(Liturgia
do 33º Domingo do Tempo Comum)
Se algum dos presentes que estão
celebrando a eucaristia neste final de semana acreditasse na “profecia” do fim
do mundo, que deveria acontecer agora no mês de dezembro, o Evangelho deste
domingo poderia ser um ponto a favor das ditas “profecias”.
E quem fosse apaixonado por
filmes e romances apocalípticos, poderia encontrar nessas páginas uma
confirmação.
O Evangelho de Marcos foi escrito
há cerca de quase dois mil anos e, não obstante tantas provas do mundo e da
história o apocalipse, como nós entendemos, ainda não chegou e, podemos ficar
tranqüilos, pois não chegará nem mesmo no dia 12/12/12! Podemos, portanto, serenamente
preparar e celebrar o Natal.
Se para muitos a palavra “Apocalipse”
significa “fim do mundo”, sabemos muito bem que o seu verdadeiro sentido e
significado é “revelação”. Isto é, não o final de tudo o que existe, mas o fim,
objetivo de tudo, que é ir ao encontro de Deus!
Os hebreus usavam esse mesmo gênero
literário apocalíptico para anunciar através da linguagem figurada, que estava
próximo um grande evento. Tratava-se da iminente vinda de Deus com a
inauguração do Seu Reino. Um evento que a Igreja continua a proclamar de modo
privilegiado, ao término deste ano litúrgico.
Neste domingo somos lembrados que
somos chamados a estar sempre na espera operosa d’Aquele que veio há séculos e
que virá no fim dos tempos, mas que também vem todos os dias na minha vida, no
meu hoje. É como se entre a Sua primeira vinda e a vinda futura, houvesse uma
“terceira vinda”, que se dá através da Igreja, nos Sacramentos e no encontro
com o outro, sobretudo naquele que mais sofre.
A questão, portanto, deve ser
colocada não sobre o “quando”, porque Deus é capaz de nos alcançar e de nos
atingir em todos os momentos da nossa vida. A questão deve ser colocada sobre o
“como”. Isto é, como esperar a vinda do Reino? A partir do medo ou a partir da esperança?
É bem verdade que, se pararmos na
dramaticidade de certas imagens, parece que o medo deve prevalecer. Mas não se
pode deixar escapar, porém, outra imagem de um sinal, justamente, oposto: “Aprendei,
pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas
começam a brotar, sabeis que o verão está perto”. Se de um lado há,
portanto, um cenário de destruição, de outro, há a promessa de uma vida fresca
e nova.
Mas o medo e a esperança se
alternam sempre na vida do homem, e de todo aquele que crê, principalmente
porque constitui uma situação ambígua e sem solução.
Contudo, pensemos em tantas
passagens da bíblia em que o convite a não temer, a não ter medo é constante.
Pensemos em Pedro, que caminha sobre as águas ao encontro de Jesus, mas que
depois cede ao medo do vento e das ondas, e afunda, mas que reencontra aquela
mão firme que o segura, que o levanta, o perdoa e o fortalece: “Homem de pouca fé, por que duvidaste”?
Poderíamos repetir hoje a cada um
de nós, homens e mulheres que crêem, que celebram hoje em nossas igrejas, povo
que reza e canta, que se aproximam da Eucaristia, por que duvidam? Por que
vocês ainda tem medo?
Sabemos, infelizmente, que há
pessoas que parecem destinadas a conhecer apenas o medo. Sofrem de “ativismo
agudo”, de apego gravíssimo às coisas materiais e de rituais ligados apenas ao
bem estar físico.
Sabemos também que aqueles que
fazem dessa forma de vida a razão última do seu ser, podem até ter um sorriso
nos lábios, mas no coração, bem o sabemos, há um medo de perder, um pavor da
falência e das perdas! Não é novidade que nos países e nos momentos sobre os
quais se abate uma forte crise econômica, infelizmente, sabemos de pessoas que
chegam a tirar a própria vida quando perdem tudo, porque “perderam a vida”
sobre as coisas que possuíam, a custa do sofrimento dos amigos, da família, de
Deus.
