CONGREGAÇÃO MISSIONÁRIA DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA - MISSIONÁRIOS INACIANOS
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segunda-feira, 30 de setembro de 2013
sábado, 28 de setembro de 2013
SALVAÇÃO OU CONDENAÇÃO ETERNA?
(Liturgia do Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum)
“Assim diz o Senhor todo-poderoso: Ai dos que
vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas da
Samaria! Os que dormem em cama de marfim, deitam-se em almofadas, comendo
cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado... os que bebem vinho em
taças...não se preocupam com a ruína de José. Por isso, eles irão agora para o
desterro, na primeira fila,e o bando dos gozadores será desfeito”!
O
Profeta Amós faz esta denúncia na primeira leitura deste Vigésimo Sexto Domingo
do Tempo Comum (6,1-4-7).
Este
triste quadro pintado pelo Profeta sobre a sociedade do seu tempo, guardadas as
devidas proporções, é o retrato do que também acontece em nossa sociedade hoje.
De
fato, as revelações mais incisivas que percebemos na denúncia é, em primeiro
lugar, que quem traça este quadro dos “despreocupados”, não é um sociólogo ou
um ativista político, mas é o próprio Deus.
Os “despreocupados”
de Sião se assemelham muito aos cristãos que se desviaram da mensagem de Cristo
e da Igreja. Já os que estão “seguros sobre a montanha da Samaria”, que aqui é
emblema do mal e da idolatria, se assemelham muito às pessoas da nossa
sociedade descristianizada.
Isto
é, eles comem, são assíduos sustentadores do consumismo hedonista e
materialista. Cantam. O problema não é cantar, mas esses preferem sempre os
mega-concertos, as boates e os estádios lotados ao silêncio de uma montanha ou
de uma igreja.
Bebem vinho,
e facilmente são capturados pelo uso de drogas e afins, ou se inebriam com toda
a sorte de mensagens midiáticas. São aqueles que “não se preocupam com a ruína
de José”.
Aqui o termo José pode ser
compreendido como o bem comum, deliberadamente ignorado, principalmente pelos
que ocupam as cadeiras da administração pública ou quando são responsáveis por
instituições públicas.
Nesse caso, quando se trata de
pessoas, de seres humanos, não cuidam e não se importam com o seu bem moral ou
espiritual.
Que
futuro pode ter uma civilização que vive assim? Obviamente, terá o mesmo futuro
do povo de Israel denunciado pelo Profeta. Será um futuro de exílio,
compreendido como o fracasso total ou parcial da própria vida pessoal e social.
Num
futuro assim está decretado o fim da abundância, da vida fácil e agradável,
pois o “vinhedo” de suas vidas e da própria sociedade será entregue a outros. Naquele
momento a “orgia” dos bons tempos acabará.
Acabará
porque esse tipo de sociedade está doente. Perdeu a vontade de lutar, apresenta
valores inúteis ou vazios diante das grandes questões humanas. É uma sociedade
que engorda e esbanja enquanto milhares passam fome. Uma sociedade que se
tornou “cristofóbica” e que não tem fé, que transformou a liberdade em puro
permissivismo!
Diante de uma situação assim escandalosa, a Palavra
de Deus propõe um manual a ser seguido, apresentado por São Paulo na segunda
leitura da primeira carta a Timóteo (6,11-16).
“Tu, homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a
piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão... até a manifestação gloriosa de
Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Se lêssemos o versículo
10 perceberíamos que Paulo ainda aponta onde está a origem, a raiz dos males que
ele combate com a apresentação desse manual de uma vida nova: “A raiz de
todos os males é o apego ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se
desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6,10).
Trata-se
de um “vade-mecum” altamente
terapêutico para uma sociedade hedonista e perdida nos valores. Foi sugerido a
Timóteo, seu discípulo e bispo, e sua comunidade, mas que se aplica
perfeitamente a nós e ao nosso tempo.
Na
verdade, Paulo nos chama a tomar consciência da nossa pertença a Deus: “tu,
homem de Deus”. Isto é, não pertencemos à Terra, porque fomos revestidos da
dupla dignidade de pessoa, que reflete a imagem de Deus, e da Sua filiação
adotiva.
Portanto,
a proposta de Paulo para que vivamos de acordo com essa dignidade é a justiça,
compreendida como santidade, a piedade, como diálogo constante com Deus, a fé,
como adesão livre e alegre à mensagem de Cristo e a caridade, sobretudo como
exercício de paciência, de compreensão e de mansidão para com tudo e todos.
Finalmente,
nos lembra da vinda final de Cristo, para a qual devemos estar sempre prontos e
vigilantes para o encontro final e mais importante da nossa vida, como nos
ensina São Gregório Magno, quando nos exorta a manter sempre viva essa espera
vigilante: “que nenhuma prosperidade vos
seduza, porque tolo é o viajante que durante o caminho pára para admirar os
belos prados e se esquece de ir onde tinha a intenção de chegar”.
