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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 12 de abril de 2013

É O SENHOR!


(Liturgia do Terceiro Domingo da Páscoa)

Neste Terceiro Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor, creio que a primeira consideração a fazer, a partir das leituras sugeridas pela liturgia, diz respeito à dificuldade que temos para crer! No domingo passado foi Tomé quem nos ajudou a compreender essa realidade.
Contudo, mesmo diante da nossa dificuldade, Jesus se manifesta! Sempre de novo! Aliás, a manifestação de Jesus no Evangelho de hoje é realizada pela terceira vez e, certamente, não é a última. Antes, havia se manifestado às mulheres, depois, por duas vezes, manifestou-se no cenáculo.
Nessa fase pós-pascal, os discípulos precisavam ser confirmados na fé. Hoje podemos perceber que Deus nunca rejeita um pedido a partir de uma dificuldade de crer, se tal dificuldade estiver unida ou for oriunda de um desejo sincero, e não de um desafio soberbo à Sua divindade!
A manifestação deste Terceiro Domingo se dá no lago de Tiberíades. Depois ainda se manifestará aos dois discípulos de Emaús. A certeza transmitida por esses eventos é esta: o Senhor ressuscitou! Quer dizer que está vivo e, ressuscitado, ainda hoje se manifesta, e se manifestará sempre de novo diante de qualquer desejo sincero que brota do coração de quem quer crer n’Ele.
Jesus, na verdade, não brinca de “esconde esconde” conosco, como quem, ora aparece, ora desaparece. Por que um Deus que, desde o início dos tempos quer relacionar-se conosco, deveria se esconder? Um Deus que, na plenitude dos tempos, se manifestou concretamente em nossa carne humana? Por que deveria se esconder um Deus que nos salvou e manifestou o Seu amor assumindo no Seu corpo humano todo o sofrimento que o corpo humano pode suportar, mostrando-se com os sinais da Paixão no Seu verdadeiro corpo ressuscitado no dia da Páscoa? Agora que Jesus ressuscitou, por que Deus deveria negar deixar-se ver aos que procuram imitar na vida as suas atitudes e aos que desejam seguí-Lo?
Nós existimos mediante um corpo e o nosso corpo é feito para interagir com a realidade através dos nossos sentidos. É por isso que o ser humano tem um desejo profundo de ver, sentir, tocar.
De fato, acabamos de constatar essa realidade na Palavra proclamada no domingo passado, através da frustração e da pretensão que Tomé tinha: “se eu não vir... se eu não tocar...”.
 De vez em quando constatamos a mesma necessidade de Tomé em nossa própria vida. A mesma tentação dos que compareceram na sexta feira da Paixão no Calvário, parece também, de vez em quando, atingir o centro da nossa fé: “Desce da Cruz e acreditaremos em ti”. Mas, uma vez que o Cordeiro foi imolado, nós não vemos Deus daquela mesma forma!
O que queremos e buscamos, na verdade, é ver um Deus que afirma a Sua presença e o Seu poder através de “efeitos especiais”. É uma lógica que quase chega a seguir as exigências da alta tecnologia do cinema nas apresentações em 3D. Aliás, as manifestações em três dimensões já não são mais suficientes. A tecnologia cinematográfica já prepara o desenvolvimento necessário da tecnologia para as exibições em 4D. As megaproduções hollywoodianas já estão trabalhando em filmagens que envolverão todos os sentidos do espectador.  
Mas Deus não é adepto dos efeitos especiais, mesmo que tenha nos criado com a necessidade que o corpo tem de experimentar a realidade através dos sentidos. Não.
Eu, João, vi e ouvi a voz de numerosos anjos, que estavam em volta do trono, e dos Seres vivos e dos Anciãos”, proclama o Apocalipse de São João na primeira leitura (5,11-14).
Ora, se a vida é feita de experiências, a ressurreição também é e, como a relação com o outro, a relação com Deus também é validada pelo vê-Lo, ouvi-Lo, tocá-Lo. Não devemos contentar-nos apenas em acreditar que Deus exista. Isso, de fato, não seria crer! Não seria fé!
