ADVENTO: UM CONVITE À VIGILÂNCIA
(Liturgia do Primeiro Domingo do Advento – C -)
Neste domingo, o primeiro do
Advento, iniciamos um novo ano litúrgico. Trata-se de um “Ano da Graça Divina”,
sinal de um ciclo completo durante o qual o mistério de Cristo é representado e
revivido. Por isso o Princípio é idêntico ao final do ano litúrgico que
encerramos, porque Cristo Senhor é o Alfa e o Ômega.
O ano se fecha com a solenidade
de Jesus Cristo, Rei do Universo (domingo passado) que insiste sobre a glória
final do Senhor e, pontualmente, o mesmo argumento é retomado no primeiro
domingo do Advento do ano seguinte, isto é, este primeiro domingo, portanto,
também no início.
O tempo do Advento é,
particularmente, marcado pela vinda do Senhor. Isto é, a primeira “vinda
histórica” que inaugura o tempo da salvação e também da segunda “vinda
escatológica”, em que acontecerá o pleno cumprimento do tempo da salvação.
Entre a primeira e a segunda
vinda se coloca a vida da Igreja que celebra o único mistério de Cristo no hoje,
a Sua “vinda”, a sua constante manifestação como Salvador, recordando tanto a
vinda histórica como a vinda final.
Uma vez o Verbo veio e se fez
carne cumprindo o que esperava Israel. Hoje o Verbo vem como Sacramento
Universal de Salvação na Igreja, na Eucaristia, na Palavra proclamada e pregada
à luz do Espírito santo e, por que não, na pessoa do irmão que vem a nós tomado
pelo sofrimento. No final, virá como Pastor e Juiz. (Mt 25).
Seria muito redutivo conceber o
tempo do Advento somente como um período de espera pelo Natal, porque o ato de
ir ao encontro do Senhor, que se faz próximo ao homem, é uma das questões
principais da fé cristã.
O caminho cristão é todo voltado para
o saber acolher a novidade de Deus e, por isso, é necessário saber viver nessa
“espera”. É preciso ser e estar vigilantes.
Saber vigiar, assim como Jesus
nos recorda muitas vezes nas suas parábolas, porque o Senhor “vem como um ladrão de noite ou como um
senhor que retorna para ver o que fizeram e como agiram os seus servos”.
O tema do Advento nos remete a
uma questão que poderíamos dizer que é questão de estilo de vida. Um estilo de vida ligado à constância da vida cristã.
Inclusive, porque “esperar” é algo cansativo e que a nossa civilização
desaprendeu a fazer. Esperar hoje, mais do que nunca, é um risco porque vivemos
numa sociedade que quer tudo pra já e que não está muito disposta a realizar
processos pedagógicos que exijam paciência.
Além disso, é sabido que aquele
que espera corre sempre o risco de “baixar a guarda”, isto é, a qualidade da
vida de fé, a ponto de não conseguir fazer emergir mais a clareza daquela
“diferença que dever ser a vida docristão” e que o mundo espera daqueles que se
inspiram na “Boa Notícia” de Jesus Cristo.
É necessário, portanto, ir ao
encontro do Senhor, movimentar-se na Sua direção, renovando a atitude de escuta
e de fidelidade, reacendendo o entusiasmo da caridade.
Este primeiro domingo do Advento,
de modo especial, nos convida a renovar a nossa fé. Trata-se, acima de tudo, de
renovar a fé e a confiança no cumprimento das promessas de Deus, como vemos o
apelo do Profeta Jeremias na primeira leitura (Jr 33,14-16); na primeira carta aos Tessalonicenses na segunda
leitura (1Ts 3,12-4,2) que insiste
na questão da caridade que deve “aumentar
e transbordar sempre mais” em todos os que têm fé.
No Evangelho de Lucas (21,25-28.34-36) a esperança é
apresentada como a virtude que precisa sempre ser nutrida, inclusive e
especialmente diante das catástrofes e contradições desta vida: “quando estas coisas começarem a acontecer,
levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.
Com certeza as virtudes teologais
(fé, esperança e caridade) possuem a força de nos guiar nos caminhos mais
difíceis e de marcar os nossos passos nos momentos particularmente exigentes.
Ao lermos Apocalipse do Evangelho
de Lucas, precisamos tomar cuidado para não corrermos o risco de historicizar,
isto é, fazer uma leitura sob a ótica histórica dos acontecimentos.
As catástrofes ali descritas não
coincidem com o fim do mundo, como também não pretendem fazer nenhuma
adivinhação sobre o momento preciso em que ocorrerá. Não é necessário, tampouco,
“arquitetar” uma fuga das dificuldades da vida, fingir que elas não existem,
nem escapar das dores da realidade para refugiar-se numa visão espiritualista e
ingenuamente otimista.
Vigiar, isto é, ficar atentos, de
acordo com o contexto do Advento, significa lutar contra a angústia, não
deixar-se alienar e nem se perder, não perder o caminho, não ser arrastado
pelos eventos.
Ser vigilante quer dizer também
encontrar a força e a coragem necessárias para impedir o medo de paralisar-nos
e de sermos levados à morte, representada pelo “desmaio” no versículo 26 do
Evangelho. A vigilância impede o “endurecimento” e a insensibilidade do coração
“por causa da gula, da embriaguez e das
preocupações da vida (...)”.
O convite de Jesus,
de maneira clara e direta, nos induz a verificar a freqüência e a qualidade da
nossa oração, porque à oração, está ligada a fé e a qualidade da nossa vida.(Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Web site: www.inacianos.org.br).
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