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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA!

(Liturgia da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora)
A Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, celebrada no Brasil neste domingo, substituindo a liturgia do Vigésimo Domingo de Tempo comum, nos convida a refletir e a concluir que, como Maria, cada um de nós é peregrino neste mundo e não meros “passageiros” ou “turistas”!
Há, de fato, uma diferença substancial entre ser peregrino e ser “turista”. Trata-se da meta e da esperança que cada um tem em alcançá-la.
O “turista” e o peregrino podem até percorrer a mesma estrada, encontrar as mesmas pessoas, enfrentar as mesmas lutas, mas o peregrino sabe muito bem onde está indo, aonde quer chegar e o que o faz caminhar! O turista, nem sempre! O peregrino enfrenta o caminho com a esperança de quem sabe que precisa fazer todo o possível para chegar à sua meta!
A solenidade da Assunção de Nossa Senhora nos lembra que somos peregrinos nesta vida, e não apenas passageiros ou “turistas”. Recorda-nos também que a nossa história, conduzida pelo amor de Deus, não é “escrita” em episódios sem sentido, que nos jogam de um lado para o outro, mas que, pelo contrário, nos lança na direção de uma meta e de um futuro!
A segunda leitura, da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (15,20-27ª) afirma que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram”. Isto é, Cristo é Aquele que, através da Sua morte e ressurreição, reabriu as postas do céu para cada pessoa. A ressurreição de Cristo, portanto, transforma a morte numa passagem que nos permite ser acolhidos nos braços do Pai e gozar da mesma alegria e da mesma paz de Cristo, em plenitude. Se a primazia da ressurreição é Cristo podemos, então, sem meios termos, dizer que a Assunção de Nossa Senhora ao céu é o primeiro fruto de tal primazia.
A festa da Assunção nos lembra que temos um destino e um futuro marcados pela plenitude de vida na comunhão com o Pai e, ao mesmo tempo, constitui um mistério para a nossa fé. Mistério a revelar que também nós, assim como ela, somos destinados a ressurgir um dia, de corpo e alma; ou seja, com tudo o que somos e com toda a nossa história. Quando isso acontecer, significará que as nossas relações de amor, vividas com o coração e os gestos do nosso corpo, encontrarão a sua plenitude e a sua realização enquanto meta, no amor de Deus.
Portanto, nada da nossa história se perderá, nada terá sido vivido sem um sentido, nenhum daqueles gestos de fidelidade, de amor, de humildade, de justiça realizados “de corpo e alma” terão sido em vão.
Mas a festa da Assunção de Nossa Senhora não nos fala apenas da meta e do futuro. Fala-nos também do caminho que percorremos como peregrinos, no presente. Na verdade, isso deveria ser suficiente para nos levar a uma profunda reflexão sobre a nossa própria vida e sobre como a estamos vivendo, bem como sobre os caminhos que estamos trilhando porque, o peregrino, isto é, o cristão, é chamado e estimulado a mudar, não geográfica ou fisicamente, mas a não se acomodar ou estacionar, a viver fora dos esquemas e a vencer a ideia de que já ‘chegou” ou terminou a sua  caminhada.
Muitas vezes, no entanto, a leitura que fazemos da nossa vida é um pouco pessimista. Quem de nós já não pensou que gostaria de ter feito mais ou de ter feito ou agido melhor? Quem de nós já não pensou que poderia ter feito escolhas mais corajosas, mais éticas? Certamente, quando esses pensamentos nos vem à mente, ficamos um pouco desiludidos, desencorajados e até mesmo desanimados!
Na primeira leitura (11,19a; 12,1. 3-6a.10ab) do livro do Apocalipse de São João O Dragão parou diante da Mulher, que estava para dar à luz, pronto para devorar o seu Filho, logo que nascesse”. Mais do que a imagem de Maria, nesta mulher podemos encontrar a imagem do povo de Deus e, por que não, de toda a humanidade! Este quadro do Apocalipse nos ensina que, diante do novo possível que Deus nos mostra e quer fazer nascer na vida da Igreja, da humanidade e na vida de cada um de nós, existe o mal que se opõe e tenta devorá-lo! Mas a leitura prossegue com um epílogo belíssimo: A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar”.
Como é maravilhoso pensar que o novo, o bem vence porque está nas mãos de Deus! Percebamos que a mulher não retém o filho que nasce para si mesma, mas o coloca nas mãos de Deus. É por isso que o deserto, o lugar para onde fugiu vai se tornar um refúgio preparado pelo próprio Deus.
A Assunção de Nossa Senhora já tem o seu início na Anunciação, quando ela acolhe o novo e a salvação que Deus quer realizar na sua história, e que se exprime concretamente na viagem que ela realiza até a casa de Isabel, como escutamos no Evangelho (Lc 1, 39-56) Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia”. A história de Maria torna-se, assim, uma assunção contínua! É um caminho seguro guiado por Deus!
É claro que o seu caminho é feito também de “deserto”, mas nada poderá “devorar” a sua esperança, a sua alegria e os seus amores, porque tudo isso ela coloca nas mãos de Deus, como se não lhe pertencesse mais. Desde o início da sua história o que prevalece é o olhar de Deus. A sua vida está nas mãos d’Ele! É isso que fará com que ela seja bem-aventurada, feliz e cheia de Graça, aos olhos de Deus!
Nada na Assunção de Maria poderia ser diferente, porque tudo nela sempre pertenceu a Deus e ao Seu projeto para a sua vida: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra!” (Lc 1, 25s). Aliás, o próprio Jesus disse um dia aos Seus discípulos: “alegrai-vos, porque os vossos nomes estão escritos nos céus”! (Lc 10,20).
Hoje esta celebração coloca ou recoloca cada um de nós a caminho como peregrinos, de uma maneira toda nova. Isso só poderá acontecer quando permitirmos a Deus “dispersar os soberbos e derrubar os poderosos de seus tronos”; quando começarmos a parar de pensar que nós mesmos somos a fonte de nosso próprio bem e do bem dos outros.
Quando isso acontecer compreenderemos que a verdadeira graça que alguém deve esperar durante a sua existência, é a certeza de viver bem, não porque é auto-suficiente, mas porque é guiado pelas mãos de Deus. Então, será compreender, finalmente, a diferença entre uma vida vivida segundo a própria vontade que quer, deseja e luta, muitas vezes, em vão, e uma vida vivida na capacidade de aderir à vontade de um Deus misericordioso.
Peçamos, portanto, ao Senhor, que a celebração da festa da Assunção possa, além de revelar a esperança do nosso futuro e de toda a humanidade, nos dê coragem de permitir que Ele conduza, no Seu amor, a nossa vida, exatamente como Maria fez! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.brformador@inacianos.org.br)

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