(Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus – 01 de
Janeiro de 2013)
No primeiro
dia do ano novo celebramos a Festa de Santa Maria, Mãe de Deus. Pensar nesta solenidade
me causa um certo pesar. Não digo tristeza, mas, com certeza, um lamento.
O que
lamento, na verdade, é ver que uma solenidade tão importante, por causa da
festa da noite anterior, isto é, o réveillon, não seja celebrada no tom e na
importância que merece, mas quase num total “silêncio” em relação à todas as
outras festas do ano. Principalmente com descontinuidade com relação ao Natal
que acabamos de celebrar.
Aqueles
mais ou menos cristãos praticantes são colocados à prova no dia primeiro de
janeiro.
Primeiro,
por causa da necessidade de “descansar” como quem parece que enfrentou uma “batalha”
de festas na noite anterior. Depois, porque a grande maioria não consegue
preparar-se como deveria para participar da primeira missa do ano, não só para
cumprir um preceito, mas, porque entende que muito mais importante do que
começar uma nova jornada com o “pé direito” e com as famosas “simpatias”, é
preciso começar o ano novo como uma criança que dá os primeiros passos, não
sozinho, correndo o risco de cair e se machucar, mas como quando éramos crianças,
segurando nas mãos daquela que poderia nos ajudar a dar primeiros passos, a mãe.
A liturgia
da Festa do dia primeiro de janeiro nos oferece, portanto, a oportunidade de
dar o primeiro passo com a Mãe de Deus e nossa.
Muitos
nem sabem, e refiro-me até mesmo aos católicos praticantes, que esta é uma
festa importante, de preceito. Aliás, alguns se lembram disso, às vezes, tarde
demais.
Outros
esquecem as informações e ensinamentos referentes à sua fé para não precisarem
que se preocupar.
Esses,
na verdade, de qualquer forma, não apresentam uma justificativa plausível para
não começarem o ano fortalecendo a sua fé e a sua esperança celebrando a
Eucaristia. Na verdade, dão uma demonstração de como é frágil a esperança que
habita nos corações e como é pouco intensa a alegria por causa da salvação.
A pouca
atenção dada à Festa de Santa Maria, Mãe de Deus, demonstra também quanta
consideração temos pela bênção de Deus e, podemos dizer, mostra também o quanto
ainda somos confusos sobre o novo tempo que nos é dado para viver, isto é, o
ano novo, que não é visto como uma ocasião para viver melhor a esperança em
Cristo.
Infelizmente,
continuará ser, para muitos, tempo velho de continuar a confiar cega e
irracionalmente num fato sem apelo e sem propósito, que fará muitos suspirarem
dizendo “o que será que me espera neste ano novo”? Ou um simples “espero que
nos traga sorte”, como máxima expressão da graça que nos é dada.
Que pena!
Não é por acaso que encontramos Maria no início de um novo tempo. Na verdade, a
encontramos com um título capaz de deixar muitas pessoas, ainda hoje, perplexas:
Mãe de Deus!
É nas
páginas do Evangelho (Lc 2,16-21) que focaliza o tempo preciso no qual a noite
teve que ceder lugar à Luz, momento no qual o maior evento do universo está
entre os seus braços, evento do qual toda a “carne” humana, dos tempos que
foram, que são e que serão, não poderá prescindir jamais.
Trata-se
do evento Jesus Cristo. Maria, aquela que encontrou graça diante de Deus,
porque é fiel à Sua Palavra, agora O segura nos braços, O olha nos olhos,
escuta os seus gemidos de bebê, O nutre no seu seio.
Contemplando
tudo isso, o único desejo que, tenho certeza, nos une aos pastores que visitam
Jesus na gruta de Belém, é de ser abençoado por Deus com o sorriso de um Menino
que faz resplandecer o Seu rosto sobre nós. É também ver, assim, realizar as
palavras do salmo 66, do qual temos tanta necessidade: “Que Deus nos dê a Sua graça e sua benção, e Sua face resplandeça sobre
nós”!
Considerando
tudo isso, este ano que nos é dado, e do qual Maria é a porta, torna-se um
verdadeiro tempo novo, tempo dado para saborear os frutos da salvação, tempo
que devemos viver como protagonistas e não como sujeitos inertes ao destino e às
fatalidades.
Deus,
que nos abençoa entre os braços de Sua Mãe, fazendo resplandecer o Seu rosto
sobre nós e sobre toda a humanidade, é mais do que um simples desejo. É a
realização da promessa que não faliu ou ficou no esquecimento, e da qual eu
quero, mais do que tudo, fazer parte, fazendo a minha parte!
O que
seria de nós naquela noite se aquele menino não fosse Deus e se aquela
jovenzinha não fosse Sua Mãe? Tudo não passaria de um abismo sem Luz e de uma
noite sem estrelas!
Quem ou
o que poderia abençoar a nossa vida com a Luz do Seu rosto? A quem
recorreríamos para satisfazer o grito que sai do mais íntimo da alma humana e
que anseia por eternidade?
Feliz,
no entanto, a nossa “carne” que encontra paz na verdadeira carne de Deus, Verbo
que se fez carne na nossa carne. Feliz porque Maria, a Virgem de Nazaré, doou a
sua carne à Palavra e, assim, “permitiu” a Deus salvar-nos.
Feliz a
humanidade que ainda tem um tempo novo para compreender isso e gozar uma esperança
de eternidade na carne destinada a ressurgir, através de um processo
inevitavelmente viável, graças a Ressurreição de Jesus; feliz porque não foi um
destino cego ou o acaso que decidiu isso, mas o Único e Grandioso Ser Amor que
é, que era e que será para sempre.
Pensar que ainda seja supérfluo e acessório dar à
Maria o título de Mãe de Deus ou não compreender que esta solenidade seja digna
de justa e adequada atenção, penso que ser um erro que pode prejudicar
seriamente a vida cristã no Espírito, só pelo fato de que o Espírito é vida e
se, verdadeiramente, temos o desejo de viver, não podemos fazê-lo sozinhos, mas
devemos recebê-Lo nas mãos, entre os braços, de uma Mãe amorosa que não renuncia
aos seus filhos queridos e nunca se cansa de guiá-los para os braços de Jesus. (Frei Alfredo Francisco de Souza,
SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Web
site: www.inacianos.org.br).
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