(Liturgia
do Décimo Domingo do Tempo Comum)
A Palavra de Deus põe em
evidência a sublime humanidade de Cristo que faz a vida resplandecer e, até
mesmo, é capaz de sensibilizar e transformar os corações mais
endurecidos.
“Certamente
ouvistes falar como foi outrora a minha conduta no judaísmo, com que excessos
perseguia e devastava a Igreja de Deus (...)” “Asseguro-vos,
irmãos, que o evangelho pregado por mim não é conforme a critérios humanos. Com efeito, não o recebi nem aprendi
de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo”, é o que São Paulo escreve na
segunda leitura da liturgia da Palavra deste décimo domingo do Tempo Comum. Na
carta São Paulo escreve aos Gálatas (1,11-19)
com forte sentido autobiográfico, recontando com coragem e humildade a sua
ousada conversão. Isto é, de perseguidor violento da Igreja de Jesus Cristo, da
qual juntamente com Pedro, depois se tornou coluna, ao grande missionário
pregador.
De fato, a verdadeira vida cristã
nunca será um passeio fácil por este mundo. O “vírus” da perseguição, não tanto
da perseguição violenta, que não se pode excluir também, pois muitos cristãos
ainda a sofrem por este mundo afora, mas daquela perseguição mais dolorosa, que
se insinua no coração e na mente de cada um com a dúvida, do escárnio sofrido
por causa da fé e até mesmo da marginalização social, está sempre presente no
nosso cotidiano.
Somente um sincero confronto com
os legítimos Pastores da Igreja, como fez o altivo convertido Paulo com as
autoridades eclesiais de Jerusalém, poderá ser uma garantia segura da nossa fé.
É o mesmo Paulo que declara com firmeza a força do Evangelho, não porque é obra
dos homens, mas de Deus.
De fato, a segurança de Paulo ao
anunciar a novidade do Evangelho de Cristo aos povos pagãos, consiste em
demonstrar que tudo aquilo que vai pregando e propondo, não são ensinamentos de
homens, mas de Deus.
Isso porque os ensinamentos dos
homens não levam, muitas vezes, só à morte física, haja vista certas
ideologias, mas também à morte moral, social e cultural, enquanto os
ensinamentos de Deus, com apenas dez palavras, isto é, os Mandamentos, são o
Caminho, a Verdade e a Vida para todos.
Na verdade, nos perguntamos
muitas vezes por que acontecem em nossa sociedade, todos os dias, coisas
chocantes, como vimos, em pleno centro de Londres há poucos dias, um homem
matar um semelhante seu com um golpe de facão, com uma brutal indiferença para
com seus semelhantes?
A resposta a fatos semelhantes a
esse deve ser procurada naquela miscelânea de pensamento moderno encharcado de
doses letais de agnosticismo, capaz de destruir qualquer valor do verdadeiro
conhecimento, do sobrenatural ou metafísico, e de uma teologia sadia.
O que fazer diante dessa triste
realidade? Na sua primeira Carta aos
cristãos da Igreja primitiva, São João sugere uma resposta abrangente, quando
escreve: “... Todo aquele que foi gerado
de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé”! (1Jo 5,4). Em outras palavras, se estivermos sempre do
lado de Deus e da fé, teremos a certeza que também o nosso mundo tirará
vantagem disso.
Como dissemos, a Palavra de Deus
evidencia de modo sublime a humanidade de Cristo. O Evangelho (Lc 7,11-17) deste domingo é quem nos
ajuda a perceber com profundidade esta verdade: “Quando chegou à porta da cidade, coincidiu que levavam um morto para
enterrar, um filho único, cuja mãe era viúva (...). Ao vê-la, o Senhor
encheu-se de compaixão por ela e disse: “Não chores!”. Aproximando-se, tocou o
caixão, e os que o carregavam pararam. Ele ordenou: “Jovem, eu te ordeno,
levanta-te!”. O que estava morto
sentou-se e começou a falar; e Jesus o entregou à sua Mãe”.
Neste episódio tocante, são dois
os momentos que fazem resplandecer a humanidade de Jesus: “Ao vê-la, o Senhor encheu-se de compaixão por ela (...) e “Jovem, eu
te ordeno, levanta-te!”. Cristo é o
rosto humano de Deus e, ao restituir à vida do filho da pobre viúva de Naim,
Jesus fez resplandecer o rosto de Deus
de modo admirável.
