Eis que mais uma vez chegamos ao Natal.
Como em todos os anos, todos festejam o Natal, pelo menos porque tornou-se
costume fazer festa. Muitos vão às compras e aos preparativos. Mas nem todos se
lembram que, primeiro vem o advento e que depois e por causa do Natal é que os
presentes têm sentido, as festas. Infelizmente,
o maior aparato é apenas para o exterior. Embora muitos celebrem a festa do
Natal, é preciso lembrar que, de qualquer maneira, a preparação externa não
basta e não é suficiente para celebrar um Natal autêntico! Se Jesus não tivesse
nascido, não teríamos Natal, não teria o menor sentido celebrar o Natal. Quem
não professa e não vive a fé cristã, a fé em Jesus, poderíamos dizer que, na
verdade, celebra o Natal como qualquer outra data. Como um motivo para comer e
beber, encontrar os familiares, como qualquer outro feriado, e não o nascimento
de Jesus.
Não
se pode celebrar o Natal sem se lembrar que Jesus é o centro de tudo!
Também
nós, cristãos, corremos o risco de celebrar um Natal assim; na aparência
externa, nos enfeites, nas compras, nos festejos, nos votos natalinos.
Na
verdade, seria uma forma lamentável de deixar passar, de não perceber o grande
milagre que é o Natal. O milagre da vinda de Jesus no meio de nós.
Por
que, milagre? Porque Jesus, a Palavra eterna de Deus se fez um de nós, é nosso
familiar. O próprio Deus é um de nós, faz parte da nossa família.
Muitos
o deixam fora da festa da família, da festa do Natal, como há exatamente dois
mil anos atrás, quando não encontrou um lugar para nascer, porque as casas
estavam cheias, ou não havia lugar nos albergues.
Mas
por que se festeja o Natal sem Aquele que nos deu a possibilidade de festejar o
Natal? Seria o mesmo que celebrar uma festa de casamento sem os noivos. Ali
seria possível comer e beber, mas faltaria o essencial. De fato, poderíamos
voltar para as nossas casas com o estômago cheio, mas com o coração vazio, ou
melhor, cheio de tristeza.
Assim
acontecerá com o nosso Natal, se nos entrarmos na onda consumista de uma
sociedade que insiste em celebrar o Natal sem Jesus.
Alguns
diriam que muitos, nem mesmo sentem a falta de celebrar um Natal autenticamente
cristão. Talvez seja verdade que as coisas materiais possam obscurecer os
maiores desejos do coração humano. Mas como dizia um velho pároco, também
aqueles que enchem o estômago e estão preocupados apenas em satisfazer os seus
desejos, na verdade, mesmo que inconsciente, o que desejam é Deus. Precisam de
um Menino Jesus que dê sentido a tudo aquilo que vivem e fazem.
É
por isso que nós cristãos, quando conscientes dessa realidade, temos o privilégio
de cuidar e dar um lugar para Jesus. Para o Aquele que é mais importante no
Natal, o próprio Jesus.
Para
isso é preciso se preparar na liturgia e na vida, para celebrar bem, para poder
apreciar, mais uma vez a beleza e a ternura do Natal.
São
Gregório de Nissa, um dos Padres da Igreja, dizia que se nós conseguíssemos
compreender o que significa compreender o que significa para Deus o ter se
feito homem, morreríamos de espanto, por causa da ternura do coração de Deus. Aquela ternura capaz de amar ao ponto de
fazer-se frágil menino. Mas,
infelizmente, a maioria por quem Ele nasceu, nem mesmo vai se lembrar neste
Natal, que Ele nasceu!
Não
possível vivenciar, realmente, o Natal, se não nos deixarmos tocar pelo amor de
Deus, se não ficarmos tocados pelo estilo de Deus amar a humanidade.
Como
não se comover ao olhar o presépio e perceber, mais uma vez, em como Deus em
Jesus, na manjedoura, se fez pequeno, pobre, frágil. Como Deus "Se
reduziu" por amor a cada um de nós!
É
bom lembrar que a nossa vida será sem "sabor" se não tivermos a
capacidade de parar e refletir sobre as coisas essenciais da vida. Será apenas
uma repetição de hábitos e de costumes. Geralmente, fazemos tantas coisas sem
nos perguntarmos por que fazemos. Fazemos somente porque devemos fazer e
pronto. Contudo, se no decorrer da nossa vida agitada parássemos um pouco mais
para considerar mais as coisas óbvias, conseguiríamos lembrar que a vida é
bela! A vida é bonita e deve ser vivida, não obstante as dificuldades! A vida
de fé nos convida a todo instante a pararmos, para lembrarmos, para refrescar
em nossa memória, os motivos da nossa fé.
É
por isso que mais uma vez, neste ano, ouvimos
o mesmo Evangelho na liturgia do Natal: "No princípio era a Palavra; a Palavra era Deus; a Palavra de Deus se
fez carne, se fez homem".
Não se trata de uma palavra qualquer, mas daquela Palavra de
Deus que, encarnada, mudou o sentido da história. Não estamos mais no
"escuro" da história, mas temos um sentido. Vivemos por causa dele
que dá sentido à nossa vida. O menino Jesus que hoje somos convidados a
contemplar num estábulo, pobre.
De
fato, como sabemos, as coisas mais importantes não são encontradas facilmente.
Pelo contrário, estão escondidas, veladas. E assim, também aconteceu com Jesus.
Ele, Deus, se escondeu na carne humana de
um menino, na sua vida frágil. Assim o fez para ficar mais próximo de nós e, ao
mesmo tempo, para nos convidar a aprender a ir além da aparências, tão proposta
e louvada neste nosso tempo.
Que
o Natal nos ajude a recordar que, se nós experimentamos tanto sofrimento em
nossos corações, é porque nós o nutrimos, muitas vezes, de aparências, de
superficialidade. E ao coração não bastam as aparências e superficialidades.
Que
o Menino Jesus, nascido no "escondimento", em Belém, pode e quer
aquecer o nosso coração. Depende de nós permitirmos que Ele o faça. Paremos e
reflitamos! Escutemos um Deus que bate suavemente nas portas dos nossos
corações. Deixemos Ele entrar e veremos que a nossa vida ficará plena de
sentido! Feliz Natal!
Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA. Missionário Inaciano.
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