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sábado, 2 de março de 2013

DEUS ESPERA, PERDOA E SALVA


(Liturgia do Terceiro Domingo da Quaresma)

A primeira leitura deste Terceiro Domingo da Quaresma (Ex 3,1-8 a.13-15) nos apresenta a figura de Moisés como um predestinado, salvo das águas, que precisava sobreviver porque era destinado a uma grande missão. A leitura retrata o momento do chamado no qual Deus se manifesta com sinais extraordinários, porque a incumbência que vai lhe confiar é igualmente extraordinária.
A seqüência dos verbos nesse texto delineia a fisionomia profunda dos dois personagens em questão. O primeiro é Moisés, cuja história é conhecida, salvo das águas pela filha do faraó, envolvido em uma briga para defender um irmão judeu, e que foge para o deserto, tornando-se, então, defensor das filhas de Jetro. É agora um humilde pastor de ovelhas de seu sogro. Chega, por acaso, ao "monte de Deus, o Horeb" e torna-se espectador de um fenômeno extraordinário. Trata-se da sarça ardente e que não se consome; "Vou aproximar-me desta visão extraordinária, para ver porque a sarça não se consome".
O outro personagem é Deus presente na sarça. Ele percebe que Moisés se aproxima e o chama pelo nome, ao que Moisés responde: “Aqui estou”! A resposta de Moisés já o coloca num movimento de disponibilidade para ser instrumento da obra salvífica de Deus, assim como responderam também Samuel, Isaías, Maria e tantos outros.
Os verbos que se seguem: vi (a aflição), ouvi (o clamor), conheço (os sofrimentos), desci (para libertar) e fazer (sair) indicam um lembrete importantíssimo. Foi Deus quem tomou a iniciativa de salvar seu povo; e Ele poderia ter agido sozinho e imediatamente. Contudo, escolhe um colaborador que, através das Suas ordens, concluirá a missão extremamente desafiadora, por longos quarenta anos.
Deus, portanto, se faz presente e age de forma extraordinária para chamar a atenção do homem. Este, por sua vez, se aproxima de Deus para ver e compreender, o que significa dizer, que ele faz uma profunda experiência com Deus. É nesse momento que Deus se revela como Aquele que É e aquele que vê!
Moisés diz a Deus o seu nome e Deus também se deixa conhecer, manifestando a sua essência. Esse conhecimento recíproco está no início do caminho do Êxodo, bem como no começo da nossa caminhada quaresmal, como caminho de conversão.
Nesse processo, Deus nos chama pelo nome, nos faz conhecer o Seu nome e no Seu nome podemos aprender o percurso planejado por Ele, cujo objetivo e ponto de chegada é a Páscoa.
O texto do Evangelho de hoje (Lc 13,1-9) é constituído de duas partes, dois momentos provocativos. No primeiro momento apresentam um problema a Jesus. Problema, aliás, presente em todos os tempos.
Trata-se de dois eventos que agitam a consciência despertando questões difíceis de resolver. Um poderoso, nesse caso, Pilatos, havia ordenado um verdadeiro massacre de galileus inocentes sob o pretexto de realizar um sacrifício aos deuses. É o homem usando o poder e a autoridade para oprimir os mais fracos, derramando o sangue de inocentes.
O segundo momento apresenta uma fatalidade. Uma torre que cai de repente e atinge tragicamente dezoito pessoas, matando-as. Entre os acontecimentos, é inevitável perguntar: por quê? Será que Deus se serve dessas contingências para eliminar ou castigar os maus?
Infelizmente, esta tem sido uma tentação na qual homem tem caído ao longo da história: genocídio, tortura, pena de morte, eutanásia, aborto, exploração dos mais fracos etc.
São manifestações do agir humano que faz parecer correto eliminar quem está irreversivelmente doente de corpo e mente, quem é considerado indesejável ou quem não traz nenhum “benefício” à sociedade. Mas Jesus revela qual são os critérios e o estilo de Deus, muito diferentes dos critérios e estilo humanos.
Deus deseja apenas a salvação e, por isso, espera que cada pessoa oriente constantemente o próprio caminho e as próprias escolhas por Ele e a Ele.