De fato, é verdade que com Cristo
Jesus a humanidade de Deus irrompe na história, ao ponto de demonstrar ser o
sinal visível e tangível da plenitude de vida e de amor do Pai, para com todos
os homens criados por Ele.
Ao imitar o Senhor Jesus e seguir
as suas pegadas, os cristãos também devem testemunhar serem pessoas com esse
estilo de humanidade a ponto de cada homem, poder realizar a própria
humanidade, na medida em que alcança e se esforça para modelar-se a partir da
mesma humanidade de Cristo.
A esse ideal, certamente, se
opõem as múltiplas contradições da nossa sociedade contemporânea onde, muitas
vezes, a crueldade, a violência, a tortura, ou mesmo a indiferença com relação
ao outro, tornaram-se coisa normal, isto é, não assustam, tampouco escandalizam
mais.
Se é verdade que constatamos que
o nosso mundo tecnicizado tem necessidade de um pouco mais de “alma”, com maior
razão podemos dizer que, nunca como hoje, a nossa sociedade árida, fria,
endurecida, insensível e individualista, “tem necessidade de um pouco mais de
coração”, que restitua aos homens a beleza dos sentimentos, o gosto pela
poesia, a espontaneidade de um sorriso e o encanto diante de um pôr de sol.
Na liturgia de hoje podemos
perceber como a Palavra de Deus faz resplandecer a vida, através dos dois episódios
e duas confirmações impressionantes da força da Palavra.
O primeiro episódio está na
primeira leitura (1Rs 17,17-24)
quando “Elias invocou o Senhor, dizendo:
“Senhor, meu Deus, faze, te rogo, que a alma deste menino volte às suas
entranhas”.O Senhor escutou a voz de Elias (...) Elias tomou o menino ... e
entregou-o à sua mãe”. Estamos no século IX a.C, quando o profeta Elias,
hóspede de uma viúva de Sarepta, com a força da Palavra de Deus, chama de novo
à vida o filho morto, restituindo-o vivo à pobre mãe desesperada.
A Palavra de Deus, confiada à fé,
especialmente à fé de um santo homem como Elias, é capaz de fazer resplandecer
a vida, não somente em quem está morto fisicamente, mas também em quem o está
moral e socialmente.
No segundo episódio contado no
Evangelho, vê-se que, do incrível milagre com o qual Jesus devolve o filho da
viúva de Naim vivo, podemos perceber que aquele jovem morto poderia ser muito
bem, cada um de nós quando e se quebramos as pontes e cortamos os laços da
nossa comunhão com Deus e a Sua Palavra, através da experiência do pecado, da
fé fria e da indiferença.
Nesse caso, Jesus é o enviado do
Pai para restituir a vida da graça e da fé, porque Ele é a ressurreição e, conseqüentemente,
é também a nossa vida. Aquele jovem morto pode representar também a nossa
pobreza humana, marcada com o selo da morte, pela qual Cristo Jesus, que é a
ressurreição, está sempre pronto a ressuscitar, libertando-a de todas as
escravidões causadas pelo pecado e, profundamente radicada no coração humano,
reduzindo a pessoa ou a ser uma única dimensão material, ou a ser manipulada como
um fantoche (Mc 15,11).
Ao ressuscitar o jovem, Jesus
restaura nele a primeira imagem que, no começo da criação, o tornava semelhante
a Deus, imagem deturpada pelo pecado, que reduziu cada homem a nutrir-se
somente com os “restos” (Lc 15,16) e
com tudo o que não é pão.
Mas em ambos os casos, mesmo se
depois de ter atravessado o mar Vermelho da liberdade, nos reencontramos, de
vez em quando, ainda no Egito das nossas escravidões, com as correntes nos
tornozelos, mesmo então, Cristo Jesus, será a nossa ressurreição, porque Ele
mesmo disse: “Eu sou a ressurreição e a
vida. Todo aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá (Jo 11,25-26).
Através de cada celebração da Eucaristia,
podemos fazer a mesma experiência e constatar que, como Jesus fez voltar à vida
o jovem filho da viúva de Naim, assim Ele repete novamente a cada um de nós: “Eu te ordeno: levanta-te da tua escravidão,
do teu comodismo, do teu desânimo, dos teus erros, dos teus medos e da tua
falta de fé, pois eu morri e ressuscitei para que tu vivas!”. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário
Inaciano – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).
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