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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ADMINISTRADORES DOS BENS DO PAI

(Liturgia do Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum)
No domingo passado tivemos a graça de ouvir um Evangelho que soou como um bálsamo curativo para as feridas do coração.
Ao ouvir as parábolas de misericórdia contadas por Jesus, especialmente a do Pai Misericordioso, nos enchemos da esperança e da certeza de que somos importantes para o Pai, que não se esquece de nós. A misericórdia mostrada ali nos lembrou que não somos “descartáveis’, mesmo quando erramos ou como recentemente afirmou com sabedoria e visão admiráveis o Santo Padre, o Papa Francisco: “Mesmo que a vida de uma pessoa tenha sido um desastre, mesmo que tenha sido destruída pelos vícios, drogas ou qualquer outra coisa, Deus está na vida dessa pessoa”.
É como se Deus tivesse nos lembrado que nós somos apenas filhos e Ele, enquanto Pai que ama, não poderia não buscar e acolher o filho que existe em cada um de nós.
O Evangelho deste vigésimo quinto domingo do Tempo Comum, ao contrário, nos apresenta um exemplo bem embaraçoso. Trata-se de um administrador desonesto.
Chega a ser difícil entender o fato de Jesus tê-lo apresentado como exemplo. Principalmente nesses dias em que a corrupção e a falta de ética tem suscitado reações na sociedade de modo geral, e quando transparência nas relações comerciais e políticas andam tão frágeis. De fato, esta página do Evangelho apresenta a mais assustadora das Parábolas, em minha opinião!
 Aliás, o caráter do personagem do Evangelho não é tão difícil de identificar no passado, nem nos dias de hoje. Na verdade, diz respeito a cada um de nós.
Não é preciso muito para entender e ver como o homem é alguém que recebeu tudo do seu único Senhor, mas o usa ao seu próprio gosto, esquecendo ou recusando entender que, no fundo, ele nada mais é do que um administrador.
Exatamente como exorta o profeta Amós na primeira leitura (8,4-7) denunciando que o homem criou um sistema corrupto e tão injusto, que chega a “dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias".
A nossa cultura ocidental criou um sistema baseado no poder econômico, ao ponto de se convencer que não deve nada nem a Deus, nem a nenhum outro que não seja a si mesmo. É uma cultura que gerou uma quantidade imensa de riquezas, que Jesus no Evangelho de hoje define, tranquilamente, como “desonestas”. Na verdade, as riquezas mundanas são, muitas vezes, tão ultrajantes, ostensivas e escandalosas que parecem o resultado de um roubo.
Como definir de outra forma a violenta usurpação que o ser humano é capaz de fazer da função que pertence somente a Deus, bem como a injustiça que produz entre os homens?
A nossa consolação, contudo, está no fato que, com uma atitude quase afável, através da parábola do administrador, Jesus toca exatamente na presunção de quem se ilude, achando que pode acertar, através de uma manobra, as contas em vermelho da história.
É assim que Jesus põe um “freio” no delírio da onipotência onde prevalece o uso das riquezas apenas para benefício e consumo próprios, que anula a capacidade de se compadecer com os que sofrem inúmeras misérias à sua volta!
Gostaria de ressaltar dois aspectos da Palavra de hoje. O primeiro diz respeito ao fato de que o nosso ser discípulos de um Deus Encarnado nos coloca continuamente diante da realidade fascinante do Cristo.
O motivo está no fato de que Ele pregou, convidou e iniciou um processo de mudança do homem e da história humana. Portanto, a fé cristã não pode renunciar ou desistir do seu compromisso de transformar a própria história.
Numa época em que se tende a dar mais atenção às fofocas ou à sensação do momento, às lógicas sem importância e oportunistas, ao invés das grandes e importantes questões da história, esta fé corre mesmo o risco de se alienar do compromisso irrenunciável de influenciar profundamente a história.
Uma vida de fé que se limitasse às experiências interiores sem olhar para questões à sua volta, se distanciaria da dinâmica do crescimento e da construção do Reino em meio aos homens.
Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. Ao que parece, o que Jesus quer nos dizer é que se tivéssemos a mesma paixão pelas coisas do Reino como a que temos pelos interesses próprios e pelas coisas do mundo, o mal e a injustiça jamais venceriam.
Aqui Jesus deixa claro que a força do mundo econômico, às vezes sem qualquer ética ou escrúpulos, é muito mais dinâmica e produtiva do que a força do amor em nossas comunidades cristãs, onde muitas vezes, se instalam sentimentos de desânimo e resignação diante dos desafios atuais.
É preciso despertar a consciência de que somos vencedores neste mundo, e de que só o somos nas pegadas do Mestre! Portanto, riqueza e poder para nós, não são questões de cofres e contas bancárias, mas do coração. Dizem respeito não à quantidade, mas à atitudes!
Nenhum de nós está entre os grandes deste mundo, mas isso não nos exime de nossa responsabilidade! É sempre bom lembrar que, ainda que tenhamos poucos bens materiais, mesmo assim podemos ter uma atitude de apego, ao ponto de nos desviar do verdadeiro objetivo da nossa vida, que é a plenitude do Reino.
Além disso, não podemos mais fugir da exigência convincente de que, enquanto comunidade de ressuscitados, juntos devemos começar a fazer um discernimento sobre novos instrumentos e novos caminhos a percorrer, deixando a imaginação livre à criatividade do amor.
O segundo aspecto que imediatamente se segue é que, para mudar as coisas, é preciso conhecê-las.
O primeiro passo para a partilha e criatividade do amor é o conhecimento aprofundado do mundo, das situações e dos sistemas que fogem ao nosso conhecimento. O conhecimento e a informação é um colocar-se a caminho da partilha e da escuta da realidade para depois, agir como discípulos do Reino!
Na segunda leitura (1Tm 2,1-8) é o próprio Paulo que nos exorta a elevar orações e súplicas pelos governantes do mundo: “Antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranqüila e serena, com toda piedade e dignidade’.
Certamente, não se trata de um apelo a nos fecharmos na esfera do sagrado, ignorando a realidade concreta do quotidiano à nossa volta. Pelo contrário, o apelo do Apóstolo é um chamado à consciência da realidade que temos que influenciar com os valores da fé que professamos!
Como é bom e reconfortante saber que o próprio Senhor nos chama a ser fiéis que não se contentam com um pouco de moralismo e algumas devoções, esquecendo-se de pregar a conversão do mundo!
Que o Senhor faça chegar direto ao nosso coração o convite final do Evangelho de hoje: “usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas”.
Aqui “injusto” significa os meios desleais enganosos, que prometem uma confiança e segurança que somente Ele pode nos dar. É preciso estar sempre prontos a colocar esses meios injustos, enganadores e inseguros a serviço daquilo que é segurança e garantia de salvação plena. A saber, a partilha com os pobres! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.brformador@inacianos.org.br).

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