o radicalismo evangélico que exige a renúncia de tudo o que se tem, não se refere apenas à materialidade das próprias posses, como familiares, pais, bens e dinheiro, mas se refere, inclusive, à própria ideologia de vida.
Ser discípulo de Jesus envolve fundamentalmente “buscar em primeiro lugar o Reino de Deus”, renunciando mesmo “ter” uma ideia própria e “personalizada” do que venha a ser o Reino de Deus. Afinal, Deus sempre decepciona quem O imagina ao seu modo ou de acordo com as suas próprias lógicas. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.brformador@inacianos.org.br)

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