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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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quinta-feira, 5 de abril de 2012

PALAVRA, GESTO E EXEMPLO!

QUINTA FEIRA SANTA
(Liturgia da Quinta-feira Santa)

As pessoas que tem como trabalho, responsabilidade habitual ou mesmo esporádica ensinar, pregar, ministrar palestras, participar de debates de mesas redondas, às vezes tem que encontrar alguma técnica estratégica para serem convincentes ou persuasivos. É quando recorrem, talvez, às peripécias dialéticas ou a aforismos fulminantes, persuasivos para convencer os ouvintes das suas próprias ideias.
As coisas podem começar a se complicar quando, ao invés de convencer os ouvintes a mudar as próprias ideias, aquele quem ensina, educa ou debate, sente que tem como missão não apenas fazer os outros mudarem de ideia, mas mudar a própria conduta de vida.
Mas isso só é possível, isto é, só se consegue alcançar se, neste caso, o “mestre” for honesto consigo mesmo, dando o bom exemplo, sem ostentação, é claro!
Na verdade, essa é uma tarefa bem complicada, pois o que está em jogo é a credibilidade de quem ensina ou preside, se não confirmar com atitudes o que diz com as palavras, embora às vezes, seja necessária  uma vida inteira para sustentar a credibilidade das próprias palavras.
Faço aqui uma analogia entre esta situação apresentada como motivação para a nossa reflexão e o que aconteceu na noite de quinta-feira em Jerusalém em torno de uma mesa, embora não fosse uma mesa redonda, tendo Jesus ao centro.
O relato de João nos diz, repetidas vezes, que Jesus “sabia” o que iria lhe acontecer no dia seguinte. No entanto, não aproveitou o fato de conhecer os acontecimentos do dia seguinte para fugir ou precaver-se. Ao contrário, aproveitou a ocasião, “jogando a última carta”, a última Ceia, dando o exemplo de como se ama, de fato! Maior e mais convincente exemplo do que esse, mais profundo, impossível! “amou-os até o fim”.
Amar com palavras não é convincente!  Vestir um avental e começar a lavar os pés dos doze, inclusive do amigo traidor, isso sim é amar, de fato! Falar, durante o jantar da sua entrega na morte e da traição dos amigos mais íntimos, assunto bem indigesto para um jantar, isto sim, é amor como argumento! E depois, à conclusão, uma repreensão velada e um breve sermão: “Agora vós não podeis compreender... se eu a quem vós chamais de Mestre, e eu o sou, vos fiz isso...”. Não deveria ser difícil concluir...
Naquela noite, Jesus instituiu dois sacramentos, isto é, o Sacramento da "fraternidade" e da "Eucaristia", que a Igreja, na sua sabedoria, unificou em um único Sacramento, na Eucaristia. Parecer querer dizer que não é possível alimentar-se à mesa da fraternidade universal, sem nutrir a alma à mesa da Eucaristia.
Daquele momento em diante tudo muda no relacionamento homem-Deus.  Esse Deus que sai, por puro amor, livremente da Sua eternidade sob o semblante de Jesus para redimir o mundo, quis indicar a maneira “concretamente salvífica” de viver as relações humanas. Ele fez isso no meio de um “jantar” parecendo querer sugerir que , assim como as “boas relações” nos fazem viver bem e nos fazem crescer no amor, do mesmo modo a relação íntima com Ele é a alma de todo o viver em relação e com relação entre as pessoas e o universo inteiro. Eu quero dizer: uma relação funda e estabelece a outra!
Ao celebrar a Ceia do Senhor é bom lembrar como Jesus deu exemplo de sua conduta de vida: “O meu alimento é fazer a vontade do meu Pai”, e também como nos ensinou a rezar: “o pão nosso de cada dia nos daí hoje”!
É bom lembrar porque uma linha estreitíssima liga as duas expressões: a vontade do Pai é que todos se amem como irmãos e o comer o pão, nas mais simples das relações quotidianas, inclusive quando parecem relações casuais e mesmo quando não estamos sentados à mesa como amigos, ou ajoelhados diante da mesa da Eucaristia, mas em pé, trilhando os caminhos deste mundo; e também quando essa comunhão fraterna dos “sentados” ou dos que estão “em pé” pelas estradas da vida, como dissemos, constitui muito mais um problema a ser resolvido do que uma realidade a ser vivida; é bom lembrar que uma coisa está ligada à outra!
Lembremos também que a relação com os outros é como a arte de cozinhar: em cada prato cada um encontra o tempero que, ao cozinhar, ali foi colocado, inevitavelmente! Não adiantará muito mudar de lugar na mesa, tampouco trocar de prato! Assim como de nada adiantará mudar de caminho ou de igreja. A única coisa que valerá à pena fazer é mudar o modo de estar sentados e a maneira de caminhar com os irmãos, certos de que, o que realmente faz as mudanças acontecerem é mudar de atitude nos relacionamento amorosos, fraternos, familiares, descendo do pedestal do próprio eu, assim como nos ensinou o Mestre numa outra ocasião: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

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