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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

COM OS RINS CINGIDOS E AS LÂMPADAS ACESAS

 (Liturgia do Décimo Nono Domingo do Tempo Comum)

Este Décimo Nono Domingo do Tempo Comum propõe o tema da Fé, justamente no Ano da Fé. Depois da parábola do rico “louco” e do convite a enriquecer-nos aos olhos de Deus no domingo passado, a liturgia de hoje nos fala da espera, lembrando-nos que o cristão é alguém chamado a viver cada instante da sua vida no amor, esperando assim, o retorno d’Aquele que nos amou até a morte.
Depois de ter tratado do tema da fé diversas vezes, através das suas conexões com outras questões importantes a Palavra de Deus nesta liturgia apresenta de modo mais direto, evidenciando o centro do tema da fé através do capítulo 11 da Carta aos Hebreus (Hb 11, 1-2. 8-12): “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem”.
 A Carta destaca a fé de Abraão, o antepassado de uma longa descendência de crentes que, pela fé “partiu, sem saber para onde ia. Foi pela fé que ele residiu como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas com Isaac e Jacó, os co-herdeiros da mesma promessa”. 
Portanto, quem vive na fé é peregrino, não só porque muda concretamente  de moradia, armando a sua tenda aqui e acolá, mas porque, caminhando rumo ao mistério de Deus, é estimulado a mudar, a não se acomodar ou estacionar, bem como é chamado a viver fora dos esquemas, vencendo a ideia de já ter chegado ou terminado sua caminhada.
Nesse sentido é interessante pensar que o termo “paróquia”, que vem do grego significa “entre as casas”. No sentido de que é uma referência entre as demais casas de certa localidade, a paróquia, de fato, deve ser em primeiro lugar “a tenda dos crentes entre as casas”, a habitação simples e provisória daqueles que caminham com fé e que convidam outros a se tornarem companheiros da mesma viagem.
Ao mesmo tempo viver a vida na fé é também caminhar na luz porque é “um modo de já possuir o que ainda se espera”, de acordo com a segunda leitura. Através dela, de fato, podemos nos tornar capazes de ver o que os outros não vêem e, conseqüentemente, capazes de colocar a própria vida “em jogo”, concretamente, por coisas que outros poderiam julgar como sendo uma loucura, como a vida consagrada e sacerdotal, por exemplo.
A introdução do Evangelho é rica em ternura. Jesus convida a não temer, chamando os seus amigos de “pequeno rebanho”. Em seguida usa imagens que não indicam uma espera positiva.
Mas o administrador fiel e prudente do Evangelho (Lc 12, 32-48) sabe bem que o patrão cedo ou tarde vai voltar e, por isso, emprega todas as suas energias para preparar o seu retorno. Esta não é, certamente, uma espera tranqüila, mas cheia de preocupações. 
Enquanto isso, a espera deve se transformar num serviço de amor. Esta preparação, obviamente, não pode ser baseada no medo de ser julgado, mas na confiança que, de acordo com a ordem do dono da casa no momento da sua partida, é a coisa certa a fazer, porque é o melhor para a vida do servo. Aliás, o verdadeiro servo não tem medo de dizer, crer e de viver esta realidade: “venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade”!
Mas os servos, na ausência do dono da casa podem também ter um pouco de tempo “livre” e podem, inclusive, distrair-se, pois esperam que o patrão demore. Com razão, o dono da casa não espera o ladrão, mas pelo contrário, espera que ele nunca venha.
Jesus não pretende aqui colocar no centro do Seu ensinamento a pessoa a ser esperada, mas o modo como se deve esperar. Trata-se da vigilância!
Se os servos e os donos da casa são vigilantes a respeito de quem não desejam a visita, no caso do ladrão, quanto mais nós devemos ser vigilantes a respeito de quem, na alegria, queremos que venha nos visitar.
Ser vigilantes com relação ao Senhor significa reconhecer que Ele sempre “vem” na nossa vida, e “bate à porta”. Isso confere um sentido todo novo aos nossos dias.
Significa também admirar-se todos os dias com Aquele que somos chamados a servir e que é Ele quem nos serve, como no único e extraordinário gesto do lava pés. Aí está uma imagem clara da Eucaristia, sinal cotidiano de um Deus que nos convida à Sua mesa e se aproxima de cada um de nós para servir-nos, dando-Se a Si mesmo a nós!
Entre todos os funcionários chamados a esperar, há o Ministério dos responsáveis pelas igrejas e pelos pequenos rebanhos. Trata-se dos administradores, os pastores, os missionários e missionárias, os consagrados e as consagradas. Eles, entre outros, não são apenas chamados a esperar de modo vigilante, mas também são chamados a ajudar a comunidade a eles confiada a viver nesta dimensão de amor e de serviço. É por isso que somos chamados a rezar pelos nossos pastores e pelos missionários e missionárias, para que estejam sempre prontos a reconhecer a “vinda” de Deus em nossas vidas.
A fé a que se refere o texto da carta aos Hebreus, convida-nos à fidelidade, confiança, e abertura para o outro. O servo é "fiel" porque o Mestre é alguém que nos chama de amigos, é alguém que se fez Servo.
Finalmente, é bom lembrar o que tanto nos chamou a atenção o então Papa Bento XVI. Segundo ele é no encontro com Deus que o homem é capaz de reencontrar a capacidade de discernir a verdadeira liberdade. Portanto, é tendo Deus como referência, isto é, no centro de sua vida, porque quem não consegue fazer isso, corre o risco de colocar o próprio coração no centro, empregando aí as suas melhores energias, num “tesouro” que não vale à pena!
Foi com a consciência de um coração voltado para o maior de todos os tesouros que Abraão ofereceu o próprio filho Isaac, para testemunhar que, nem mesmo o que mais se ama pode substituir a Deus que é capaz de lançar o ser humano para além das suas limitações, num horizonte de beleza, verdade, paz e plenitude.
Quem não fundamenta a sua vida em Deus, quem não enraíza a sua vida na fé em Deus, não consegue nem mesmo receber o Reino de Deus, porque recebê-lo significa partilhar com Ele o modo de conceber a vida humana, de acordo com o projeto de uma humanidade à Sua imagem e semelhança. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.brwww.inacianos.org.br). 


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