Páginas


Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


santaluzia@hotmail.com.br

Fone (14) 3239-3045


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

OS CAMINHOS DE DEUS

CRIANÇA DA FAVELA FERRADURA MIRIM QUE VEIO PEDIR A BÊNÇÃO APÓS A PREGAÇÃO DESTA HOMILIA (foto Sônia Neri - PasCom Santa Luzia)
(Liturgia do Quarto Domingo do Advento C)

A primeira leitura que escutamos neste Quarto Domingo do Advento, no livro do Profeta Miquéias (5,1-4a), é um texto famoso da bíblia.
Lembra-nos que o Messias virá de um jeito muito diferente de como tinha sido imaginado. Virá com humildade e simplicidade, sem estardalhaço e sem glória.
Nascerá numa pequena vila sem importância em Judá, chamada de “Bet Lehem”, que significa Casa do Pão.
É grande o contraste entre: “E tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá”, e o que vem depois das palavras: “Belém, pequenina, povoado”: “aquele que dominará, tempos remotos, força do Senhor, majestade em nome do Senhor, dias da eternidade”.  Essa é a lógica de um Deus que faz grandes coisas na pequenez, sem alarde, sem efeitos especiais ou bombásticos.
Cada um de nós é chamado a refletir, neste final do tempo do Advento, sobre o estilo de um Deus, que busca o coração dos simples e pobres, para realizar projetos grandiosos.
O primeiro risco que corremos na preparação para o Natal é esperar Jesus de modo errado, isto é, a partir da ótica da grandeza, da glória mundana, numa visão puramente humana, que não tem nada a ver com a lógica de Deus.
Os habitantes de Belém, na noite sublime do parto da Virgem Maria, não perceberam o que estava, realmente, acontecendo na gruta, bem perto deles.
Foi necessário que os “magos”, estrangeiros e gente “de fora” viessem de longínquas terras para reconhecer no menino deitado na manjedoura “o dominador, o Príncipe da paz, o Messias”.
Outro risco de que corremos de celebrar o Natal de forma equivocada é tê-Lo diante dos olhos na própria família, na comunidade ou através das pessoas e situações que chegam até nós, e não saber reconhecê-Lo!
Às vezes, os mais distantes, os que estão “de fora” fisicamente da Igreja, podem “ver” coisas que nós, que somos próximos e estamos dentro, não enxergamos.
O Natal é, portanto, um convite a mudar a nossa maneira de olhar realidade à nossa volta, purificando os olhos para saber acolher a Cristo com o coração simples. Ele pode estar presente, inclusive, nas situações e contextos nos quais a tendência é sermos levados a não reconhecê-Lo.
Os caminhos de Deus são muito diferentes dos caminhos do homem! É a primeira leitura ainda expressa isso com estas palavras: “Deus deixará seu povo ao abandono, até ao tempo em que uma mãe der à luz”. 
Esta é uma visão de um tempo novo maravilhoso! Enquanto observamos, nestes dias, como as pessoas se agitam por causa das “profecias” Maias, com sua visão cíclica e repetitiva do tempo, a Palavra de Deus nos dá segurança e nos consola anunciando que o “tempo” não está à mercê dos fatos ou, pior ainda, do acaso. O “tempo” não depende dos “ciclos”. O “tempo” é “graça”, o “tempo” está nas mãos de Deus!
O contexto bíblico, que não conhecia o relógio, é medido com a ampulheta. Na ampulheta, quando a areia que está na parte superior desce para a parte inferior, então o tempo “preenche”. Quer dizer, alcança a “plenitude” do tempo, isto é, o tempo se torna “pleno”.
Nesta ótica, em que tudo está nas mãos de Deus e não do acaso, também os sofrimentos ou as coisas difíceis de compreender tem um sentido. Também o tempo do “abandono” torna-se condição positiva e misteriosa “para que uma mãe dê a luz Àquele que deve vir”.
O Natal nos ensina que o tempo é graça e que tudo está nas mãos de Deus. Cabe aos cristãos, portanto, ter confiança porque Deus sabe para onde está conduzindo o ser humano e a história e, certamente, não a está conduzindo rumo a outro ciclo, mas está nos conduzindo para a plenitude!
Celebrar o Natal de Cristo de forma pessoal, familiar e comunitária, é descobrir que a Sua presença, fundamentada nas novas categorias de humildade, simplicidade e confiança no Pai inauguradas por Ele, é capaz de levar paz e reconciliação aos relacionamentos entre as pessoas.
Esta é a fé da Igreja, expressa na liturgia: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na Terra aos homens de boa vontade”!
As visões do tempo linear, típicas da bíblia, em contraste com a visão cíclica das outras culturas do tempo, nos recordam que o caminho é sinônimo de oportunidade, de projeto e de vocação: “De mim está escrito no livro _ Eis que venho, Senhor, para fazer a Tua vontade”, diz Jesus ao Pai, na segunda leitura (Hb 10,5-10).
A vida humana não se insere numa visão repetitiva, na qual os tempos se alternam. Ela é única e irrepetível, preciosa e particularmente única. Deus tem um projeto para cada pessoa e escreveu esse projeto no Seu livro.
Essa nova visão que o Tempo do Advento recorda a cada um de nós introduz também uma nova categoria de sacrifício. Trata-se de tomar consciência de que a obediência, a adesão à vontade do Pai, a resposta à vocação pessoal, vale muito mais do que todos os sacrifícios exteriores. Com o seu “sim” ao Pai, Cristo aboliu o primeiro sacrifício para constituir o novo, fundado no livre arbítrio e na generosidade no relacionamento com Deus.
Graças ao livre arbítrio de Jesus, que se faz homem por nós, “mediante a Sua livre entrega fomos santificados”. Aqui também a Palavra de Deus nos convida a dar um passo na direção do nosso coração, do nosso interior. O que interessa, de fato, para Deus, se encontra não nas coisas exteriores, mas nas nossas decisões e atitudes do coração.
O Evangelho de hoje (Lc 1,39-45) nos apresenta o belíssimo “ícone” da visitação de Nossa Senhora à sua prima Isabel: Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia.É a pressa da fé que quer responder sem rodeios: “Eis que venho, Senhor, para fazer a Tua vontade”! É a pressa da esperança, que quer experimentar as promessas do Altíssimo: “Também Isabel, tua parenta, na sua velhice concebeu um filho”! É a pressa da caridade, que quer servir Isabel nas suas necessidades.
O Evangelho nos diz que “Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel”. Não sabemos, exatamente, que palavras usou. Provavelmente se tratava de uma saudação hebraica por excelência: “Shalom”! Uma saudação difícil de traduzir com uma só palavra. Dizer “Shalom!” significa bendizer, isto é, dizer-bem. Desejar a uma pessoa todo o bem possível. Os efeitos da saudação estão sob os nossos olhos. As duas mulheres se “bendizem”, isto é, se abençoam uma à outra, “dizem bem de Deus, estão alegres e em paz.
Os frutos da bênção são relações humanas reconciliadas e harmoniosas. Aqui também os caminhos de Deus são misteriosos. A paz se constrói, antes de tudo, com atitudes do coração, antes de quaisquer gestos ou demonstrações exteriores. Peçamos a Deus que o Natal do Seu Filho nos encontre prontos e atentos à Sua voz, imitando aquela que, pela sua obediência, mereceu conceber o Verbo da vida no seu ventre. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Web site: www.inacianos.org.br).


Nenhum comentário:

Postar um comentário