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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 31 de maio de 2014

ASCENSÃO DO SENHOR - PLENITUDE DA PÁSCOA, PRESENÇA ILIMITADA DE JESUS ENTRE NÓS


(Liturgia da Solenidade da Ascensão do Senhor)

            A Palavra de Deus, proclamada nesta Solenidade da Ascensão do Senhor, nos chama a um "caminho de luz e de glória", para fazer-nos compreender à qual esperança nós fomos chamados, ou melhor, somos continuamente chamados, na nossa vida cristã.
            A mesma Palavra nos indica hoje, com clareza, "o tesouro de glória" que nos espera como herança, muito mais precioso do que todos os bens terrenos que, no dia-a-dia, enchem os nossos olhos.
            É da Palavra proclamada hoje que nos vem a extraordinária grandeza do poder de Jesus para conosco, como proclama o Apóstolo Paulo na segunda leitura: "Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente" (Ef 1,17-23).             É este poder que podemos invocar como socorro nas nossas fraquezas.
            Tudo isso acontece no momento em que Jesus desaparece diante dos nossos olhos, privando-nos de Sua presença física e limitada, para estar presente ilimitadamente, não mais conosco, mas em nós.
            O mistério de luz que os apóstolos celebraram através das repetidas aparições do Ressuscitado,  hoje é envolto numa nuvem. Jesus os "deixa'.
            Os apóstolos apenas tinham Lhe feito uma pergunta, pois "(...) Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus". Trata-se da pergunta que continua a habitar as suas mentes, que nem mesmo a extraordinária experiência da Páscoa os fez esquecer: "Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?”, como narra a primeira leitura dos Atos dos Apóstolos (At 1, 1-11).
            Chegamos, finalmente, ao momento tão esperado, no qual Ele vai reinar sobre Israel?, teriam pensado os apóstolos que, ainda procuram um rei.
            Mas, já não deveria ter ficado claro para eles que o verdadeiro rei de Israel é um Rei Crucificado? Que o Seu trono é a Cruz, o Seu cetro, as feridas nas mãos, nos pés e no lado? Não estava claro ainda que a Sua coroa é coroa de espinhos? Não deveria estar claro, igualmente, que é assim que Jesus vence e reina? Que é na fragilidade da Sua humanidade que se revela todo o esplendor da glória da Sua divindade?
            Deveria, mas os apóstolos ainda são os mesmos, "sem inteligência e lentos de coração" (Lc 24,25), não conseguem compreender. Ainda falta algo para que o mistério seja revelado plenamente.
            É por isso que Jesus lhes faz a promessa do Espírito Santo e lhes dá um mandato: "Recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
            Como resposta à pergunta que pede maiores explicações, Ele lhes dá uma ordem como se dissesse: "Não tentem compreender, buscando explicações mundanas sobre o Reino...vão e sejam minhas testemunhas"! Dito isto, os deixa, revelando assim, a peça que faltava no mistério: "Agora cabe a vocês"!       "Agora cabe a nós", escutam os apóstolos. A nós, que participamos dos momentos dramáticos, da entrega de Jesus e da Sua dolorosa Paixão. Agora cabe a nós dar continuidade à Sua missão, com a força que nos enviará, através dos dons do Espírito Santo prometido. Cabe a nós que contemplamos, estupefatos e cheios de alegria, o Seu corpo glorioso vir ao nosso encontro naquela manhã da Páscoa.
            Mas não só aos apóstolos, pois agora cabe a nós também. À nós, que comemos e bebemos com Ele, na mesa do Seu Corpo e do Seu Sangue, ao longo de todo o caminho deste Tempo Pascal.
            A verdade é que Jesus sempre esteve conosco. De fato, só estivemos sem Ele apenas nos três dias em que repousou no sepulcro. "O noivo nos foi tirado" somente nessa ocasião, mas mesmo assim, ainda "estava" entre nós.
            Privou-nos da Sua presença quando esteve no sepulcro, para se juntar a nós em nosso mundo de desolações, derrotas, perdas, pecados e sofrimentos, onde ninguém pode entrar, exceto Ele, e do qual somente Ele é capaz de retornar, para dar-nos a alegria de Sua presença, reconstruindo-nos.
            Depois da experiência tão rica da Sua humanidade, Ele nos pede agora para dar um passo além, um salto de qualidade na fé. "Agora cabe a cada um de vocês. Quanto a mim, estarei presente na medida em que cada um tornar-me visível aos irmãos; na medida em que cada pessoa fizer transparecer a minha presença."          Mas, como poderemos, entretanto, explicar a promessa de Jesus feita no Evangelho de hoje (Mt 28,16,20)?: "Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo?"  Como explicar que a promessa é feita, justamente, no momento em que nos "presenteia" e ao mesmo tempo nos "deixa"? É compreensível, portanto, que os apóstolos fiquem olhando para céu. Afinal, estão à espera do cumprimento de uma promessa.
            Contudo, o convite dos anjos é para que aperfeiçoem o seu modo de olhar, de enxergar. Eles próprios, os anjos, habitantes dos Céus, chamam os apóstolos à verdade do que está acontecendo:  “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
            Acontece que os apóstolos O tinham visto subir ao céu envolto em uma nuvem. Agora devem proculá-Lo através da nuvem da própria humanidade, porque Jesus vive neles e através deles. Jesus vive em nós e através de nós!
            Jesus agora espera que tenhamos a disponibilidade necessária para que Ele possa fazer com que a Sua Encarnação, em nós, atinja o seu pleno cumprimento. 
            Conhecendo a nossa fragilidade, garante que receberemos a força do Espírito Santo, que dentro em breve virá para fecundar a Igreja de luz, bem como a nossa vida e a cada um de nós.
            Celebrar hoje a Ascensão do Senhor requer de cada um a disponibilidade de coração e de mente, para dar cumprimento ao mistério.
            Neste domingo em que somos chamados a dar continuidade à missão de Jesus, algumas perguntas se fazem necessárias. Será que estamos dispostos a seguir o nosso Rei, conscientes de que é um Rei crucificado? Estamos dispostos a combater com Ele o "Bom combate" (1Tim 1,18) do Evangelho? Aceitamos acolher o Seu mandato de ser Suas testemunhas, sabendo que isto significa percorrer o Seu caminho de cruz e de glória, ou melhor, da glória que brota da cruz?
            Se sim, isto é, se aceitamos a Sua proposta, então o Céu se abrirá para nós, e poderemos contemplar o "tesouro de glória" prometido. Poderemos experimentar "a grandeza do Seu poder para conosco".
            Então, a nossa humanidade se abrirá para acolher  o Dom do Espírito Santo, o Único capaz de nos ajudar a viver uma vida, verdadeiramente, evangélica. A Páscoa será plena e nós poderemos saborear a alegria verdadeira que está reservada aos Seus santos. A única alegria que ninguém poderá, jamais, nos roubar. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.br – www.inacianos.org.br).

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