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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O PLANO ORIGINAL DE DEUS PARA A FAMÍLIA

(Liturgia do Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)


A antífona de entrada da missa deste Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum reza assim: “Senhor, tudo está em vosso poder, e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a terra, e tudo o que eles contêm; sois o Deus do universo”!
Dentro do espírito da Palavra de Deus proposta para este domingo, poderíamos continuar esta oração dizendo: “e a maior de todas as maravilhas que criastes, Senhor, é o ser humano criado à vossa imagem e semelhança”!
A liturgia de hoje chama a nossa atenção para este grande mistério. Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem e, no seu desígnio de amor eterno, instituiu a família humana, para que seja lugar de amor, acolhimento, respeito e fecundidade.
A primeira leitura tirada do livro do Gênesis (Gn 2,18-24), começa com estas palavras: “Não é bom que o homem esteja só”. Isso, justamente porque, criado à imagem de Deus, que é amor oblativo, o homem traz em si a vocação “natural” à abertura para o outro, ao diálogo e à comunhão.
Nenhuma das criaturas, exceto o próprio ser humano, consegue saciar a sede inata de comunhão do homem. Trata-se de compreender que as coisas não bastam, os animais não poderiam, a natureza, por mais rica e exuberante que seja, não tem como estabelecer um laço relacional de comunhão, como só o ser humano tem.
O ser humano, portanto, tem necessidade de um relacionamento livre e pessoal. Precisa de uma relação humana. É o próprio Deus que exprime com clareza a Sua vontade: “Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele”!
O homem precisa dessa ajuda. Necessita de uma correspondência e nem mesmo todos os bens materiais poderiam suprir-lhe essa necessidade, porque a sua necessidade é de correspondência humana! Isto é, não pode viver só e realiza plenamente a sua vocação somente no relacionamento com o outro.
A narração viva e animada da criação da mulher feita de uma costela do homem, nos diz que os dois são iguais em dignidade, tem a mesma vocação e fazem parte de um único desígnio salvífico de Deus.
A origem e a vocação comuns do homem e da mulher implica para ambos, no esforço à ajuda mútua, no respeito e o amor mútuo.
Isso significa dizer que cada um deve cuidar do outro como cuidaria de si mesmo, que nenhum dos dois pode conceber-se superior ao outro. Pelo contrário, devem viver juntos, unidos na sua grande e irrevogável vocação que os impulsiona sempre a formar unidade.
Aliás, é nisso que se revela o chamado original do homem e da mulher à semelhança com Deus. Ou seja, tender à unidade, tornarem-se um, como Deus é Uno.
Em Eva Adão encontra, finalmente, “uma auxiliar semelhante a ele”. O ato de impor o nome a todos os animais, aos pássaros do céu e a todos os animais selvagens indica uma autoridade sobre os mesmos. Contudo, é interessante notar que isso ainda não é suficiente. Depois de fazer isso, o homem percebe que ainda não havia encontrado alguém “semelhante a ele”.
É somente depois de ter encontrado a mulher, que pode exclamar satisfeito: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne”! O percurso realizado pelo homem nessa busca foi iniciado com o homem contemplando as criaturas “fora de si”. O seu cumprimento, contudo, se realiza quando alcança com satisfação esse objetivo, ao encontrar-se com o humano-semelhante, a mulher. O homem se sente realizado!
Deus revela o seu projeto através das palavras conclusivas de Jesus no Evangelho: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”!
Trata-se de sair da própria solidão existencial para depois, abandonar o núcleo familiar original (deixará seu pai e sua mãe), e então, dar início à uma nova família.
A essa família Deus concede a graça da fecundidade. Assim como o Pai ama o Filho, o Filho ama o Pai, e esse amor gera uma terceira Pessoa, assim também acontece com o casal, homem e mulher, criado à imagem e semelhança de Deus, que é capaz de fazer brotar do amor recíproco uma nova vida. Aliás, somente ao homem e a mulher podemos chamar de casal, pois o par, neste caso, é formado dos gêneros diferentes que se completam.
A família é a célula fundamental da Igreja e da sociedade. A Palavra de Deus nos recorda esta verdade fundamental e nos convida a ter confiança e a não perder a coragem, a não desanimar diante dos inúmeros desafios que a cultura atual apresenta à família. Quem é a favor da família é a favor de Deus e do Seu projeto de salvação para a humanidade.
No Evangelho (Mc 10,2-16) é interessante notar que a resposta de Jesus aos fariseus, com referência à possibilidade - premissa de uma norma estabelecida por Moisés - de repudiar a própria mulher é: “foi por causa da dureza dos vossos corações que Moisés escreveu este mandamento. No entanto, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”!
Jesus reitera, assim, o plano original de Deus tanto para o homem, como para a mulher e para a família. O pacto nupcial livre e indissolúvel, vivido na fidelidade e na fecundidade, é algo querido e abençoado por Deus, não obstante a dureza do coração humano, que vai à procura de atalhos e de álibis. O plano de Deus permanece de pé e mantém sempre a sua validade e sua atualidade.
Finalmente, Jesus acrescenta como que uma marca na primeira leitura do livro do Gênesis, através da advertência: “... O que Deus uniu, o homem não separe”!
Rezemos hoje pela família, para que a Igreja saiba propor sempre com verdade e franqueza as palavras de Jesus e que jamais desanime em proclamar que Deus é origem, auxílio e fim no pacto conjugal entre o homem e a mulher.
Afinal, a Igreja continua e continuará a reafirmar sem medo e com segurança, o plano original de Deus para o homem e a mulher, e para a família, em qualquer época, diante de qualquer desafio que as culturas dos tempos apresentam hoje e apresentarem no futuro, ainda que se esforce para acolher, amar e compreender aqueles e aquelas que vivem a sua vida sob outras condições. Isso não anula a força da Palavra que anuncia o plano original de Deus para a família! Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

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