O
Evangelho (Lc 16, 19-31) apresenta
dois personagens imaginários que encarnam bem o “processo terapêutico” proposto
pela Palavra de Deus. O primeiro é o homem rico. Ele é emblema atualíssimo dos “despreocupados”
de hoje e é símbolo perfeito do egoísta, do hedonista e dos grandes “gozadores”.
O que
se pode dizer a seu respeito é o que reza o salmo 48: “O homem na prosperidade não compreende, é como os animais que perecem.
Esta é a sorte de quem confia em si mesmo... a morte será o seu pastor... todo
o seu orgulho vai acabar, a mansão dos mortos será a sua morada”.
O segundo
personagem é Lázaro. O nome Lázaro significa “amparado por Deus”. De fato, já
diz tudo. Lázaro, o pobre, é símbolo de todos aqueles que, no plano pessoal
vivem em situações de pobreza moral e espiritual. Socialmente falando, ele tem
que se contentar com as migalhas que, acidentalmente, caem da mesa dos ricos e
poderosos.
O que
dizer do destino destes dois personagens tão controversos? Em princípio, podemos
dizer que a salvação é destinada a todos, de acordo com a liberdade de cada um.
Para o
rico está reservada condenação, enquanto para o pobre, obviamente purificado
interiormente, está reservada a felicidade da salvação.
Surpreendentemente,
se quiséssemos avisar ou livrar alguns “candidatos” que persistem na prática do
mal, da condenação eterna, o próprio Senhor, pela boca de Abraão, nos diz que
eles têm Moisés e os profetas e eles que os escutem!
Mas se
não ouvem Moisés e os profetas, mesmo que alguém ressuscitasse dos mortos para
avisá-los, não seriam persuadidos a mudar de vida em vista da salvação.
Esta última advertência da
Palavra de Deus, sobre cada um de nós, mas também sobre toda a civilização
humana que se distancia cada vez mais de Deus, tem um peso enorme. Para evitar
que sejamos esmagados por esse peso, não é preciso incomodar os mortos do além.
É suficiente que ainda neste
mundo e nesta vida, evitemos esse estilo de vida escandalosa expressa pela
postura denunciada pelo profeta Amós e pelo “vade-mecum”, ou seja, pelo manual
de uma nova conduta sugerido por Paulo.
Comecemos encarando e com coragem
o nosso estilo de vida, nossas escolhas e valores. É o primeiro passo para pôr
em prática o ensinamento de Jesus hoje voltado aos fariseus e a cada um de nós.
(Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA –
Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br
– formador@inacianos.org.br).
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
ADMINISTRADORES DOS BENS DO PAI
(Liturgia do Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum)
No domingo
passado tivemos a graça de ouvir um Evangelho que soou como um bálsamo curativo
para as feridas do coração.
Ao ouvir as
parábolas de misericórdia contadas por Jesus, especialmente a do Pai
Misericordioso, nos enchemos da esperança e da certeza de que somos importantes
para o Pai, que não se esquece de nós. A misericórdia mostrada ali nos lembrou
que não somos “descartáveis’, mesmo quando erramos ou como recentemente afirmou
com sabedoria e visão admiráveis o Santo Padre, o Papa Francisco: “Mesmo que a vida
de uma pessoa tenha sido um desastre, mesmo que tenha sido destruída pelos
vícios, drogas ou qualquer outra coisa, Deus está na vida dessa pessoa”.
É como se Deus
tivesse nos lembrado que nós somos apenas filhos e Ele, enquanto Pai que ama,
não poderia não buscar e acolher o filho que existe em cada um de nós.
O Evangelho
deste vigésimo quinto domingo do Tempo Comum, ao contrário, nos apresenta um
exemplo bem embaraçoso. Trata-se de um administrador desonesto.
Chega a ser
difícil entender o fato de Jesus tê-lo apresentado como exemplo. Principalmente
nesses dias em que a corrupção e a falta de ética tem suscitado reações na
sociedade de modo geral, e quando transparência nas relações comerciais e
políticas andam tão frágeis. De fato, esta página do Evangelho apresenta a mais
assustadora das Parábolas, em minha opinião!
Aliás, o caráter do personagem do Evangelho
não é tão difícil de identificar no passado, nem nos dias de hoje. Na verdade,
diz respeito a cada um de nós.
Não é preciso
muito para entender e ver como o homem é alguém que recebeu tudo do seu único Senhor, mas o usa ao
seu próprio gosto, esquecendo ou recusando entender que, no fundo, ele nada mais
é do que um administrador.
Exatamente
como exorta o profeta Amós na primeira leitura (8,4-7) denunciando que o homem criou um sistema corrupto e tão
injusto, que chega a “dominar os pobres com dinheiro e
os humildes com um par de sandálias".