Se o tudo da minha vida é o meu
aspecto físico - portanto se já cheguei aos sessenta anos de idade e preciso
estar em forma como um jovem de vinte, sem, contudo, ter uma alma jovem – o que
seria, pois ter que enfrentar uma doença, uma fragilidade, uma perda senão
perder tudo, até mesmo a razão de viver?
Se o tudo é o meu trabalho, a
minha carreira, como faço, então, para lidar com as situações que mudam de uma
hora para outra na minha vida? Nesse caso é como se tudo viesse abaixo: o sol,
a lua, as estrelas. Tudo!
Mas há pessoas, graças a Deus,
que ousam ainda ter esperança. Esperar não é apenas ser otimista, porque o
otimismo se baseia no temperamento, no caráter. Já a esperança é uma virtude
teologal que nos traduz a partir da certeza da fé.
São as pessoas que vivem dessa
certeza, e mesmo que possam encontrar-se em situações difíceis, sabem que o
futuro terá outro rosto. Às vezes, tem mesmo a impressão de que tudo vem abaixo
diante das tantas crises da vida. Sejam crises intelectuais, morais, físicas,
do coração, mas que, ainda assim, com a força da esperança, olham pra frente!
À nossa volta pode haver até uma
paisagem de desolação, de injustiça e de violência, como estamos presenciando
agora em nosso país, mas o olhar deve se fixar no primeiro broto da planta, a
folha tenra no ramo da figueira. É um pequeno sinal, mas suficiente para dizer:
“o verão se aproxima”!
As pessoas que tem esperança
sabem que, não obstante tudo passe mesmo o céu e a terra, há algo que não passa
jamais. A Palavra de Deus! Essa é a esperança-certeza do agricultor, a
esperança de quem sabe que o mundo é mundo, e que não passa uma noite sem que
haja um amanhecer, nem um inverno sem que seja seguido da primavera.
Essa esperança é razoável? É
razoável como é razoável a fé, porque a esperança se fundamenta, justamente,
sobre a fé. Aliás, a esperança é um outro rosto da fé.
Para se ter esperança, certamente,
é necessário ter conhecido e ter tido um encontro com o nosso Deus, através da
Pessoa de Jesus Cristo.
Neste trigésimo terceiro domingo
do Tempo Comum a liturgia nos convida a fazer a experiência do salmista, bem
como a recordar, pelo menos esta expressão: “Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio! meu destino está seguro em vossas mãos
(Sl 15)”!
Fazer essa
experiência e rezar com essa esperança já é um estupendo ato de fé! “A
minha vida”, e
cada um poderia completá-la assim: A minha história, aquilo que eu fui, tudo o
que sou e que serei, a minha família, os meus filhos, as pessoas que amo e que
me amam, os meus sofrimentos e as minhas esperanças, minhas qualidades e os
meus limites, tudo está, Senhor, nas Tuas mãos!
Se podemos dizer com toda
convicção: “A minha vida está em tuas
mãos”, é certo que vencemos o medo! Não o sofrimento, porque a vida humana
atravessa sempre passagens dolorosas, mas o medo, sim!
Então, também o “tempo da angústia” de que fala o
profeta Daniel (Dn 13,1-3), se abre à alegria da libertação quando todos
aqueles cujos nomes estão escritos no livro de Deus, serão salvos e se tornarão
membros da Nova Jerusalém. Serão como estrelas no céu. O Evangelho (Mc 13,
24-32) fala de estrelas que caem. Aqui Daniel fala de estrelas que resplandecem
para sempre! O que nos faz querer dizer: “caem também os habituais pontos de
referência – o sol, a lua, as estrelas – se não servem para guiar-nos pelo caminho
da vida, em direção ao mundo novo. Mas nunca vem a faltar-nos essas presenças
luminosas, os justos, os santos, os homens e mulheres da esperança, os beatos
que guardam nos olhos a imagem das folhagens e brotos da figueira e no coração,
o dom maravilhoso da paz. O cristão sabe, bem como todo homem, que um dia o sol
se porá. Mas a Luz de Deus resplandecerá para sempre! (Frei
Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos –
formador@inacianos.org.br – Web site: www.inacianos.org.br).
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