Fazer experiência é, portanto, imprescindível para uma fé que nos leve ao relacionamento com Deus.
Quando essa experiência não acontece, nossa “fé” é tímida e medrosa, nossa esperança é fraca e o nosso testemunho do amor, é morno e opaco.
De fato, uma coisa é crer que o amor existe, e outra coisa, muito diferente, é fazer a experiência de viver o amor, de estar apaixonado!
Devemos ousar mais! Muito mais! Não podemos desistir de ver, ouvir e tocar Deus. Pelo contrário, procuremos fazer uma experiência profunda e verdadeira de Deus. Trata-se de provar e “degustar” o seu amor! Caso contrário, de quais fatos nós seremos testemunhas como o foi Pedro e os demais, de acordo com a primeira leitura (At 5,27b-32. 40b-41)? Ou, como poderíamos dizer: “Transformastes o meu pranto em uma festa” como reza o salmista (Sl 29), se não fizermos a experiência da Páscoa?
Já dissemos que Deus não é adepto de efeitos especiais como os do filme em 3D ou do futuro 4D. Ele se manifesta de modo simples, imprevisível e autêntico, dando-Se a conhecer sempre de modo novo e diferente, ainda que seja sempre o mesmo!
E, porque Jesus se manifesta, é preciso reconhecê-lo! “Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor! Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu sua roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar, como proclama o Evangelho (Jo 21, 1-19).
A constatação de João e a atitude imediata de Pedro de atirar-se na água tem muito a nos dizer. Quer dizer, por exemplo, que não é possível viver uma fé que não acende e ilumina as nossas relações. Denunciam que não é esperança verdadeira limitar-se aos ritos apenas, mas que não aquecem a vida.
Chega de um tipo de caridade não “assa peixe” e não leva os demais a trazerem um pouco do que “pescam” para saborear peixe assado! Não é mais possível continuar a pescar com “efeitos especiais” que, na verdade, não “pescam” nada, mas apenas vislumbram e empolgam! É urgente querer e buscar encher as redes fazendo a experiência de “atirar-se no mar” obedecendo a Palavra de Deus e o ensinamento de Pedro. É preciso escutar a voz do Senhor que pergunta também a cada um de nós se o amamos, não obstante as muitas vezes que o renegamos, assim como também o fez o próprio Pedro.
Ouçamos a Sua voz que nos confirma no seu amor. Sigamos o Ressuscitado, não com as nossas próprias forças, mas com a experiência e com a força do Seu Amor. Reconheçamos a Sua presença manifestada nesta Eucaristia; nos sacerdotes que pregam e que nos fazem escutar as Suas Palavras. Vamos reconhecê-Lo no irmão e na irmã, no próximo; nesta paróquia, nesta Igreja, no Papa, nos seus ministros, e acima de tudo, na normalidade e no quotidiano imprevisível.
Mesmo nos momentos mais difíceis, no trabalho e na família Ele se faz presente e espera que O reconheçamos!
A razão de ser do cristão e o que o faz, não só levar o nome, como nos ensina Santo Inácio, Mártir, mas o ser, de fato, não é uma vida caracterizada pelo bem estar e pela ausência de problemas, crises ou dificuldades.
Uma vida autenticamente cristã é caracteriza pela Sua presença que se manifesta na vida de cada pessoa humana. É nessa experiência que podemos encontrá-Lo e reconhecer a nossa semelhança com Ele, através da bondade, do amor, da verdade e do perdão. Então poderemos dizer como Pedro: “Senhor, tu sabes tudo! Tu sabes que eu te amo”!
Ele não exige que prometamos como Pedro um dia fez: “Eu te seguirei, Senhor, aonde quer que vá”! Aliás, sabemos muito bem como terminam esses propósitos que já fizemos tantas vezes e com tanta convicção.
Digamos apenas, eu te seguirei, Senhor. Apenas isso! Mesmo que seja sem palavras, mas com as nossas atitudes. O Senhor sabe de tudo o que precisamos, e Ele preparará para nós, de acordo com a nossa “fome”, o banquete que precisamos, seja com peixes sobre as brasas ou com o Seu perdão, Sua bênção e Sua paz. Ele se fará presente! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.brwww.inacianos.org.br). 

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