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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 5 de abril de 2014

“QUEM CRÊ NÃO MORRERÁ”

(Liturgia do Quinto Domingo da Quaresma)

Nestes três últimos domingos da Quaresma a liturgia nos propôs o itinerário dos catecúmenos rumo à Páscoa.
Hoje a liturgia nos faz reviver um aspecto fundamental do Batismo, que é ser “sepultados” com Cristo, para acolher, com Ele, o dom da vida nova.
Para fazer-nos compreender este itinerário, somos levados à Betânia, povoado de Marta, de Maria e do seu irmão, Lázaro.
Assim começa a narração do Evangelho deste quinto domingo da Páscoa (Jo 11,3-7.17.20-27.33b-45): “Senhor, aquele que amas está doente”. Mas quem era Lázaro? Qual a importância de Betânia? 
Lázaro era amigo de Jesus. E como cada um de nós tem nas lembranças e no coração um lugar especial, rostos concretos que marcam as suas experiências de amizade, assim também Jesus tinha com relação a Pedro, Tiago, João... os discípulos, Marta, Maria e Lázaro, que estavam entre aqueles que tinham laços estreitos e profundos de amizade com Ele.  
A Escritura nos recorda que “Quem encontrou um amigo fiel, encontrou um tesouro” (Eclo 6,14), e estes tesouros, Jesus também nos advertiu sobre a necessidade de possuí-los.
É maravilhoso que o Evangelho deste domingo traga a pessoa de Jesus tão próximo de nós, nos mostrando na sua humanidade.
A casa de Betânia indica a importância dos relacionamentos de amizade na vida de cada ser humano. É o lugar da tranqüilidade, do descanso na fraternidade, da intensidade dos relacionamentos, da confidência e da alegria de encontrar-se, saboreando não simplesmente a boa comida, e talvez o bom vinho, mas também saboreando, intensamente, a beleza e a riqueza da amizade. Como é importante na nossa vida saber fazer da amizade, das nossas relações, um “lugar de descanso”.
Procuremos, então, compreender qual é a mensagem central que o Evangelho de hoje quer nos comunicar, haja vista que no diálogo que acontece entre Jesus e os discípulos, e depois entre Jesus, Marta e Maria, parece que, de fato, há dois planos de compreensão na narrativa.
Um plano que “lê” os fatos num nível de compreensão puramente humano, e outro que as “lê” com os olhos de Deus. O olho humano só consegue ver dor, angústia e tristeza nesta morte. Por outro lado, o olho de Deus vê um “adormecer”.
São João Crisóstomo escreve: ”Deus tem amigos na terra e quando o homem tem Deus como amigo, a morte muda de nome. Não é mais ‘morte’, mas é sono”.
Na verdade, tinham avisado que o Seu grande amigo estava doente. Jesus que se encontrava em uma região distante, não se apressou para chegar logo a Betânia. Havia dito aos discípulos que Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”.
Aliás, Ele já havia explicado que a escola do sofrimento tem um objetivo de redenção, quando os discípulos perguntaram, no episódio da cura do cego de nascença, quem havia pecado para que ele nascesse assim: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele”.
Quando Jesus chega a Betânia, não entra logo no povoado. As suas irmãs é que vão ao Seu encontro para acolhê-lo e para exprimir-Lhe a sua dor.  
Enquanto nós compreendemos as lágrimas de Marta e de Maria, e a compaixão de Jesus para com elas, escutemos o que Ele diz a Marta. "Seu irmão ressuscitará não só no último dia", mas naquele dia.
Depois de Jesus ter se apresentado como fonte de água viva à Samaritana e como luz ao cego de nascença, agora se apresenta como a ressurreição e a vida, e promete que quem crê n’Ele, mesmo passando pela morte, viverá.
Com a fé de Marta e Maria, uma fé ainda frágil, mas a caminho, sigamos Jesus até o túmulo e escutemos quando ele agradece ao Pai porque O escuta. Depois, escutemos o Seu grito dirigido ao amigo morto, ordenando-lhe para sair.
E eis que o amigo que estava morto retornou à vida, nasceu uma segunda vez, ressuscitado!
Tanto o Evangelho de João como a Quaresma nos apresentam uma mudança, uma “virada”. A ressurreição de Lázaro para João é o último sinal realizado por Jesus. É este sinal que provoca a decisão da sua morte e antecipa o mistério da Sua ressurreição.
No caminho catecumenal da Quaresma, depois das tentações, da transfiguração, que manifestam a humanidade obediente de Jesus e a Sua divindade escondida, depois da Samaritana e do cego de nascença, que nos apresentam os símbolos batismais da água e da luz, eis agora o sinal de Lázaro, que nos apresenta Jesus como ressurreição e vida, e nos introduz na semana santa.
Quem crê em Jesus como Messias, Senhor da vida, pode atravessar a morte sem permanecer prisioneiro dela. Pode acompanhar Jesus na sua Paixão, confiando como Ele confia no poder do Pai.
A fé na ressurreição, certamente, refere-se ao destino dos nossos entes queridos após a morte física. Contudo, diz respeito também à vida de cada um de nós agora, durante a nossa passagem neste mundo.
As duas primeiras leituras da liturgia hoje confirmam e explicam essa realidade. Ezequiel (Ez 37,12-14) anuncia a ressurreição do povo que estava no exílio, comparando esta situação à própria morte e anunciando o retorno à terra prometida.
Paulo, escrevendo aos romanos (Rm 8,8-11) lembra-nos que aqueles que vivem segundo a carne já estão como mortos. Já aqueles que vivem sob o poder do Espírito possuem uma fonte de vida que produz os seus efeitos da vida já agora, levando-nos a realizar as obras da luz, dando vida plena ao nosso corpo que é mortal, por causa do pecado.
Vencendo o pecado, Jesus já venceu a morte e abriu para nós o caminho para a vida em plenitude, que começa já neste mundo e depois, continua em Deus. Eis o significado do Evangelho de hoje: a nossa vida, a vida que vivemos neste tempo e neste espaço, já é a vida divina e, portanto, não nos será tirada, mas simplesmente, “adormecerá”. É por isso que bastará uma voz, um grito para despertá-la.
Que o Senhor nos ajude a “afinar” sempre mais o nosso ouvido para escutar a Sua voz, de modo que reconheçamos o grito, ou o sussurro, e nos acompanhe em nossa caminhada, para que, em todas as situações em que experimentamos a morte, possamos experimentar a força nova e eterna que vem do Seu amor e da Sua amizade para com cada um de nós. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano formador@inacianos.org.br – www.inacianos.org.br).



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