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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 23 de março de 2013

DOMINGO DE RAMOS

(Liturgia da Comemoração da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém)

“O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas”.
O cântico do Servo Sofredor que ouvimos na primeira leitura (Is 50,4-7) deste Domingo de Ramos que abre as celebrações da Semana Santa, coloca em relação a força de oferecer as costas e a face para os torturadores e a “força” dos maus.
Significa enfrentar a violência e a injustiça sem se opor com as mesmas atitudes violentas, por causa da Palavra de Deus. Significa viver sob a necessidade de aprender de Deus a não pagar o mau com o mau, mesmo com relação aos flageladores.
Porque é, antes de tudo, a proposta que Deus nos faz de viver um amor radical, sem jamais ceder à violência, a encontrar dentro de nós uma forte resistência a esse tipo de conduta.
Não raro chegamos a pensar em como pode ser possível que esta seja a vontade de Deus; como pode ser possível que Deus queira que não respondamos ao mal, à mentira descarada de uma situação injusta? E quanto às vítimas inocentes, quem as vinga, se também Deus não faz nada? Se parece que Deus também não age?
Esta é a grande e inevitável pergunta que emana do texto da Paixão de Jesus (Lc 22,14-23,56) que escutamos hoje, mas é também a pergunta que sai do nosso coração, sobretudo quando vivemos pessoalmente uma situação difícil, em que os prepotentes e os mentirosos, os violentos e os arrogantes parecem sempre vencer. 
No entanto, a vontade de Deus é a que brilha na atitude de Jesus! E depois de tantos anos após a Sua morte, o Apóstolo Paulo a descreve na carta aos Filipenses (2,8-9), "humilhou-se, fazendo-Se obediente até a morte, e morte de Cruz, como lemos na segunda leitura.
Por obediência Jesus aceita a morte. De novo a relação entre obediência a Deus e morte. Mas por quê? E as perguntas aumentam gradualmente, na medida em que lemos a história da Paixão.  
Desde o início, as palavras de Jesus aos seus discípulos soam estranhas e enigmáticas, como por exemplo: “Agora, porém, o que tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem dinheiro, venda a sua capa e compre uma” (Lc 22,35-36). E “Por isso vos digo: esta palavra da Escritura deve se cumprir em mim: "e foi contado entre os ímpios". Na verdade tudo o que diz respeito a mim está chegando ao seu cumprimento." E eles disseram: “Senhor, aqui estão duas espadas". Mas ele disse: «basta”!
Mas o que Jesus quer dizer? Para Ele é chegado o momento da luta. Trata-se de uma luta muito mais interior que acontece antes de tudo dentro d’Ele, do que uma luta para se defender.
Essa luta deverá ser também a luta dos Seus discípulos, que terão que enfrentar um combate amargo interno que corresponderá a optar por ouvir a voz de Deus e a fazer a Sua vontade, trilhar o caminho da cruz, da não violência que aceita permanecer desarmado e “nu” diante da injustiça, da mentira e da violência.
É preciso preparar-nos, pois a luta é árdua! As espadas que lhe apresentam são rejeitadas, porque o que está em jogo é, na verdade, a sabedoria divina que rejeita a violência, mesmo diante da violência e procura outra forma de salvação. As espadas as quais Jesus se refere não são as de ferro ou de aço, mas são as armas da fé e da oração, que é possível identificar no Horto das Oliveiras, quando reza antes de ser preso: "Rezem para não caírem em tentação."
Fica claro, portanto, que a oração enquanto comunhão, intimidade e proximidade com Deus é a arma que nos ajuda na luta contra as tentações.
E quanto às tentações, à quais delas Jesus se referia? Trata-se da tentação de pegar as espadas, isto é, de responder às contradições e à violência das situações da vida com a mesma violência, multiplicando assim o mal, e não o vencendo.
A oração é a verdadeira arma capaz de recarregar o nosso coração com as energias que necessitamos para enfrentarmos o mal com o bem, e assim, seguir Jesus.
“Não encontro neste homem nenhum motivo para condená-lo”, dirá Pôncio Pilatos aos chefes dos sacerdotes.
Quando alguém faz a experiência do mal, e se mantém inocente, isto é, sem motivos para ser condenado, esta é a vontade de Deus. O caminho de Jesus é o caminho do inocente que permanece inocente, também porque decide não responder ao mal com o mal que lhe é infligido pelos outros.
Finalmente, a narração do Evangelho da Paixão fala das mulheres que preparam aromas e óleos perfumados para ungir o corpo de Jesus.  Mas é preciso lembrar que, apesar da boa vontade e devoção das mulheres, essa preparação será inútil, porque elas não encontrarão mais o corpo de Jesus no sepulcro.  Ressuscitando Jesus da morte, Deus colocará a sua marca decisiva na questão deste inocente, que não tinha nenhum motivo para ser condenado, e que escolhe percorrer o caminho da mansidão e da não-violência, aceitando, inclusive, ser morto e não se tornar vingativo, pagando o mau com o mau, tornando-se injusto como os seus algozes.
Deus, fazendo-O ressurgir da morte para a vida, vai dizer a todos: esta é, na verdade, a vida humana como desejo, Este é o verdadeiro Adão plasmado pelas minhas mãos no início, o inocente que luta para manter-se inocente, mesmo no confronto com a experiência do mau.
Nós também podemos escolher viver assim, como Jesus, segundo a vontade de Deus, no amor. Isso não é fácil, simples ou espontâneo. É fruto de uma luta, que começa pela escolha por obedecer a Palavra de Deus, por escutá-la, e por colocá-la em prática, mesmo nas situações mais difíceis e dolorosas que a vida nos apresenta. (Frei Alfredo Francisco de Souza, Sia - Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.br – www.inacianos.org.br) . 

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