(Liturgia
da Solenidade da Santíssima Trindade)
Refiro-me à fé na Trindade Santa, da qual temos que ter plena consciência, já que a proclamamos cada vez que fazemos o sinal da Cruz.
O Cristo, o Unigênito,
como afirma São João no Evangelho de hoje (Jo
3,16-18), é dado ao mundo pelo Pai que "amou tanto o mundo, que enviou o seu
Filho unigênito". Podemos fazer referência deste termo
ao possível sacrifício de Isaac. Ele nos dá uma confiança, se isso for
possível, até mesmo maior do que a de Abraão que, deixando tudo, partiu da sua
terra, deixou sua parentela, rumo ao desconhecido. Aqui Cristo nos indica o caminho da redenção. Trata-se do
Seu Caminho. Caminho que se baseia
na promessa que garante que "todo
aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna". Por isso o
Pai enviou o Filho e, por isso, o Filho prometeu e nos deixou o Espírito Santo
como o "Grande Advogado". A
Santíssima Trindade é a expressão deste amor misericordioso, porque "Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas
para que o mundo seja salvo por Ele". Contudo,
para não incorrer na condenação, o mundo deve crer nele pois, "quem nele crê não será
condenado".
O Evangelista João esclarece como o
Cristo é o elemento principal deste itinerário de salvação, através do
"aviso" "quem não crê já
está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigênito de Deus".
O sinal desta salvação, é a paz interior, o desejo de imitar o Cristo, o
máximo possível. São Paulo, na segunda leitura de hoje da segunda carta aos
Coríntios (13,11-13) o diz com toda
a clareza: "Irmãos: Alegrai-vos, trabalhai no
vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o
Deus do amor e da paz estará convosco". Estes são os sinais que a paz de Deus
habita em nós e que a graça da Santíssima Trindade está presente em nossos
corações.
"A
graça de nosso Senhor, Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito
Santo esteja convosco", saudação do sacerdote no início das
celebrações, para nos lembrar que sem o auxílio do Deus Uno e Trino não podemos
fazer nada de, realmente, bom por nós mesmos e pela nossa salvação. Outras
palavras do mesmo apóstolo para expressar a mesma verdade.
A nossa salvação e a salvação do nosso próximo não pode depender de nós mesmos.
Podemos colaborar com a nossa salvação e com a salvação do próximo, mas não
podemos providenciar a salvação, nem para nós, nem para os outros. O que se
espera de nós, da nossa parte, é que possamos abrir os corações e a mentes para
aderir ao Senhor com humildade e pureza de coração evitando, como lembra a primeira
leitura, as nossas limitações: " embora este seja um povo de cabeça
dura".
É por isso que devemos pedir a Deus,
na mesma oração de Moisés, para que "perdoe
as nossas culpas e os nossos pecados, e acolha-nos como propriedade Sua"
(Êx
34,4b-6.8-9).
Com a atitude de súplica confiante
em Deus, reconhecendo as fraquezas humanas diante da Sua grandeza, Moisés nos
estimula a sermos também "intermediários", isto é, intercessores em
favor do próximo.
Foi, justamente, por isso que Moisés
" curvou-se
até o chão", prostrado na presença do Senhor. A sua oração é um grito que exclama
“Senhor, Senhor! Deus misericordioso e
clemente, paciente, rico em bondade e fiel”. Neste reconhecimento de deus está
o caminho da salvação. Isto é, no colocar em prática a graça e o perdão,
convictos que o Senhor fará justiça aos
seus filhos e filhas.
Tal atitude não significa apenas uma
certa resignação piedosa, fruto da incapacidade de reagir. Pelo contrário, é um
grande ato de fé em Deus, único capaz de realizar a justiça misericordiosa. A
oração de Moisés nos lembra que também nós somos um povo de cabeça dura e, como
recorda o Evangelho, "Quem não crê
já está condenado".
Mas, celebrar a Santíssima Trindade, de fato, nos leva a tomar consciência de
que o Pai Criador é "ator"
principal de toda a obra, de toda a criação. Ele age, principalmente, enviando
o Seu Filho, não para condenar, mas
para salvar o mundo. Lembra-nos também quem pode ser condenado, isto é, quem
não crê. Mas, também e principalmente, que o Espírito Santo, o paráclito, é Quem defende e consola os
condenados.
O famoso
e belíssimo ícone da Santíssima Trindade nos convida a fazer parte da dinâmica
salvadora da Trindade, fazendo-nos um convite divino. De fato, os Três Anjos
sob a tenda de Abraão estão sentados em círculo em torno da mesa da Eucaristia.
Não poderia ser diferente, pois é a Eucaristia que atualiza o Mistério Pascal,
que por sua vez, é a síntese de toda a história da salvação.
O Anjo ao centro representa Cristo, o Senhor, cuja mão
indica o Cálice Eucarístico, direção para a qual o olhar dos Três está voltado,
isto é, o olhar do Pai que está à direita e do Espírito que está à esquerda.
O círculo divino não está fechado! Está aberto à
frente, como um lugar vazio oferecido a quem o contempla e “recebe” o convite
do Anjo que está no centro, apontando para a Eucaristia, convidando-nos a
entrar na relação trinitária, cristológica, pneumática e eclesial. Ou seja, convidando-nos a participar da vida
da comunidade trinitária. Frei Alfredo
Francisco de Souza, SIA - Missionário Inaciano - www.inacianos.org.br - alfredodesouza1966@gmail.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário