(Liturgia do Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum)
A Palavra de Deus no Evangelho deste Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum, nos ajuda a perguntar: o que vem à nossa mente quando ligamos a TV ou folheamos as páginas dos jornais, ou acessamos a internet e as revistas?
Somos
inundados por uma infinidade de publicidade. A propaganda do mercado quer nos
fazer comprar e consumir seus produtos, com o argumento de que são melhores do
que outros apresentados, igualmente pela mídia e pela propaganda.
Todos
oferecem ao público produtos "perfeitos", desde o leite fino e
saudável relacionado à leveza e ao bem estar, até o papel higiênico mais
refinado. Tudo apresentado e oferecido como produtos perfeitos. A mensagem que
transmitem é sempre subliminar. A ideia subjacente é esta: "se você quer
ser o primeiro, ser mais do que os outros, enfim, se você quer "ser
perfeito" e ter uma vida perfeita, compre! Portanto, a perfeição é
sinônimo de consumismo e de possuir muitas
coisas.
O
Evangelho deste Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum (Mc 10,17-30) é, de fato, muito atual. "Tá na moda", pois
também menciona essa "publicidade", fala da proposta da perfeição.
Ainda
que o Evangelho de Marcos não mencione, não se pode esquecer do "se queres ser perfeito", do
texto paralelo no Evangelho de Mateus (19,21).
Por outro lado, nas narrativas
evangélicas, esta proposta aparece de diversas formas. Lembremos como termina o
sermão da montanha: "Sede
perfeitos"; ou ainda, "Eu
vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância", outro
expressão para dizer "vida
perfeita". Ou ainda a proposta de São Paulo: "Aspirai, intensamente os carismas mais elevados" (...) "E então, vos mostrarei o caminho mais
sublime"...isto é, mais perfeito.
É
verdade, a perfeição é a aspiração de todos em tudo. A pessoa humana é feita
para a perfeição, para a vida perfeita. "Sede
perfeitos como vosso pai celeste é perfeito" (Mt 5,48). Por outro lado, a perícope do Evangelho deste domingo parte
de uma pergunta feita por um certo alguém que corre ao encontro de Jesus e,
colocando-se de joelhos pergunta: "Bom
Mestre, o que devo fazer para ganhar a vida eterna"? Ou seja, como
fazer para ter uma vida perfeita?
É
bom notar, nestas primeiras linhas do Evangelho deste domingo, alguns detalhes
que podem ajudar a nossa reflexão. Primeiro, trata-se de "alguém" ,
poderia ser qualquer um. Isto é, o protótipo perfeito de qualquer pessoa
humana. Esse alguém "corre". Outra imagem do homem atual, que vive
numa verdadeira correria. Vai até Jesus para perguntar como conseguir, talvez na
linguagem de hoje, "adquirir ou "comprar" a vida eterna, a vida
duradoura. Enfim, o desejo de perfeição é igual à vida sem fim; uma vida que
não sucumbe à morte.
Jesus
não evita a pergunta porque sabe que, no fundo, trata-se de uma pergunta
importante do homem de todos os tempos, talvez, a única pergunta fundamental.
Primeiro,
Jesus lembra ao tal "alguém" a necessidade de observar os
mandamentos. Na verdade, cita apenas alguns dos mandamentos; aqueles que,
normalmente, os cristãos de hoje tomam como critério para a sua confissão
sacramental. Quantas vezes o padre não tem que ouvir no confessionário:
"padre não matei e não roubei".
É
importante observar que o que dizem, na verdade, em outras palavras, é que
vivem uma vida perfeita, inclusive, moralmente, baseada no "não faço nada
de mal". O nosso "alguém" do Evangelho afirma também que "todas essas coisas tenho observado
desde a minha juventude".
É
então que, apenas nesse momento, e só então, Jesus responde à pergunta inicial,
sobre a vida eterna. "Só uma coisa
te falta". Ou seja, "para seres perfeito".
De
acordo com a publicidade moderna deveremos adquirir "produtos",
obviamente, perfeitos. Em vez disso, Jesus diz exatamente o contrário: para ter
a vida eterna, uma vez observados todos os mandamentos, portanto, inclusive os
três primeiros, que dizem respeito a Deus, é necessário libertar-se de tudo aquilo que nos prende à esta terra,
principalmente as coisas e situações.
Por
isso, Jesus diz àquela pessoa: "vai,
vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me"! O
evangelista acrescenta: "mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e
foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico".
Eis
aí a imagem do homem de todos os tempos. É alguém que acredita no ter muitas
coisas, no poder de comprar um estilo de vida perfeita. Mas a história da
humanidade tem demonstrado amplamente que Jesus tinha razão. O rico não tem e
nunca terá uma vida perfeita, pelo simples fato de que terá sempre o rosto
abatido e sombrio, por causa da preocupação com os seus bens, roubando-lhe o
pouco ou nenhum tempo que lhe sobra para o próprio coração.
Os
evangelhos apresentam diversos encontros de Jesus. Muitas pessoas, inclusive os
piores pecadores, como Zaqueu, Maria, irmã de Marta, Maria Madalena, Mateus, o
cobrador de impostos etc. De todos eles temos uma lição, uma história que
deixaram. Uma história de transformação, superação. Podem ser apontados como
exemplo para nós. Não podemos dizer o mesmo desse "alguém" do
Evangelho de hoje. Aliás, não sabemos o seu nome. Não fez história. Só sabemos
do seu abatimento, da sua tristeza e da sua incapacidade de seguir Jesus e
fazer história. Ele desaparece na multidão. Pelo visto, as coisas que possuía
não lhe garantiram a vida perfeita que tanto queria ter, pois ninguém sabe nada
dele.
Para
Jesus vida eterna é algo que se conquista, algo que se herda, não comprando,
mas fazendo exatamente o contrário, isto é, dando e distribuindo. Trata-se de
uma anti-propaganda, anti-publicidade. Quanta liberdade, quanta serenidade e
paz tudo isso traz ao coração!
À
luz da Palavra de Deus, que "é vida, eficaz e mais afiada do que a espada
de dois gumes" (segunda leitura Hb
4,12-13), capaz de nos trazer vida eterna, a começar por nossa vida nesta
terra, peçamos ao Senhor a sabedoria, proposta pela primeira leitura (Sb 7,7-11), para saber escolher o
caminho que Jesus nos propõe para alcançar, assim, todos os bens. Os bens
autênticos, bens de vida eterna. Afinal, há um único bem a ser buscado; o amor
de Deus. "Se queres ser
perfeito", deixemo-nos amar pelo Senhor! Quem descobriu essa verdade,
sabe que não precisa comprar nada. Sabe, aliás, que só é preciso aceitar deixar-se
envolver pela ternura e pelo amor de um Deus que nos ama tanto, ao ponto de nos
dar a Sua própria vida. A vida eterna. A vida perfeita. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA. Missionário Inaciano.
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