Contudo, àquele que se preocupa apenas em acumular riquezas Deus diz: “Tolo, nesta noite mesmo pedirão a tua vida... e o que tens preparado, para quem ficará”? (Lc 12,20), o que nos avisa que o temor de uma morte iminente deve ser motivo para a conversão, para mudar a direção de nossos interesses e desejos.
A segunda parte do Evangelho apresenta uma pequena parábola que contém dois personagens. O proprietário da figueira e seu empregado.
O patrão vê uma figueira que não produz figos e, portanto, quer tomar uma atitude quanto a essa esterilidade, cortando a árvore. O agricultor, ao contrário, quer salvar a figueira, sugerindo ao proprietário mais uma chance, isto é, quer dar mais um ano para que ela produza algum fruto, retomando assim, o objetivo da sua existência, para que permaneça viva.
A sugestão do empregado é, certamente, representativa da lógica de Deus, que é aqui apresentado como Aquele que quer salvar, que concede tempo e que espera. Além disso, a narração sublinha a espera de um Deus que espera operosamente.
Deus age cavando ao redor da figueira, colocando adubo para fertilizá-la, com o objetivo de uma possível transformação da figueira estéril.  
Do ponto de vista humano, uma atitude positiva para a necessária mudança de uma vida estéril para uma vida fértil. Esta é a finalidade do tempo da quaresma, tempo da espera paciente e operosa de Deus.
A segunda leitura (1Cor 10,1-6.10-12) retoma o tema  da necessidade de ler os acontecimentos dramáticos da vida como “aviso” e como uma exortação à vigilância, estimulando a conversão.
Enquanto os episódios narrados pelo Evangelho são fatos contemporâneos, Paulo, na passagem da carta aos Coríntios, faz referência à história dos “pais” do Antigo Testamento, lembrando que as experiências do Êxodo “aconteceram para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto”.
Ao apresentar a experiência da caminhada do Êxodo, nos lembra as experiências propostas no caminho quaresmal, que compreende a saída de uma visão distante de Deus e o retorno, ainda que longo e cansativo, para uma vida de fé intensa.
Paulo vê no rochedo que dava forças para continuarem a caminhada pelo deserto a presença de Cristo. Hoje o rochedo, isto é, Cristo como comida e bebida nos dá força e vigor para caminharmos, através da Eucaristia, força incomparável para sustentar o esforço rumo à nossa conversão.
O duvidar d’Aquele que age, que opera pela nossa salvação, que nos nutre para sustentar o nosso caminho, o não colocar n’Ele toda a esperança, é isso que nos impede de caminhar, como aconteceu aos que murmuravam na estrada do Êxodo. É nesse ponto que a árvore torna-se estéril, sem frutos.
O castigo dos nossos pais na experiência do deserto também constitui um “exemplo” como uma Palavra de Deus que convida a aderir com fé ao Seu amor que salva. Se compreendermos a profunda sabedoria das leituras de hoje para a vida, podemos cantar com o salmista (Sl 102):

Bendize, ó minha alma, ao Senhor
e todo o meu ser seu santo nome!
Ele perdoa todas as tuas culpas
e cura toda a tua enfermidade
o Senhor é indulgente e favorável
é paciente, é bondoso e compassivo
quanto os céus por sobre a terra se elevam
tanto é grande o seu amor aos que o temem.

A Eucaristia de hoje é para nós como aquela sarça que arde e que não se consome. Aproximemo-nos para ver de perto esse grande mistério, então ouviremos a voz de Deus que chama a cada um de nós a unir-nos ao sacramento da humanidade de Cristo que, presente no fogo do Espírito, não se consome, mas nos transforma            quando a Ele nos unimos, comendo e bebendo da Rocha espiritual. Revigorados por esse alimento nutritivo podemos ser assim, mensageiros do amor misericordioso de um Deus que perdoa e salva. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SAI – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.bwww.inacianos.org.br

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