(Liturgia do Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum)
Há quem sustente que, mesmo depois de
dois mil anos, o cristianismo ainda é compreendido de maneira superficial.
Poucos assimilaram completamente a sua substância.
O
texto do Evangelho deste Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum parece valorizar
esta hipótese. Tiago e João fazem um pedido que Jesus, talvez, não esperasse
que fizessem. Mas a bem da verdade, qualquer um de nós, ainda hoje, parece pedir
e buscar como projeto de vida. “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua
esquerda, quando estiveres na tua glória!”
Na verdade, nas entrelinhas do pedido está o desejo de
que Jesus faça que possam ser bem vistos e bem considerados com relação a todos
os outros, ainda que os outros, mesmo como apóstolos, sejam iguais a eles.
Tiago
e João conhecem a força do seu Mestre. Já O viram realizar diversos de
milagres. Mas, devem ter ficado espantados
quando ouviram a resposta: "Vós não
sabeis o que pedis".
Jesus
fala de sacrifício, de batismo de sangue, mas parece que quase ninguém o escuta;
tanto que, enquanto Ele fala, os outros dez ficam indignados com Tiago e João.
Jesus
deve ter experimentado uma tristeza profunda ao ver o quanto os apóstolos estavam
fora do projeto e do caminho. Justo eles que deveriam ser os Seus colaboradores
mais próximos!
Então,
Jesus os catequiza de modo explícito. Trata-se de uma catequese direta, isto é,
não através de parábolas, como costuma fazer, e sem rodeios, lembrando-os que,
aqueles que se dizem íntimos dele, seus seguidores, devem mudar a mentalidade e
o modo de raciocinar, evitando uma visão mundana, que acabam de demonstrar.
De
fato, quantos neste mundo, considerados líderes, chefes poderosos, oprimem os
seus semelhantes. "Entre vós não
deve ser assim... quem quiser ser grande, seja vosso
servo; e quem quiser ser o primeiro,
seja o escravo de todos".
Nesse
ponto, certamente, um certo desânimo deve ter se apossado de todos os ouvintes.
Contudo, Jesus não dá muita importância a isso e, tomando-se a Si mesmo como ponto de referência, que os
apóstolos haviam perdido, diz que "não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida como resgate para muitos”, porque
o pedido dos dois já havia antecipado o que diz respeito ao Pai conceder. É possível imaginar o silêncio
sepulcral que se seguiu e a vergonha dos apóstolos. Ainda não haviam compreendido nada sobre o Rei
e o Reino. O constrangimento deles evidenciou ainda mais a grandeza de Jesus e
da Sua misericórdia.
Na
segunda leitura (Hb 4,14-16) é São
Paulo quem nos lembra que só o Sumo Sacerdote é capaz de se compadecer das
nossas fraquezas. Isto é, só Jesus, o Sumo e Eterno Sacerdote. Foi para isso
que Ele veio a este mundo, por isso se fez homem, " pois ele mesmo foi provado em
tudo como nós, com exceção do pecado". Essa certeza é que nos dá, sobretudo, a segurança de
nos aproximarmos d'Ele, convictos em "Obter
misericórdia e de encontrar a graça".
Na
primeira leitura, o profeta Isaías (53,10-11),
entrevendo tudo isso, havia profetizado que o Cristo seria prostrado pela dor, "Oferecendo a Sua vida em expiação",
livre e voluntariamente, como só o amor sabe fazer. Por isso, haverá uma descendência
duradoura do Pai Abraão.
O
que Deus diz sobre o Servo Sofredor é "Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens,
carregando sobre si suas culpas". Não
acusando-os mais ainda dos seus pecados, mas ao contrário, "Ele tomará sobre Si as suas iniqüidades".
O
Seu tormento não tem um fim em si mesmo, pois através dele, virá a luz e a
salvação. É isso que podemos esperar de modo pleno e inexaurível. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.