"TU ÉS O MEU FILHO AMADO"
Com
a Solenidade do Batismo do Senhor concluímos o chamado ciclo ou Tempo do Natal.
Tempo de festa solene em que a Igreja se reveste de luz e alegria pelo
nascimento de Jesus.
A liturgia de hoje nos ajuda a
lembrar que na vida há sempre um primeiro dia para um pequeno ou grande passo
que se dá.
Assim, temos o primeiro dia de aula,
a primeira comunhão, o primeiro dia na faculdade, o primeiro dia de trabalho, a
primeira noite de núpcias etc.
Em cada um desses momentos de "iniciação"
de uma nova vida ou de uma nova etapa, não raro surge em nós o sentimento de
pequenez e, talvez, até mesmo de temor ou apreensão, com relação ao passo que
estamos para dar.
Um desafio que ultrapassa a nossa
capacidade de controle das situações e os acontecimentos que o futuro nos reserva, faz vir à tona partes profundas de
nós mesmos, talvez nunca antes conhecida. O temor e a apreensão são conseqüências de nos
sentirmos pequenos diante do futuro, do novo.
Na liturgia de hoje, o Evangelho (Mc 1,7-11), o Batismo é também o
primeiro dia de Jesus e de toda a Sua missão que se inicia a partir do Jordão. É
o primeiro passo na Sua nova vida, longe de Nazaré, o pequeno vilarejo onde
cresceu e viveu até aquele momento.
Para Jesus também esse primeiro
passo deve ter sido uma experiência de pequenez e de humildade. Não houve
nenhuma procissão, nenhuma festa, nenhum cortejo, tampouco nenhuma pompa ou
solenidade. Havia somente uma grade fila de pecadores na qual Ele entrou, pacientemente, até que a Sua vez chegasse.
Na primeira leitura (Is 42,1-4.6-7), somos convidados pelo Pai, que fala pela boca de
Isaías, a reconhecer nas águas do Rio Jordão, o Menino que nasceu em Belém. “Eis
o meu servo — eu o recebo; eis o meu eleito — nele se compraz minh’alma; pus
meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações".
De agora em
diante não vemos mais um bebê nos braços de Sua Mãe, Maria, protegido por Seu
pai, José. Hoje,
no Jordão, o que vemos é um homem. Um homem como nós mesmos: Emanuel,
Deus-conosco. Como nós, quer se fazer
também necessitado de um batismo de penitência. Certamente, penitência não por
causa dos próprios pecados - pois esta é a única característica humana com a
qual Ele não se solidarizou conosco - mas pelos pecados de toda a humanidade.
Jesus não tinha pecados, logo, não
tinha motivos para se purificar no Jordão. Contudo, como veio revelar-nos o
rosto de um Deus que ama o ser humano ao ponto de fazer as suas próprias experiências
de fragilidade e pequenez, fez também, entrando naquela fila de pecadores a
serem batizados por João, a experiência pela qual sabia que todos os homens da
Terra fariam. Trata-se da experiência da pequenez, do pecado, da necessidade
humilde de reconhecer-se pecador, necessitado de perdão e misericórdia.
Tudo isso por um único motivo, isto
é, para nos compreender, amar e perdoar sempre mais. É por isso que diante de
qualquer sinal de arrependimento e conversão, Ele vem ao nosso encontro, cheio
de misericórdia para conosco.
Mas, no Rio Jordão, as pessoas que O
observam não sabem nada a respeito de tudo isso. Vêem somente um pecador como todos
os outros que ali estão.
Assim, Jesus começa a indicar-nos o
caminho do tempo comum, no qual entramos na vida litúrgica da Igreja, de agora
em diante.
Agora temos que seguir um homem que
assume decididamente o caminho da humildade, do “esvaziamento de Si mesmo”. Aliás,
temos que seguir o homem que nos leva a seguir um caminho exigente: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo”.
É
necessário, porém que, primeiramente, reconheçamos a nossa necessidade de
conversão. Hoje é preciso que nos coloquemos também nas margens do Rio Jordão, que
deixemo-nos purificar sem temor de descer com Jesus, porque só assim participaremos
da Sua glória (cf. Cl 3,4; Rm 8,17; 2Tim 2,11).
Que
esta liturgia da Solenidade do Batismo do Senhor nos ajude a compreender que só
alça vôo para o alto quem, como Jesus, o Filho amado, souber “descer”, assim
como Ele fez ao entrar nas águas daquele rio.
Porque assim, e somente assim, o Pai
reconhecerá em nós o reflexo do Seu Filho e pronunciará, também sobre nós,
aquelas palavras maravilhosas que brotaram do Seu coração: “Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu
querer”! Frei Alfredo Francisco de
Souza, SIA - Missionário Inaciano - alfredodesouza1966@gmail.com/www.inacianos.org.br
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