A
nossa cultura ocidental criou um sistema baseado no poder econômico, ao ponto de
se convencer que não deve nada nem a Deus, nem a nenhum outro que não seja a si
mesmo. É uma cultura que gerou uma quantidade imensa de riquezas, que Jesus no
Evangelho de hoje define, tranquilamente, como “desonestas”. Na verdade, as riquezas
mundanas são, muitas vezes, tão ultrajantes, ostensivas e escandalosas que
parecem o resultado de um roubo.
Como definir
de outra forma a violenta usurpação que o ser humano é capaz de fazer da função
que pertence somente a Deus, bem como a injustiça que produz entre os homens?
A
nossa consolação, contudo, está no fato que, com uma atitude quase afável,
através da parábola do administrador, Jesus toca exatamente na presunção de
quem se ilude, achando que pode acertar, através de uma manobra, as contas em
vermelho da história.
É
assim que Jesus põe um “freio” no delírio da onipotência onde prevalece o uso
das riquezas apenas para benefício e consumo próprios, que anula a capacidade
de se compadecer com os que sofrem inúmeras misérias à sua volta!
Gostaria de
ressaltar dois aspectos da Palavra de hoje. O primeiro diz respeito ao fato de
que o nosso ser discípulos de um Deus Encarnado nos coloca continuamente diante
da realidade fascinante do Cristo.
O motivo está
no fato de que Ele pregou, convidou e iniciou um processo de mudança do homem e
da história humana. Portanto, a fé cristã não pode renunciar ou desistir do seu
compromisso de transformar a própria história.
Numa época em
que se tende a dar mais atenção às fofocas ou à sensação do momento, às lógicas
sem importância e oportunistas, ao invés das grandes e importantes questões da
história, esta fé corre mesmo o risco de se alienar do compromisso
irrenunciável de influenciar profundamente a história.
Uma
vida de fé que se limitasse às experiências interiores sem olhar para questões
à sua volta, se distanciaria da dinâmica do crescimento e da construção do
Reino em meio aos homens.
“Os filhos deste
mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. Ao que parece, o que Jesus quer
nos dizer é que se tivéssemos a mesma paixão pelas coisas do Reino como a que temos
pelos interesses próprios e pelas coisas do mundo, o mal e a injustiça jamais
venceriam.
Aqui Jesus deixa claro que a força
do mundo econômico, às vezes sem qualquer ética ou
escrúpulos, é muito mais dinâmica e produtiva do que a força do amor em nossas
comunidades cristãs, onde muitas vezes, se instalam sentimentos de desânimo e
resignação diante dos desafios atuais.
É preciso
despertar a consciência de que somos vencedores neste mundo, e de que só o
somos nas pegadas do Mestre! Portanto, riqueza e poder para nós, não são
questões de cofres e contas bancárias, mas do coração. Dizem respeito não à quantidade,
mas à atitudes!
Nenhum de nós
está entre os grandes deste mundo, mas isso não nos exime de nossa
responsabilidade! É sempre bom lembrar que, ainda que tenhamos poucos bens
materiais, mesmo assim podemos ter uma atitude de apego, ao ponto de nos
desviar do verdadeiro objetivo da nossa vida, que é a plenitude do Reino.
Além disso,
não podemos mais fugir da exigência convincente de que, enquanto comunidade de
ressuscitados, juntos devemos começar a fazer um discernimento sobre novos
instrumentos e novos caminhos a percorrer, deixando a imaginação livre à
criatividade do amor.
O segundo aspecto que imediatamente
se segue é que, para mudar as coisas, é preciso conhecê-las.
O primeiro passo para a partilha
e criatividade do amor é o conhecimento aprofundado do mundo, das situações e
dos sistemas que fogem ao nosso conhecimento. O conhecimento e a informação é
um colocar-se a caminho da partilha e da escuta da realidade para depois, agir
como discípulos do Reino!
Na segunda leitura (1Tm 2,1-8) é o próprio Paulo que nos
exorta a elevar orações e súplicas pelos governantes do mundo: “Antes de tudo, recomendo que se façam
preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos
que governam e por todos que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar
uma vida tranqüila e serena, com toda piedade e dignidade’.
Certamente, não se trata de um
apelo a nos fecharmos na esfera do sagrado, ignorando a realidade concreta do
quotidiano à nossa volta. Pelo contrário, o apelo do Apóstolo é um chamado à
consciência da realidade que temos que influenciar com os valores da fé que
professamos!
Como é bom e reconfortante saber
que o próprio Senhor nos chama a ser fiéis que não se contentam com um pouco de
moralismo e algumas devoções, esquecendo-se de pregar a conversão do mundo!
Que o Senhor faça chegar direto
ao nosso coração o convite final do Evangelho de hoje: “usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles
vos receberão nas moradas eternas”.
Aqui “injusto” significa os meios
desleais enganosos, que prometem uma confiança e segurança que somente Ele pode
nos dar. É preciso estar sempre prontos a colocar esses meios injustos,
enganadores e inseguros a serviço daquilo que é segurança e garantia de
salvação plena. A saber, a partilha com os pobres! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br
– formador@inacianos.org.br).
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