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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 21 de novembro de 2015

TU ÉS REI?

(Solenidade de Nosso Senhor, Jesus Cristo, Rei do Universo)

O final do ano litúrgico nos proporciona o encontro com dois aspectos importantes da nossa fé. Aspectos que precisamos redescobrir.  Trata-se da vinda final do Filho do Homem, apresentado nas leituras da missa do domingo passado (33º domingo do tempo comum), e Jesus Cristo Rei do Universo, apresentado neste domingo, o último deste ano litúrgico. 
Dirigir-se a Jesus com o título de “rei” pode soar um pouco estranho aos nossos ouvidos e, parece, distanciá-Lo de nós, sobretudo porque já faz muito tempo que superamos a fase das monarquias. Portanto, falar ou ouvir qualquer coisa que se refira a rei nos dá a ideia de algo ultrapassado, distante e fora da realidade. Contudo, a celebração da festa de Jesus Cristo, Rei do Universo não quer distanciá-Lo de nós.
A liturgia, simplesmente, se exprime com os termos da própria bíblia que, freqüentemente, fala de Reino, de realeza, de trono e de rei para falar-nos de Deus e da Sua presença no mundo.
Para compreender o significado desses termos, devemos procurá-los na bíblia que conta uma história na qual há muitos reis, sobretudo no Antigo Testamento. No Novo Testamento refere-se a um único rei, totalmente diferente daquilo que, talvez, seja a nossa ideia de Jesus como rei. A bíblia contém uma história, não ideias, e somente percorrendo essa história podemos acolher a mensagem de Deus para nós.
As leituras da festa deste domingo dedicado a Jesus Cristo, Rei do Universo, como sempre, nos apresentam um quadro da história. Procuremos coligar com a história inteira, para valorizar a mensagem.
O evangelista São João (Jo 18,33b-37) não fala de Jesus que anuncia o Reino de Deus, como os outros evangelistas, mas apresenta Jesus anunciando o Reino durante a Sua Paixão, diante de Pilatos, que O interroga.
Mesmo sendo alvo de um processo de acusação, Jesus não hesita em reconhecer-se Rei. Nessa forte cena do processo, a palavra “rei” assume significados diversos, segundo quem a pronuncia.
Os judeus, que esperam um Messias-rei, entregaram Jesus a Pilatos sob a acusação de que Ele autoproclamara-se rei em sentido político; como uma alternativa a César, como pretexto para condená-Lo.
Pilatos inicia o interrogatório sob essa perspectiva e pede a Jesus para se pronunciar a respeito. Jesus, logo de início, nega ser rei, depois afirma sê-lo. Nega que é um rei político, pelo que não representa nenhum perigo ao Império Romano. Não se proclama, tampouco, herdeiro do reino de Davi. Quando disse que o Seu Reino não é “daqui”, isto é, deste mundo e, segundo as perspectivas da acusação, subentende que, num certo sentido, é sim, rei.
Pilatos, então, O pressiona e Jesus aprofunda a questão. De fato, Ele é Rei, mas de um reino que vem de mais longe e do alto. O Seu Reino se torna realidade, isto é, acontece pela presença da verdade, da qual dá testemunho. Os seus súditos são aqueles que estão do lado da verdade!
Para Pilatos, e para todos nós que “participamos” desse processo de Jesus, estas palavras são muito mais do que um explicação. São um convite a colocar-se do lado da verdade, a aceitar Jesus como Rei, reconhecer o seu poder, que é muito diferente do poder dos reis deste mundo e que a nada se compara e, por isso mesmo, nem Pilatos, nem César e todo o sistema precisam temer.
Pilatos compreende que Jesus vai além, em profundidade, mas responde de modo evasivo, mostrando não esperar nada daquele galileu e então, pergunta: “O que é a verdade”? Jesus não responde com palavras à pergunta de Pilatos, porque está respondendo com a Sua pessoa, com a Sua presença e com a Sua obediência ao Pai.
Trata-se de mostrar “quem” é a verdade e não “o que”, porque a Verdade é uma pessoa. Essa pessoa está diante de quem pergunta, contudo, o interrogador não é capaz de enxergar a Verdade, porque está do outro lado! Portanto, não são palavras que explicarão a Pilatos quem é a verdade, pois a verdade está ali, diante dele e ele não é capaz de enxergar!
Eis a Verdade! A Verdade é Jesus que se doa por amor, é a força de quem se faz fraco para estar com os fracos. Será que Pilatos aceitará colocar-se do lado da Verdade? Está disposto? E você, aceita colocar-se desse lado?
E assim, sem enxergar, ao invés de ser Pilatos quem dirige o processo contra Jesus, é Jesus que “senta-se” como Juiz para fazer um juízo de separação entre quem está do Seu lado e quem não está. Nesse processo não tem lugar para a imparcialidade, para ser neutro, ou ser apenas um mero espectador. Nesse caso é impossível não optar!
Mas como, então, compreender a natureza da realeza de Jesus? Jesus é rei no sentido de quem não tem nenhum poder político ou militar; é um Rei que está para ser condenado por quem tem, justamente, esse poder político e militar.
Nessa condenação, paradoxalmente, confirma-se o poder de Jesus, soberano dos reis da Terra, como dizem os primeiros versículos do Apocalipse lido na segunda leitura (Ap 1,5-8): o soberano dos reis da terra. A Jesus, que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados 6e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade. Amém”. É, sem dúvida, uma referência àqueles que são capazes de oferecer o seu próprio sacrifício, isto é, o sacrifício da própria vida.
Jesus nos ensina que o Reino que veio instaurar se realiza quando somos capazes de viver para os outros, vencendo o pecado do egoísmo. Um Reino assim fraco e ao mesmo tempo forte e poderoso é, de fato, o desejo de todos os povos.
Na verdade, o livro de Daniel lido na primeira leitura (7,13-14), apresenta o profeta que, numa das suas “visões”, viu vir sobre as nuvens uma figura humana que recebeu de Deus o poder, a honra e a realeza ao ponto de todos os povos o servirem e de ser rei de um Reino que nunca será destruído.
Celebrar a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, significa, portanto, professar a fé na presença do Seu Reino no mundo, inaugurado pela Sua oferta na cruz e na qual somos chamados a fazer parte, seguindo o Cordeiro, o Rei, imitando o Seu exemplo.
Significa também relativizar todos os outros tipos de poder que se impõem sobre a humanidade, seja o poder político, o poder das armas, do dinheiro, da mídia ou da estética. Isso começa a acontecer quando passamos a viver os valores do Reino do qual Jesus é Rei, de acordo com sua lógica.
Tomamos, então, consciência de que somos chamados a fazer um caminho contrário, a viver de um modo totalmente ousado, diferente! Não é assim também na experiência de vivenciar o amor? O amor requer fidelidade, é exigente! Temos hoje uma grande e bela oportunidade de levar esse projeto a sério, afastando de nossas vidas toda a mediocridade, as meias medidas, o estar “em cima do muro”.
A liturgia que celebramos na festa de Cristo Rei é um convite a tomarmos consciência de que somos chamados a caminhar de acordo com o projeto de Deus, mas não desprovidos, porque sabemos que Ele nos ama e nos liberta dos nossos pecados e faz de nós sacerdotes para o Seu Deus e Pai.

Um Deus assim, capaz de sofrer até o fim, merece a totalidade da nossa resposta de amor. Se, de fato, vivêssemos assim a nossa vida cristã, certamente, aquela alegria que dá sentido ao nosso cansaço e às dores do sofrimento, nos acompanhará por toda a nossa vida! Viva Cristo, Rei! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA –  Missionário Inaciano).

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