Liturgia do Vigésimo
Sexto Domingo do Tempo Comum
Às vezes, podemos pensar que Jesus
conta parábolas com o simples intuito de tornar mais simples a Sua mensagem. Ou
com o intuito de fazer-Se compreender melhor pelas pessoas mais simples.
Contudo, uma leitura um pouco mais
atenta das parábolas pode desmentir essa ideia.
Às vezes, de fato, mais do que
simplificar a mensagem, Jesus parece complicá-la ainda mais. Quem de nós não
fica perplexo diante da parábola do patrão dos trabalhadores da vinha _ lida no
domingo passado _ que paga do mesmo modo quem trabalhou apenas durante uma hora
de serviço e a quem trabalhou durante o dia todo debaixo do sol quente?
Além disso, em muitas ocasiões, como
no caso da parábola do Evangelho deste Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum (Mt 21,28-32), Jesus conta a Sua
parábola não às pessoas pobres e sem instrução, mas aos chefes dos sacerdotes e
aos sábios do povo.
O motivo pelo qual Jesus opta por
falar em parábolas e qual mensagem comunica, não conseguimos descobrir, a não
ser lendo-as com cuidado e atenção, levando em conta toda a trajetória de Jesus
e a Sua missão nos Evangelhos.
Na ocasião da parábola de hoje Jesus
se encontra no Templo. O fato se dá depois do dia em que se encontravam lá
todos aqueles que iam comprar e vender seus produtos. Os chefes religiosos
haviam Lhe perguntado com qual autoridade tinha agido daquele modo no dia
anterior, e Ele havia respondido perguntando pela origem do batismo de João..."é do céu ou dos homens?"
Como os líderes não quiseram
comprometer-se ao dar a resposta, se "o batismo de João viera do Céu ou
dos homens", Jesus também não lhes respondeu com que autoridade havia
pregado no templo sobre a potência da fé, no dia anterior, mas o fez sob a
forma de uma resposta indireta. Daí a parábola.
A parábola é muito breve e simples.
Um pai pede aos seus dois filhos para irem trabalhar na sua vinha. O primeiro
responde que sim, mas não vai. O segundo responde não, mas depois,
arrependendo-se, vai. A parábola termina e Jesus apresenta uma pergunta aos
Seus interlocutores: "Qual dos dois
fez a vontade do pai?" Eles respondem corretamente e a resposta
permite a Jesus ligar a parábola à história, fazendo uma afirmação que devia
soar um pouco "escandalosa" aos ouvintes. Os pecadores, cobradores de
impostos e as prostitutas entrarão no Reino de Deus à frente dos chefes
religiosos.
A afirmação de Jesus se baseia na
resposta sobre a pregação de João Batista, que havia convidado à conversão para
preparar o caminho, a vinda do Messias. Esses o escutaram, mudaram as suas
vidas. Trata-se de pessoas, diferentes dos chefes religiosos e dos letrados na
Escritura, que estavam longe dos bons comportamentos exigidos por Deus no
Antigo Testamento, como os cobradores de impostos e as prostitutas, enquanto os
chefes religiosos não lhe deram atenção, não escutaram, não se converteram.
As palavras de Jesus são fortes,
porque revelam que diante Deus as coisas são, na verdade, ao contrário de como
os homens as veem. Assim, quem pensava estar obedecendo a Deus, na verdade,
estava longe d'Ele. Já quem pensava que sua vida estava imersa no pecado e que
não haveria mais saída, escutando a João e se convertendo, se aproximava cada
vez mais de Deus.
O que faz a importante diferença aos
olhos de Jesus, na parábola, é o fazer a vontade do Pai. É isso que conta muito
mais do que o modo com que os dois tipos de pessoas respondem.
Na aplicação à vida prática, o que
faz a diferença é "escutar João", isto é, tornar-se sensível aos
apelos de conversão. O que faz a diferença é o arrependimento das más ações e a
mudança de vida. Isto sim! Não o pensar-se impecável!
Para Mateus, importa sublinhar que o
importante é o agir concreto em resposta ao Senhor. No sermão da montanha Jesus
já havia afirmado que entra no Reino não aquele que diz "Senhor,
Senhor", mas quem faz a vontade do Pai.
Na parábola que fecha o sermão da
montanha, o que faz a diferença, entre a casa que cai em ruínas e a que resiste, é o colocar em
prática o ensinamento de Jesus.
Esta é a mensagem que a parábola
contém para nós, discípulos de hoje. Não é possível seguir a Jesus com teorias,
mesmo que as mais corretas e bonitas. O verdadeiro seguimento é expressão de
uma vida vivida de acordo com os Seus ensinamentos, com o Seu estilo. Aliás,
isso é "entrar" no Reino.
Durante a Última Ceia, no Evangelho
de João, depois de ter dado o mandamento-exemplo do serviço fraterno, Jesus
diz: "Sereis felizes se colocardes
em prática estas coisas. É preciso compreender, portanto, que saber é o primeiro e necessário passo,
mas é o fazer, o praticar que leva à
felicidade.
A aplicação que Jesus faz da
parábola vale para o Seu tempo, mas também é válida para nós hoje, pelo fato de
que o que conta é o ser, o praticar, o fazer. Não o presumir que quem fala bem
de Deus, usa a bíblia ou realiza algumas práticas religiosas, faça parte do Seu
Reino, só por isso.
Por outro lado, quem está longe de
Deus pode converter-se, aproximar-se verdadeiramente d'Ele. Em síntese, o que conta mesmo é a
resposta pessoal e prática que damos a Deus com nossas vidas, como também
explica o Profeta Ezequiel na primeira leitura (Ez 18,25-28): "Quando um justo se desvia
da justiça, pratica o mal e morre, é por causa do mal praticado que ele morre.
Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a
justiça, conserva a própria vida. Arrependendo-se de todos os seus pecados, com
certeza viverá, não morrerá”.
No início da parábola
lemos que "um pai tinha dois
filhos...". Nos vem à mente uma outra parábola famosa de Jesus contada
no Evangelho de Lucas. Trata-se da parábola do Filho Pródigo, ou melhor, do Pai
misericordioso. É o mesmo pai que aqui acolhe com amor junto de si o filho que
estava longe. Logo em seguida, ele se converte e é devolvido a alegria dos que
se aproximam do Pai. É esta misericórdia que Deus espera de cada um de nós que,
não raro, falamos mais do que fazemos no esforço de seguir Jesus, pois como nos
deixou em herança espiritual o grande Inácio de Antioquia, bispo e Mártir,
"é preferível calar e ser, do que falar e não ser". Exatamente como
fez o primeiro e o segundo filhos, respectivamente. (Frei Alfredo
Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br
– formador@inacianos.org.br).
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