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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 11 de maio de 2012

O AMOR: FONTE DA ALEGRIA PLENA!

(Liturgia do Sexto Domingo da Páscoa)

A Palavra de Deus neste sexto domingo da Páscoa nos permite olhar para a realidade à nossa volta para perguntar o que nos restará de uma sociedade na qual se tem “tudo” e ao mesmo tempo não se tem nada. Ao lançar esse olhar constatamos que falta “tudo”, mesmo tendo-se muitas coisas. Passamos por crises que vão além da econômica, em todo o mundo, em bora em alguns países esta seja mais grave. Crise nas relações, crise de valores e de identidade.
            Jesus conhecia muito bem o nosso coração, tão preso a si mesmo e às aparências.  No discurso de despedida na última Ceia, no Evangelho convida os discípulos, que estão prontos para a fugir e a abandoná-Lo, a não abandonar o amor. “Se o ramo for separado da videira, ele seca”, dizia Ele no domingo passado. Hoje a imagem da videira dá forma àquilo que a justifica. Isto é, dá lugar ao amor de cujo Pai é a fonte. “Como eu guardei os mandamentos do meu Pai”!
O Pai, na verdade, é o protagonista, pois é do seu amor pelo Filho que provém o amor do Filho pelos seus.  E todos nós precisamos desse amor de Pai. Como é triste ser órfão! É o amor, que dá sentido a cada ínfimo momento da nossa existência, porque não é um amor “eterno enquanto dura", como se houve e se vê por aí. Não é um sentimentalismo causado por uma bela melodia!
Não! É um amor sério! Um amor com “sabor” de cruz, de Pão e de Verdade que nos dá a plenitude da alegria. Uma alegria que, inclusive, suporta tristezas, decepções e frustrações sem que se perca, porque não é sustentada pelo bem estar, mas pelo amor, dom do Espírito. E se tem uma coisa que nos tira do conforto do bem estar é, sem dúvida, o amor. Porque ele exige muito de nós! “Livrai-nos, Senhor, de devoções bobas e de santos tristes”, dizia Santa Tereza D’Ávila. Como é possível ter um rosto triste quando Jesus, o Esposo, no faz o convite para uma festa que não terá mais fim?
            Hoje o Senhor, nesta maravilha de tempo Pascal nos “acorda” novamente do sono do espírito adormecido e nos desperta da letargia da alma, dizendo a cada um de nós: "Coragem! Permanecei em mim e você será feliz”. Ama e estarás na alegria verdadeira! Ama e serás tu também um evangelho vivo! Portanto, os cristãos não poderiam ser associados à outra coisa que não fosse amor e alegria!
            O cristão é alguém que sabe que a alegria verdadeira é inalcançável para aqueles que pensam ser possível encontrá-la através de estratégias e iniciativas individuais, como se bastasse para tanto, por exemplo, conseguir realizar um bom casamento ou uma bela carreira profissional, ou ainda conseguir uma bela e confortável casa no campo, depois da aposentadoria. O cristão sabe que “estar” na verdadeira e plena alegria anunciada por Jesus, consiste em viver o momento presente cumulando-o desse amor, mesmo em meio às provações e dificuldades.
            Para o cristão essa alegria corresponde a uma certeza: sei que sou amado! Sei que sou filho! É a respeito disso que Jesus quer nos convencer, quando nos diz: "Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”.
            No Evangelho e nas cartas de João Deus está presente não tanto como o Onipotente, o Soberano Absoluto e Eterno que rege tudo com Sua vontade, mas simples e incontestavelmente como “Aquele que ama”! Se é verdade que uma das melhores coisas de se escutar e a mais bela expressão de quem ama é dizer “eu sei que tu me amas”, esta mesma expressão e as mesmas palavras podemos murmurar a Deus, com imensa confiança: “Eu sei que Tu me amas sempre e incansavelmente. Sei que qualquer coisa que eu tenha feito na minha vida passada, qualquer coisa que venha a fazer na minha vida futura, nada poderá separar da Tua bondade, da Tua misericórdia e do Teu perdão”!
            O amor de Deus gera uma alegria absolutamente inatingível porque se apresenta sob a forma de uma amizade profunda. Quem tem amigos verdadeiros sabe disso! “Não vos chamo mais de servos... mas vos chamo de amigos”, disse Jesus aos seus discípulos, noutra ocasião.  A amizade como essa de Deus por toda a Sua criação elimina as distâncias, supera o medo, liberando o espaço para a confiança e entra num relacionamento sempre mais aberto à beleza do doar. Mas não nos iludamos. Esta alegria não nos é dada para que a guardemos dentro de nós como um dom privilegiado e exclusivo. Jesus, de fato, nos versículos seguintes dirá: “Eu vos constituí para irdes”. Como é possível “permanecer”, isto é, “morar” e partir ao mesmo tempo? É possível quando compreendemos que a natureza do amor é sempre movimento e dinamismo. Isto é, quem se sente amado não pode instalar-se no amor. Pelo contrário, sente necessidade de amar.  "Amor est via" (Amor é caminho), diziam alguns autores medievais. De fato, o amor é verdadeiro quando está a caminho, buscando alcançar mais e mais pessoas.
            Jesus não fala do amor como um ato de caridade, mas como um mandamento! É como se quisesse nos ensinar que amar é uma exigência profunda da alma para se chegar àquela alegria plena que Ele prometeu.
            É isso que o Apóstolo Pedro, na casa de Cornélio, experimenta quando vê que o dom do Batismo é um desejo de Deus para todos! Sem preferência ou acepção de pessoas. É também isso que experimentamos quando percebemos que o amor sempre impulsiona para outros lugares, tempos e circunstâncias, sem que jamais nos demos por satisfeitos.             Enquanto houver, ainda que seja uma só pessoa no mundo que se sinta “órfã”, cabe a cada um de nós ir e fazer com que conheça o Pai. Fazê-la sentir-se amada, dando-lhe, assim, a alegria plena, que nada no mundo poderá tirar! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

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