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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A SALVAÇÃO É DOM UNIVERSAL

(Liturgia do Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum)

Neste vigésimo primeiro domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus nos leva a refletir sobre as pessoas que encontramos pelas estradas da vida e que reivindicam direitos e que lutam por privilégios, exigindo um tratamento de VIP – “Very Important Person”, isto é, Pessoa Muito Importante”.
Pessoas assim pretendem ser tratadas sempre com preferência e reverência, simplesmente pelo fato de pertencerem a este ou àquele grupo social, ou por terem este ou aquele título ou cargo. Quem assistiu ao Auto da Compadecida, do brilhante Ariano Suassuna, ainda pode se lembrar da morte de algumas pessoas, como a do bispo, por exemplo, interpretado por Lima Duarte e da sua chegada às portas do Paraíso.
Na verdade pessoas com essa atitude, em longo prazo, irritam e despertam a antipatia dos que as cercam, porque se tornam insuportáveis, ao imaginar que o mundo gira em torno delas e que tudo o que acontece no universo tem a ver com elas. Afinal, elas são VIP’s.
São aquelas pessoas que, às vezes, soltam expressões como esta: “você sabe com quem está falando?” ou ainda, “com quem você pensa está falando?”, expressão a que se poderia muito bem responder ironicamente: “não, não sei... diga-me com quem estou falando?” Mais certeira ainda poderia ser a resposta: “quem você pensa que é?” Mas nem todos aprovamos o recurso da ironia.
Sabemos que a atitude de auto-supervalorização é totalmente contrária à regra universal da igualdade e ao equilíbrio das relações interpessoais.
Relacionamentos baseados nesse estilo de vida, ou seja, em relacionamentos interpessoais desequilibrados, mais cedo ou mais tarde, revelam o grande erro desse tipo de atitude. O erro consiste, justamente, na tendência de impor e de querer viver os relacionamentos nos termos dos direitos com relação a si mesmo e dos deveres com relação aos outros. Nesse caso, ao outro cabe apenas os deveres para comigo e a mim, apenas os direitos com relação a tudo!
Não raro percebemos que, na maioria das vezes, a maneira com que nos relacionamos com as pessoas e as atitudes que temos com relação às questões da vida e da convivência interpessoal, se traduzem na mesma maneira e mesmas atitudes no relacionamento com Deus.
Quem se relaciona com as pessoas e, mesmo sem perceber, com Deus no nível dos direitos e deveres, provavelmente concluirá erroneamente que, pelo fato de observar os mandamentos, de se comportar de acordo com algumas regras, de ser dizimista e de ajudar ou trabalhar na comunidade paroquial, e também porque participa das missas aos domingos, porque sabe muito sobre a bíblia, necessariamente terá garantido o “direito” à salvação. Nesse caso, Deus não fará mais do que a Sua obrigação ao dar, mediante tudo isso, a salvação.
Na verdade, trata-se da mesma lógica perversa da negociação. E por que não dizer da prostituição, em que quando alguém “paga”, o outro deve dar algo ou prestar algum serviço em troca, porque está devendo.
Esta consideração seria suficiente para não nos deixar impressionados diante da resposta que Jesus dá àquele “alguém” que Lhe pergunta no Evangelho deste domingo (Lc 13,22-30): “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” De fato, é sobre esse assunto o ensinamento de Jesus neste domingo.
Trata-se de um ensinamento que, como acontecia muitas vezes, é feito ao longo do caminho, na rua, "prosseguindo o caminho para Jerusalém”.
Mais uma vez alguém, a partir de uma pergunta bastante estranha e que faz uma conclusão com certo desânimo, dá a Jesus a oportunidade de ensinar sobre salvação universal.
Ao que parece esse “alguém” nos permite supor que Jesus havia, anteriormente, ensinado algo que causou certo impacto.
Jesus responde a esta pergunta, quase irritado e com uma série de "avisos" e advertências, que chegam mesmo a assustar os ouvintes.
É como se Jesus quisesse responder que é preciso ter todo cuidado, pois quem espera ou acredita ser salvo apenas pelo fato de se considerar “VIP”, isto é, pelo fato de pertencer à raça judaica, pela sua observância formal a regras e prescrições, será seriamente decepcionado e desiludido.
Isso serve também, inclusive, para nós cristãos de hoje. É preciso compreender que nenhuma obra que façamos, ainda que seja a obra mais bonita ou mais caridosa nos garantirá a salvação, como Jesus conclui no Seu ensinamento.
Na verdade, alguém que pensa assim terá sérios problemas: “Ali haverá choro e ranger de dentes... há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”!
É de estremecer ouvir o “suave” Jesus tratar assim os Seus conterrâneos e seguidores. Igualmente estarrecedor é ouvi-Lo descrever a atitude do “dono da casa” com relação a tais pretensões: “Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: “Senhor, abre-nos a porta”!... e ele declarará: Não sei de onde sois (...) afastai-vos de mim, todos vós, que praticais a injustiça”!
 A conclusão do ensinamento de Jesus faz referência ao conceito do "chamado universal à salvação". Alguns ficarão maravilhados, outros, escandalizados com o modo como Deus abre as portas da salvação, isto é, as portas da fé, para todos.
É verdade que "Deus sempre desaponta quem O imagina, ou O concebe a partir de si mesmo, da sua própria lógica e ou dos seus esquemas. Aliás, são inúmeras as parábolas contadas por Jesus que mostram que a lógica do Reino, a lógica de Deus ultrapassa as nossas idéias de perdão, de justiça e de amor.
Também é verdade que é útil e necessário à nossa caminhada para a salvação aprofundar os motivos pelos quais ficamos “desapontados”, como aquele “alguém” que dirige a Jesus a pergunta no Evangelho.
Só assim será possível libertar as nossas mentes do pensamento que alimenta uma ideia equivocada de Deus que nos foi transmitida, de acordo com uma lógica puramente mundana e materialista. Para isso é preciso pedir a graça Àquele que, na Trindade, é Especialista em nos ajudar a clarear as idéias e os pensamentos. Vinde, Espírito Santo! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.brformador@inacianos.org.br).

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