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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 28 de fevereiro de 2015

A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS


(Liturgia do Segundo Domingo da Quaresma)

            A maior dificuldade que a Igreja encontra para anunciar o perdão e a misericórdia de Deus entre o nosso povo, está no fato de que muitos não crêem que alguém, jamais, os possa perdoar pelo que fizeram.       Portanto, o que é mais difícil, de fato, não é tanto o perdoar, mas crer em um Deus que respondeu ao mal do mundo com o sacrifício do Seu Filho, o Seu Único e Amado Filho, por amor à nós.
            Na morte do Filho na cruz se cumpre, realmente, o "voltar-se Deus contra Si mesmo", no qual o Filho se doa para 'reerguer" o homem decaído e salvá-lo. Tudo isso, única e exclusivamente por amor.            Diante de um Deus assim, escandalosamente do nosso lado, "quem será contra nós"? Pergunta Paulo na segunda leitura deste Segundo Domingo da Quaresma (Rm 8,31b-34).
            Escutando a primeira leitura (Gn 22,1-2.9-13.15-18), não é difícil para nós, imaginar quais os pensamentos e sentimentos apertavam o coração de Abraão, enquanto preparava "a faca para imolar o seu filho".
            Que pai, em sã consciência, sacrificaria a vida do seu único filho, ainda que fosse para obedecer a Deus? Encontramos a resposta a esta pergunta no silêncio de um Deus que parece ter sido "engolido" pela escuridão da Sexta-feira Santa, na qual ressoa com força apenas a súplica do Seu Filho: "por que me abandonaste?"
            É contemplando o corpo de Jesus pregado, torturado, dilacerado e morto,  e o Seu lado direito rasgado pela lança na cruz, que temos certeza de não estarmos equivocados sobre Deus. Porque estar enganados sobre Deus é o pior que pode nos acontecer. É o mesmo que estar errados sobre a história, sobre o mundo, sobre a humanidade e sobre nós mesmos, como também sobre o futuro e sobre as relações humanas.
            O episódio do sacrifício de Isaac não é a história de um sacrifício que não deu certo. Pelo contrário, trata-se da história de um sacrifício realizado: o sacrifício do sacrifício, pois, segurando a mão de Abraão e, impedindo-o de concretizar o sacrifício do filho, Deus, na verdade, quer segurar a mão de todos os violentos e dos que se prevalecem e querem explorar os mais fracos e indefesos, como ouvimos na primeira leitura (Gn 22,1-2.9-13.15-18).
            No Evangelho de hoje (Mc 9,2-10), na Transfiguração de Jesus sobre o Monte Tabor, Aquele que, da núvem, indica Jesus como o Filho amado a quem devemos escutar, não pode ser um Deus que quer os sacrifícios de morte e de dor. Não! É um Deus que quer o amor. O mesmo Deus que, no Seu Filho Unigênito, se revelará como Aquele que sacrifica a Si mesmo, justamente por não haver aceito o sacrifício de ninguém mais.  
            A Transfiguração nos leva não somente ao ponto mais alto do Monte Tabor, mas ao ápice da história da salvação, como história do amor generoso e gratuito de Deus pela humanidade. A oferta que Jesus fará de Si na cruz é o sinal de Deus para testemunhar à humanidade a grandeza do Seu amor. Aliás, um amor que não reivindica nada em troca, mas pede humildemente, como um mendigo.
Como qualquer apaixonado, Deus concorda em fazer-Se “frágil” e depender sim, da humanidade que, somente na liberdade, poderá amá-Lo.
Este é o mistério de um Deus “frágil” _ porque apaixonado _ que os discípulos não conseguiram compreender, quando viram Jesus na cruz e ficaram escandalizados.
A transfiguração antecipa, assim, a Paixão num contexto de glória e de luz. As imagens clássicas da presença de Deus se explicam, porque os nossos olhos debilitados de discípulos, talvez não reconhecessem Deus no rosto desfigurado e torturado de Jesus. É difícil reconhecer Deus morrendo por nós, banhado pelo sangue que escorre pelo corpo de Jesus na cruz.
Assim, a transfiguração lança uma luz sobre a paixão. Não, porém, a luz consoladora de quem quer esconder a humilhação e o escândalo atrás da glória, mas a luz que possibilita enxergar em profundidade a grandeza de tudo o que está para acontecer no Calvário e no sepulcro vazio, três dias depois.
No Monte das Oliveiras e no Monte Calvário, os mesmos discípulos, desta vez, não verão nenhuma luz, nem brilho e muito menos beleza, glória ou esplendor para deixá-los extasiados, como no Monte Tabor. Pelo contrário, perceberão apenas as sombras que indicarão a situação oposta e que tomará também o coração de cada um deles e os levará a pensar não em construir três tendas para permanecer ao Seu lado, mas a pensar  em “como é possível que este homem, tomado pela angústia e suando sangue, não mais “trans-figurado”, mas “des-figurado”, seja o Filho de Deus”?
Pedro e os outros O abandonam. Há pouco tempo, quando Jesus mostrou-lhes a Sua glória, trans-figurando-Se, tinham presenciado o testemunho dos patriarcas e dos profetas a Seu respeito. A presença de Moisés e de Elias pedia: creiam n’Ele! Mas ali tinha sido tão fácil crer n’Ele, que toda aquela manifestação divina parecia supérflua. Na verdade, elas se destinavam a outro momento. Serviriam para a experiência em outro monte, o das Oliveiras, durante a Sua “desfiguração”. Destinavam-se ao momento da provação.
É por isso que o Monte Tabor nos convida a olhar para outros montes como o Monte das Oliveiras e o Monte Calvário. Na luz da transfiguração o Calvário aparece em toda a sua clareza como aquilo que, de fato, é. Ou seja, a morte de Deus por nós.
            As perguntas que Paulo nos faz na segunda leitura (Rm 8,31b-34) nos ajudarão a compreender ainda mais a realidade do amor de Deus para conosco, ao ponto de se colocar inteiramente ao nosso lado, para nos defender e salvar: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós". 
Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA. 

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