"CALA-TE
E SAI"
AUTORIDADE
E PODER SOBRE O MAL
(Liturgia
do Quarto Domingo do Tempo Comum)
O
Evangelho deste Quarto Domingo do Tempo Comum (Mc 1, 21-28) nos apresenta a relação entre Jesus e a Palavra.
Não se trata de uma mera ligação,
pois n'Ele a palavra se torna comunicação
de Deus ao Espírito que habita o coração de quem tem fome e sede de vida
eterna.
Mas apresenta também um texto no
qual Cristo se opõe a um "espírito impuro". Jesus liberta um homem do
mal e é deste homem que recebe a primeira revelação da Sua identidade, depois
da revelação feita pelo Pai na ocasião do Batismo no Jordão.
Esta expulsão do maligno nos dá a
oportunidade de refletir sobre o exorcismo praticado por Cristo e deixado como
missão à Igreja, no sentido da libertação do mal. Reflete também sobre o
verdadeiro sentido da palavra autoridade.
No mundo judaico contemporâneo a
Jesus, era crença comum que o demônio fosse a origem de toda a doença, da morte
e de todo o pecado. Os essênios praticavam a arte desse tipo de cura. Talvez
seja justamente pelo fato do seu nome "essênios" significar
"curadores".
É também o nome adotado pela
comunidade religiosa egípcia, que é parecido com a palavra "terapeuta", isto é, curadores do
espírito e do corpo.
O exorcista confrontava o
endemoninhado mas o demônio, percebendo as forças presentes no terapeuta,
rapidamente oferecia resistência. O exorcista porém, o expulsava, ordenava que
se calasse e em seguida, ordenava que deixasse o homem então, possuído.
Nesse confronto entre as duas forças
havia uma certa importância no conhecimento do nome. É assim que muitos
demônios, tão logo vêem Jesus, o atacam chamando-O pelo nome. "Que
queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu
és o Santo de Deus”.
A este ataque Jesus responde não com atitudes "mágicas", mas com uma ameaça, que indica o ameaçar de Deus; assume a função de JHWH (Iavé) portanto, no confronto das forças demoníacas caóticas. Jesus ameaça o espírito impuro e depois ordena: "Cala-te"! No próprio Evangelho de Marcos temos outras referências: "Espírito impuro, sai deste homem!" (Mc 5,8); "Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno, sai dele e não volte mais!" (Mc 9,25); "Assim, os espíritos impuros obedeciam a Jesus!" (Mc 1,27).
A este ataque Jesus responde não com atitudes "mágicas", mas com uma ameaça, que indica o ameaçar de Deus; assume a função de JHWH (Iavé) portanto, no confronto das forças demoníacas caóticas. Jesus ameaça o espírito impuro e depois ordena: "Cala-te"! No próprio Evangelho de Marcos temos outras referências: "Espírito impuro, sai deste homem!" (Mc 5,8); "Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno, sai dele e não volte mais!" (Mc 9,25); "Assim, os espíritos impuros obedeciam a Jesus!" (Mc 1,27).
Assim verificamos que não há um só
rito de expulsão do mal realizado através de exercícios mágicos. Estes são ignorados completamente pelos Evangelhos.
É notável também que Jesus nunca
invoca o nome de uma força superior, tampouco apela a um exorcista maior do que
Ele. Talvez seja por essa ausência de invocação de um nome maior do que o dele
próprio, que Jesus é acusado de operar em nome de Belzebu, o príncipe dos
demônios.
No Evangelho de Marcos as expulsões
dos demônios são quatro: o homem exorcizado na sinagoga de Cafarnaum (1,23-26), o endemoninhado gadareno (5,1-20), a filha da mulher
siro-fenícia (7,24-30) e o epilético
não curado pelos discípulos (9,14-29).
Note-se também que em Marcos, o
primeiro milagre realizado por Jesus é um exorcismo. Perceba-se, igualmente, que
esta Sua atividade inteiramente religiosa é atestada com força também por pelos
outros evangelistas como a principal ocupação de Jesus na Galileia.
Mas o que a Igreja fala sobre o
exorcismo? O Catecismo da Igreja Católica afirma que o exorcismo é o pedido público
da Igreja que, com autoridade e em nome de Jesus Cristo, suplica a Deus que uma
pessoa ou um objeto seja protegido contra a influência do Maligno e subtraído
do seu domínio. Jesus assim o fez (Mc 1,25s).
A Igreja tem o poder de exorcizar
que recebeu de Jesus. O exorcismo é praticado no Batismo de forma muito
simples. Já o exorcismo "solene" é praticado por um sacerdote delegado
pelo bispo.
Convém alertar que tudo quanto se
refere a este assunto, deve ser tratado com muita prudência, observando as
normas estabelecidas pela Igreja.
Sim, pois muito diferentes são os
casos de doenças psíquicas às quais a cura entra no âmbito das ciências
médicas.
Santo Inácio de Antioquia (+ 107 d.C) apresenta a luta constante
entre Cristo e o diabo e todo o mal, luta que continua na história e na prática
da Igreja.
Com a Sua segunda vinda, Cristo
eliminará todo o poder do demônio, que é aquele que leva os fieis à
heresia. A Carta do Pseudo-Barnabé (117-119) apresenta satanás como o príncipe
deste mundo, que será destruído pelo Filho de Deus.
Já o Pastor de Ermas (obra literária
do séc. II d.C) fala do anjo da iniqüidade, que leva o homem ao pecado, a uma
vida dissoluta e passional, e que o poder de satanás é vencido pela fé em Deus.
Os Padres Apostólicos fixam a sua
atenção na Obra de Cristo. Se falam do diabo é sempre em função d'Ele, isto é,
de Cristo. A obra do maligno é impedir a Obra de Cristo, afastando o homem do
Caminho do Evangelho. Mas o cristão não deve temer o demônio, pois este já foi
vencido!
O martírio é o sinal supremo da
vitória de Deus e da escolha livre do homem por Ele. Assim, o mártir vence o maligno.
Segundo São Leão Magno (440-461), o demônio foi
definitivamente derrotado com a Cruz. Agora o diabo é que está acorrentado,
pois cometeu um "abuso de poder", quando acreditou ter algum direito
sobre Cristo, como se Ele fosse qualquer outro homem. Assim, acreditando ter vencido
o Cristo, foi vencido por Cristo.
Podemos concluir, lembrando que mais
adiante, no mesmo Evangelho de Marcos (3,13-15),
no chamado de Jesus aos doze, no projeto de Cristo para os apóstolos, Ele "chamou para Si aqueles que Ele quis (...) para estarem com Ele e também para
enviá-los a pregar, e também para que tivessem o poder de expulsar os
demônios".
Sabemos muito bem da presença do mal no mundo. Contudo,
ao homem e à mulher de fé é confiada a tarefa de combatê-lo. Os bispos,
oficialmente, através daqueles a quem dão o mandato, mas de modo geral, a todos
os batizados que, através da Palavra assimilada e vivida recebem força e graça
para lhe fazer oposição, com autoridade, gerando sempre mais novos caminhos de
libertação. Frei Alfredo Francisco de
Souza, SIA.
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