(Liturgia do Décimo Primeiro Domingo do
Tempo Comum)
“Ora, se a Justiça vem pela lei, então
Cristo morreu inutilmente”. É o que nos diz São Paulo na segunda leitura
escrita aos Gálatas (2,16.19-21),
neste décimo primeiro domingo do Tempo Comum.
A afirmação
paradoxal de uma morte vã de Jesus exprime bem a grande preocupação do
Apóstolo, que perpassa toda a sua missão e todos os seus escritos.
Pensar que
possa ser a observância de uma regra que vai nos salvar ou justificar-nos, como
disse Paulo, significa tornar vão tudo aquilo que Jesus fez e ensinou.
Mas por que
Paulo é tão peremptório nesta afirmação? Porque chega a usar palavras tão
fortes e decisivas? Porque ele sabe que, nesse caso, o perigo é real para os
seus irmãos e irmãs das comunidades cristãs que fundou. Não só para esses, mas
o mesmo será para os fieis que em todas as épocas se inspirarão em Cristo e o
seguirão.
Um risco
sutil, mas capaz de tornar vã, de fato, a morte de Jesus.
Em que
consiste o risco? O risco consiste em pensar que a salvação seja mais obra
nossa ou de alguma coisa que venhamos a fazer, do que de Jesus e do dom da Sua
Graça.
Este é o
primeiro motivo da insistência de Paulo: o primado de Jesus, e daquilo que Ele
fez, doando-se por nós, e não daquilo que nós fazemos, mesmo com boas intenções
ou mesmo com inspiração religiosa.
O coração
da salvação está naquilo que o Senhor fez por nós, e não naquilo que nós
podemos fazer por Ele. Paulo sabe muito bem que os cristãos correm o risco de
compreender o caminho religioso como um modo de fazer algo para Deus.
Mas o que
poderíamos fazer para Deus, ou por Deus? É Ele, pelo contrário, que faz tudo
para nós e por nós, conforme atesta a primeira leitura (2Sm 12,7-10.13), quando o Profeta Natã recorda a Davi tudo o que
Deus fez por ele.
O dom de
Deus é como um rio de águas inexauríveis. “E,
se isto te parece pouco, vou acrescentar outros favores”, disse Deus, por
meio do Profeta!
O que deixa
claríssimo que o que Deus faz é sempre mais, é sempre primeiro, é sempre fora
das nossas proporções, no que diz respeito ao que nós podemos fazer.
Naturalmente,
a história de Davi nos lembra que esse dom inesgotável espera uma resposta. Mas
a resposta, é claro, vem depois, não é a primeira palavra, é apenas o que vem
em segundo lugar, é um segundo passo.
O risco é
pensar que a salvação seja mais conseqüência e resultado de um dever cumprido
por nós, do que do amor que Jesus nutre por nós e que faz com dê por nós a Sua
própria vida na cruz.
No
Evangelho (Lc 7,36-8.3) as palavras
de Jesus a Simão, o seu anfitrião fariseu que, na realidade, nunca O acolheu de
fato, mesmo tendo-Lhe aberto a porta da sua casa, é uma referência à primazia do
verdadeiro relacionamento.
A
hospitalidade verdadeira é aquela que acolhe no coração e não apenas no espaço
físico. É aquela que nasce do amor. A autêntica hospitalidade não é um fato
externo, um modo de comportar-se educadamente, mas é fruto de escolhas
interiores pautadas no amor.
As lágrimas
daquela mulher, Maria de Betânia, exprimem exteriormente um evento interior e
criam um verdadeiro elo entre a interioridade e a exterioridade, mais do que as
palavras de Simão ou a sua “porta” que estava aberta apenas aparentemente.
O que está
em jogo naquela relação forjada no amor, Jesus o disse expressa e claramente.
Trata-se do perdão que, mais uma vez, tem Jesus como o sujeito, como Aquele que
toma a iniciativa, porque o amor de quem é perdoado vem depois. Isto é, é a
resposta e o fruto do perdão oferecido previamente.
Jesus nos
perdoa, e quando nós O acolhemos e acolhemos o Seu perdão, aprendemos a amá-Lo
e, muitas vezes o expressamos através das nossas lágrimas de arrependimento.
“Aquele a quem se perdoa pouco, mostra pouco
amor”, disse Jesus, indicando claramente a ordem desse processo: primeiro o
perdão, e depois a resposta de amor. Lembrar-nos do quanto fomos perdoados, nos
ajuda a amar muito a Jesus, como também a seguí-Lo entre as lagrimas do nosso
arrependimento e a alegria que brota do encontro com Ele. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano. www.inacianos.org.br. www.inacianos.org.br).
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