(Liturgia da Exaltação da Santa Cruz)
Hoje
temos a graça de celebrar a festa da Exaltação da Santa Cruz.
A
palavra “Cruz” é usada, à vezes, para indicar uma pessoa, uma coisa ou uma
situação que somos obrigados a suportar. Algo ou alguém que nos traz sofrimento,
sejam doenças ou problemas a carregar pelas estradas da nossa vida. Aliás, na
linguagem comum é difícil descobrir um significado positivo para a cruz.
Mas o
sinal da Cruz é uma das primeiras coisas que aprendemos desde pequenos e,
apesar de lembrar o sofrimento, o repetimos muitas vezes, mesmo em condições,
circunstâncias e momentos de festa e alegria como no Batismo, no Crisma, nos casamentos
e até mesmo quando estamos à mesa para um bom e saboroso almoço festivo com a
família ou com os amigos. Evidentemente, a Cruz também nos diz algo de bom e de
positivo.
A
Santa Cruz que hoje é exaltada e que está no centro de nossas celebrações, é a
Cruz de Cristo. Ela não faz sentido por si só, mas sempre em relação. É a mesma
que Jesus abraçou livremente por amor.
Trata-se
de um mistério de amor e, portanto, a mais alta expressão do amor que nosso
Deus teve, tem e sempre terá por cada um de nós.
Afinal,
quem pode amar mais do que um pai ou uma mãe? Segundo o profeta Isaías, só o
amor de Deus é mais forte que o amor materno. Este é o tipo do amor que Deus
tem por nós e do qual Ele mesmo é constituído (Deus é amor).
É este
amor que faz com Ele envie o Seu Filho. Este, como sabemos, obediente ao Pai,
se fez homem e se “esvaziou” até a morte, a mais humilhante e infame, reservada
aos piores delitos, a morte de cruz.
Escutamos
na segunda leitura desta celebração (Fl 2,6-11), São Paulo que descreve
exatamente esse “esvaziamento” de Cristo que, por ser de natureza divina, se fez
homem, entregando-Se nas mãos dos homens para ser morto ou, como se diz em
outra parte, “se fez pecado”.
Jesus
na Cruz é “esmagado” pelo mistério do mal a ponto de morrer! Mas é justamente
assim que Ele vence o mal: “de dentro” do seu modo mais profundo de existir.
A esse
itinerário de “esvaziamento” de Si, corresponde a ação de Deus Pai que, por
isso, O exalta e O constitui Senhor de todas as coisas, estabelecendo que
somente no nome de Jesus haja salvação.
A
espiritualidade oriental tem muito a nos ensinar sobre o poder do nome de Jesus.
Nas nossas orações constituídas, às vezes, de muitas palavras, podemos recorrer
à simples e segura invocação do nome de Jesus, repetindo-o, meditativamente. É
uma oração simples e eficaz, como a famosa expressão usada pela oração do
coração: “Senhor Jesus, tem piedade de
mim”! Trata-se de um pedido de salvação, aparentemente, superficial, mas ao
mesmo tempo, profundo!
No
Evangelho (Jo 3,13-17) desta liturgia da Exaltação da Santa Cruz, o próprio
Jesus, ainda que não fale explicitamente de salvação, faz alusão, claramente,
no seu diálogo com Nicodemos quando diz: “E
como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do
Homem seja levantado, para que, todos aqueles que nele crerem, tenham a vida
eterna”.
Quanto à expressão “Filho
do Homem”, é usada para se referir a Jesus, e o “ser levantado” a que se refere, obviamente, diz respeito à Sua
crucificação e morte.
Está,
portanto, estabelecido um paralelo com o Antigo Testamento: a serpente
levantada na haste de madeira por Moisés, para que todos aqueles que por ela fossem
mordidos e que a ela se dirigissem fossem curados dos seus pecados.
A
simbologia é, de fato, muito rica e nos permite estabelecer ainda outro
paralelo com o Antigo Testamento, mais precisamente com o livro do Gênesis, mencionado
no prefácio da missa de hoje: “Pusestes
no lenho da Cruz a salvação da humanidade, para que a vida ressurgisse de onde
a morte viera. E o que vencera na árvore do paraíso, na árvore da Cruz fosse
vencido”.
O Evangelho
nos avisa que é crendo nesse Jesus “levantado” que se tem a vida eterna. Aquele
que crê em Cristo Crucificado não morre, mas tem a vida eterna.
A
expressão “Não morre”, aparentemente parece
contradizer a experiência humana sensível, porque todos nós um dia morreremos.
O “não morrer” a que se refere Jesus,
só pode ser compreendido na ótica de uma fé que crê na vida do Céu na presença
de Deus.
Refere-se
à vida eterna. Isto é, àquela vida plena que começa já aqui na Terra, desde o
Batismo, e que tem na morte uma passagem na direção do Pai que está nos Céus; um
Deus no qual cremos, ao qual temos devotado toda a nossa vida, com confiança.
Este
Deus não nos foi revelado por Jesus como um juiz impiedoso, mas
fundamentalmente, como um Pai bondoso e misericordioso, cujo amor é gratuito.
Um
Deus que nos amou por primeiro, nos ama incondicionalmente, e que apesar de
nossas infidelidades, continua a nos amar, mesmo quando vivemos como se Ele não
existisse. Um Deus que nos espera, mesmo que estejamos ainda muito longe dele.
O Pai,
rico em misericórdia, não enviou o Seu Filho “para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele”. Essa
salvação que Jesus nos garantiu com a Sua morte na Cruz e com a Sua
ressurreição é destinada a todos, sem exceção.
Em
cada celebração da Eucaristia esse mistério de amor de Deus é “reoferecido”
pela salvação de toda a humanidade.
A
propósito, se nos perguntássemos do que devemos ser salvos, ou do que o Senhor
nos salva na Sua Cruz redentora, certamente a resposta seria: do pecado e da
morte. E de fato! Uma resposta correta e verdadeira. Contudo, talvez um pouco
genérica.
Procuremos,
com sinceridade, examinando nossos corações e nossas consciências, ao
celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, dar a esta pergunta uma resposta pessoal,
com relação à nossa vida cotidiana.
De que
precisamos, de fato, ser salvos? Do que a Cruz de Cristo me salva? Por que
Cristo morreu na Cruz por mim? (Frei Alfredo Francisco de Souza,
SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br
– Website: www.inacianos.org.br).
Nenhum comentário:
Postar um comentário