(Liturgia
do Trigésimo Domingo do Tempo Comum)
O código da lei, que no livro do
Êxodo acompanhava o pacto de aliança entre Deus e o Seu povo, prescrevia detalhadamente
que o imigrante, a viúva e o órfão fossem respeitados e protegidos.
O motivo fundamental dos
comportamentos que a Bíblia pede ao homem é imitação de Deus. Isto é, como Deus
se comporta nos confrontos conosco, assim também nós devemos nos comportar nos
confrontos com os irmãos.
"Não oprimas nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes
estrangeiros na terra do Egito.Não façais mal algum à viúva nem ao órfão",
ordena Deus na primeira leitura (Êx 22,20-26), neste Trigésimo Domingo do
Tempo Comum.
O mesmo vale para quando se toma dos mais pobres, frágeis
e desvalidos a sua condição de viver mais protegidos e seguros para sobreviver,
o texto sagrado também recorda: "Se tomares como penhor o
manto do teu próximo, deverás devolvê-lo antes do pôr do sol. Pois é a única veste que tem para o
seu corpo, e coberta que ele tem para dormir". Caso contrário, prossegue, "se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou
misericordioso”. Portanto,
Aqueles que são "ligados" a Deus através Aliança, devem se comportar
com Ele!
A
lei bíblica convida a imitar as atitudes e o estilo de Deus, reforçando a
comunhão de vida com Ele. A Aliança neste contexto, de fato, é um conceito
abstrato, mas extremamente concreto, que significa comunhão de vida com Deus e,
portanto, também comunhão de comportamento e de valores.
Na segunda leitura (1Ts 1,5c-10), com a sua atitude para com os
destinatários da carta, Paulo procura refletir o mesmo amor de Deus. Que os
tessalonissences possam imitá-lo, tornando-se modelo de fé e de amor para todos
aqueles que convivem com eles.
Libertos dos ídolos que alienam, voltem-se para o Deus
verdadeiro, trabalhando assim, pelo advento do Reino, onde lhes será concedido
viver para sempre. Esta é a boa notícia que Paulo lhes anuncia.
A
Palavra de Deus, neste domingo, nos chama ao que é essencial na vida. A
primeira leitura reassume, no obedecer à Lei dada por Deus ao Seu povo, no
encontro o Monte Sinai.
Com o passar do tempo, porém, os
mandamentos e as leis foram exageradamente multiplicados. Portanto, ficava cada
vez mais difícil fixarem-se no que era essencial.
Nas escolas rabínicas se discutia a
respeito de qual seria o maior mandamento. Eis que um fariseu, um doutor da
lei, pretende envolver Jesus nesta discussão acadêmica, para colocá-Lo em
situação de embaraço e constrangimento. Jesus responde com grande segurança e
autoridade, reafirmando o preceito do amor a Deus e ao próximo.
Na Lei de Israel esses dois
mandamentos foram separados um do outro e aproximados com uma certa indiferença
a vários outros.
Jesus, faz algo novo a esse
respeito, libertando a multidão dos excessivos preceitos humanos, apresentando
como essencial os mandamentos divinos, colocando-os no centro das atenções, e
afirmando que, na realidade, constituem uma coisa só. Trata-se, portanto, de um
único mandamento.
Jesus chega mesmo a fazer a "conjugação", ou a junção desses dois mandamentos, como a
palavra fundamental sobre valores e atitudes que Deus quer nos comunicar.
Com relação a "leitura"
que unifica o amor de Deus e ao próximo num só mandamento, por acaso não se
perde o sentido da importância de Deus, quando ensina que a consequência desse
amor deve gerar, necessariamente, um jeito e um estilo de Deus em nossas
atitudes?
Não haveria aí um horizontalismo
exagerado no colocar o amor ao próximo ao lado do amor a Deus? Isto é, numa
única maneira e mesma intensidade de amar?
A primeira carta de São João nos dá
uma resposta muito clara, capaz de balancear de forma magistral o modo como os
"dois amores" são intimamente ligados: "Se alguém disser: "amo a Deus", mas odeia o seu irmão, é
mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a deus, a
quem não vê"(1Jo 4,20).
Mais adiante, continua: "E este é o nosso critério para saber
que amamos os filhos de deus: quando amamos a Deus e pomos em prática os seus
mandamentos".
Muitas vezes podemos pensar que devemos
amar o próximo unicamente pelo amor de Deus! A expressão pode ser ambígua, porque pode esconder um profundo desprezo a
existência dos outros. Isso indicaria que o outro é tão desmerecedor do meu
amor que, só pelo amor de Deus, eu poderia estar ao seu lado.
Ao contrário, ama-se o próximo
porque Deus o amou, porque o olhamos com o mesmo olhar de Deus.
Deus imprimiu sua beleza ao criar
cada ser humano e conhece a sua obra profundamente e, por isso, é capaz de amar
todos os seres que criou. Deus restaura a beleza deturpada pelo pecado, através
da redenção e do Seu perdão constantes. Amar é acolher esta obra de Deus. O amar o próximo, característica principal
dos cristãos, é acolher a pessoa que
passou por experiências terríveis de sofrimento e dizer-lhe, através do olhar,
dos gestos e das palavras, que a amamos e que somos felizes porque ela existe. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA - Missionário Inaciano -
alfredodesouza1966@gmail.com