(Reflexão da Palavra de Deus na missa de Natal)
O Natal é, ao
mesmo tempo, um mistério de Luz, e ao mesmo tempo é um mistério de recusa da
Luz. Um mistério de Luz, nas palavras do Profeta Isaías na primeira leitura
(9,1-6) porque: “O povo, que andava nas trevas, viu uma grande luz; para os que habitavam
nas sombras da morte, uma luz resplandeceu (...) Porque nasceu para nós um
menino, foi-nos dado um filho; ele traz nos ombros a marca da realeza; o nome
que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros,
Príncipe da paz”. “Veio ao mundo a Luz
verdadeira, aquela que ilumina todo homem”.
O Natal cristão, a despeito do que nos é apresentado hoje
pelos comerciais dos meios de comunicação, é outra coisa, muito diferente do
que querem nos convencer.
Focalizemos os
aspectos mais importantes. Quando irrompe essa Luz na história? Quando César
Augusto era imperador de Roma, o governador da Síria era Quirino sob cuja
autoridade se fez o recenseamento, segundo as ordens de Roma e, quando Herodes,
o Grande, era rei da Judéia.
Deus entra na
história humana com a singela alma de um menino. Onde irrompe essa Luz? Em
Belém da Judéia, como os profetas haviam anunciado desde a antiguidade.
Certa vez disse Epíteto,
poeta grego: “Infeliz o homem que morre
sem ter escalado os degraus da Acrópole”. Para expressar a importância de Jesus ter
nascido em Belém, poderíamos “roubar” essa frase e usá-la da seguinte forma: “Infeliz o homem que morre sem ter descido
os degraus da gruta de Belém”! A Lição de Belém, Casa do Pão, é que somente
pode se nutrir substancialmente quem tem a humildade de descer do próprio
pedestal, para encontrar-se com a pobreza e a simplicidade do Menino de Belém.
Quem é esta Luz?
É o profeta Isaías quem nos responde na primeira leitura (52,7-10), o Apóstolo Paulo na carta aos Hebreus (Hb 1,1-6) e o Evangelista São João (1,1-18). Essa Luz deslumbrante se
identifica com Jesus Cristo, que é a irradiação da glória e da mesma substância
de Deus. Ele é a Luz que irrompe sobre a terra que está na escuridão, isto é,
que está em situação de pecado, que atinge todos os homens.
Ele é a Graça
personificada portadora de salvação para todos. É o nosso Deus e Salvador, como
escreve Paulo a Tito. Ele entregou-se por nós, para resgatar-nos de toda
iniqüidade e para formar para Si um povo novo que lhe pertença e que seja
zeloso na execução das boas obras.
Com o Natal Deus cobriu a nossa limitação com a Sua infinitude, e as
nossas sombras com a Sua Luz.
Mas o que essa Luz exige de nós? É São Paulo que nos oferece a resposta,
na sua carta a Tito, ao qual e a todos nós, sugere: “renegar a iniqüidade e os desejos mundanos”.
Por impiedade, entenda-se o viver com atitudes e escolhas religiosas
baseadas na má fé e, renegar os desejos do mundo significa, além de viver com
sobriedade, viver na justiça e na paz neste mundo, na esperança da glória
futura.
Seremos, de fato, livres e verdadeiros, na medida em que renunciarmos a
essas atitudes e quando vivermos na busca da santidade a cada dia.
Quando dizemos que o Natal é também um mistério de recusa da Luz é
porque “Não havia lugar para eles na
hospedaria”! (...) “A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a acolheram”, e
ainda, “veio para o seus, mas os seu não
o acolheram”!
A irrupção do
filho de Deus na história não começa bem. É uma grande rejeição baseada
na distração, na incompreensão e no egoísmo dos homens da época.
Mas nós hoje,
não somos e não fazemos diferente, pois não apenas o Natal, mas toda a mensagem
salvífica de Cristo e o cristianismo como um todo, encontram nos homens do
nosso tempo a mesma hostilidade e indiferença.
Contudo, e para
que haja esperança, ainda existem vozes que se unem à voz da Igreja para anunciar
que Jesus Cristo é o Senhor. Que estaremos na mais absoluta treva sem a Sua
Luz. Que Ele é um Deus capaz de amar o ser humano e deixar-se encontrar, ver,
tocar e amar. Que é impossível fugir da Sua Pessoa porque Ele é capaz de
atingir todo ser humano e toda a sua existência. Ele foi, é e será Deus para
todo o sempre e que, nem a poesia, nem mesmo a ciência e a mais alta tecnologia
moderna saberão fazer brotar uma flor, porque para isso, dependem d’Ele! (Frei
Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos –
formador@inacianos.org.br – Web site: www.inacianos.org.br).
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