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sábado, 15 de março de 2014

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
(Liturgia do Segundo Domingo da Quaresma)

Chegamos ao Segundo Domingo da Quaresma.
Na liturgia de hoje todas as três leituras tem como ideia principal o chamado que Deus faz ao homem. Trata-se do convite a experimentar na própria vida quem Ele, realmente, é.
A primeira leitura (Gn 12,1-4a) narra o espetacular e incrível chamado de Abraão. Estamos há cerca de dois mil anos antes de Cristo. Deus ainda não era conhecido, a bíblia não existia, os profetas ou alguém semelhante, capaz guiar um homem que quisesse descobrir quem era Deus, também não existia.
É neste contexto que vem a ordem de Deus: “Abraão, “Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar”.
Incrível! O texto diz que era o Deus e que o chamado foi feito por Ele. Mas, como Abraão podia saber que era o Senhor? Que aquela voz, de fato, vinha de Deus? O texto não diz que Deus apareceu a Abraão, mas apenas que o senhor disse, falou a Abraão.
Podemos imaginar qualquer coisa, mas o que é notável é o fato de que Abraão obedece a esta voz e parte. Para onde? Ele não sabe nada naquele momento, mas confia, naquela voz cegamente. O motivo? As promessas que a mesma voz lhe faz, promessas que seduzem e desejo de qualquer homem: tornar-se grande, ser abençoado por Deus, isto é, ter sorte. O texto termina assim: “E Abrão partiu, como o Senhor lhe havia dito”... Isto é, põe-se a caminho confiando naquela voz.
O Evangelho também diz que Jesus toma consigo, isto é, chama, três discípulos que não apresentam qualquer reação ao convite. Não perguntam nem por que, nem para onde Jesus os está conduzindo.
Jesus os conduz para o alto de uma montanha e ao longo do caminho, nem mesmo Pedro pergunta para onde estão indo ou o que farão.
Neste domingo temos, portanto, a narrativa da Transfiguração. Trata de uma experiência na qual os três experimentam que Jesus é Deus, portanto, eles encontram Deus, vêem Deus. Quanto a Abraão, sabemos que se tornará o amigo de Deus, modelo de quem tem fé em Deus.
Ambos os chamados são convites para fazer a experiência de Deus, para conhecer melhor a Deus: mas isso é óbvio para nós. Para eles, no entanto, não.
O que nos faz perder o fôlego é a maneira abrupta com que Deus chamou Abraão. Diz o livro de Judite que Abraão teve que passar por muitas tribulações, podemos lembrar do sacrifício do seu filho Isaac no seu caminho para o conhecimento de Deus.
O texto de hoje mostra, justamente, o começo deste duro caminho. Sabemos que para os três discípulos a experiência da Transfiguração não foi suficiente para a sua caminhada de conhecimento de Cristo. Será necessária a duríssima prova da Paixão, que encontrará o seu cumprimento na ressurreição.
Parece ser este o método através do qual Deus se faz conhecer. Para cada um, ou mesmo com todos o faz de maneira diferente, pessoal. Lembremos de Jó. Depois de todos os sofrimentos, logo dirá: “Eu te conhecia ‘por ouvir dizer’, mas só agora os meus olhos te viram”!
Começamos a Quaresma e poderíamos pensar; “será como tem sido todos os outros anos... não há nada de novo. Diante disso vale à pena lembrar que este pensamento, infelizmente, expressa a ideia de que não há nada de novo com relação àquilo que já somos.
Mas o grande pedido da Quaresma não é, justamente, “crescer no conhecimento do mistério de Jesus Cristo”? De fato, nós rezamos e manifestamos que queremos conhecer mais e melhor a Jesus. Por outro lado, temos a dificuldade de enxergar as reais necessidades deste tempo quaresmal, propício para o crescimento.
Em síntese, o que ainda podemos aprender sobre Jesus? Vejo esta provocação nas leituras de hoje, mesmo se não vemos a novidade que o Senhor quer nos trazer nesta Quaresma, isto é, o conhecimento de Cristo, o nosso grande erro seria renunciar a caminhar nesse processo.
Abraão parte mesmo quando não sabe em que direção ir. Ele confia e pronto! Nós somos mais afortunados do que ele, porque temos Jesus, como no Evangelho de hoje (Mt 17,1-9) que nos guia, que é nosso Mestre.
Entre outras coisas, este é o resumo do Evangelho de hoje: o Pai nos dá, na verdade, a ordem para escutá-Lo. Aliás, esta é única ordem que Deus nos dá no NT.
Escutá-Lo quer dizer colocar-se no caminho para conhecer Deus, para fazer a experiência de Deus na própria vida.
Talvez o desânimo tome conta de nós pelo fato de não podermos prever o percurso deste conhecimento de Deus. Mas é justamente nisso que está a beleza de, como diz o Papa Francisco, “deixar-se surpreender por Deus”. Quando pensamos em desistir, é então que Deus nos faz dar os maiores passos, para nos ensinar que é Ele quem se revela a nós. Portanto, não é fruto dos nossos esforços.
Deus usa o caminho do sofrimento para abater as nossas certezas, sinais do nosso orgulho. Somente na humildade seremos capazes de confiar inteiramente em Deus. É isto que nos pede o Senhor hoje, nesta quaresma.
Só quem experimentou a beleza do encontro com Deus na própria vida, só esses compreendem qualquer tipo de sofrimento diante da experiência do conhecimento e da aproximação de Cristo.
Peçamos hoje a Deus o dom da confiança total n’Ele. Peçamos o dom de abrir-nos ao Seu chamado, de ter a coragem de dizer sim, mesmo quando não o compreendemos ou quando nossos planos dão errados, para poder experimentar a doçura e a beleza da descoberta de Deus em Jesus Cristo. Que Maria, Mãe e Mestra da confiança em Deus nos ajude nesse caminho. (Frei Alfredo Francisco de Souza – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.brwww.inacianos.org.br).

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