(Liturgia do Vigésimo Sexto Domingo do
Tempo Comum)
As leituras
propostas neste Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum para nossa meditação e
oração, nos tocam bem de perto, como tocam também a situação da sociedade
humana em que vivemos.
Em nosso
dia a dia, freqüentemente, temos que lutar contra o pecado da inveja. Trata-se
de um pecado capaz de se esconder nos recantos mais ocultos da mente e do
coração, e de lá lançar seus ataques mais terríveis à alma humana.
A marca da
inveja, bem como de todos os outros pecados capitais é, geralmente, utilizar
estratégias sofisticadas para atingir o seu objetivo, isto é, arruinar os
relacionamentos.
A
estratégia utilizada pelo Príncipe do mal é passar despercebido, porque é capaz
de disfarçar-se e de mascarar-se, suscitando em quem está “desavisado” das suas
artimanhas, reações de desdém, ressentimento, e até mesmo de verdadeiro
escândalo.
Acontece que
escandalizar-se com mal é normal, mas indignar-se, desdenhar ou escandalizar-se
com o bem é, no mínimo, estranho e curioso.
Este
mecanismo, na maioria das vezes inconsciente, acontece por causa do que se
"pensa" a respeito do evento que suscitou tanto "escândalo",
inveja, ou "ressentimento".
Um exemplo
muito antigo pode esclarecer melhor o conceito. Caim, por exemplo, "pensava"
que Deus se agradava mais das ofertas de seu irmão Abel e, por isso, tinha
muita inveja dele. Logo, a solução era eliminá-lo, como de fato, o fez.
Ao invés de
eliminar o seu modo errado de pensar, o seu mau pensamento, Caim mata o irmão. Mas baseado em que, de fato, Caim estava
convencido que era certa a conclusão que fizera a respeito das oferendas de seu
irmão Abel a Deus?
A mesma
coisa poderia ter acontecido a Lúcifer quando pensou que não era justo que “só
Deus fosse Deus... e a partir desse pensamento, teve inveja de Deus, ao ponto
de querer eliminá-Lo sem, contudo, conseguir.
Algo mais
ou menos parecido deve ter acontecido também com João, o discípulo preferido de
Jesus. É o que mostra o Evangelho de hoje (Mc
9,38-43.45.47-48).
Será que os
outros onze não sentiram o aguilhão da inveja na carne, justamente por causa
dessa preferência gratuita de Jesus por João? Será que não foi essa preferência
que o levou (João) a pensar que quem não fosse do seu grupo não poderia fazer o
bem? Outra pergunta proposta pelo Evangelho.
Olhando
para João nesse contexto, é possível observar a mente contaminada pelos maus
pensamentos, e comportamentos tais como explosão, ressentimento, desdém, sem
contar o escândalo quase triunfal de João: “Nós
o proibimos, porque ele não nos segue”.
A reação
expressa um modo intempestivo de agir de João que, talvez, esperava de Jesus um
elogio. Jesus, porém, responde com um “antivírus” que vai atacar exatamente o
‘vírus” daquele mau pensamento: “Não o
proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. “Quem
não é contra nós, é a nosso favor”.
Depois
disso, Jesus continua fazendo alguns paradoxos capazes de fazer estremecer e
perturbar a mente de quem O escuta. Coincidentemente, aparecem várias vezes aí
a palavra “escândalo”. Com as comparações que faz diante de todos os seus
discípulos que, certamente, deveriam estar perplexos, Jesus “dispara”: “Se alguém escandalizar um desses pequeninos
que crêem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho
amarrada ao pescoço. Se tua mão te leva a pecar, corta-a! È melhor entrar na
Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo
que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida
sem um os pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno... etc.”.
O que Jesus
acaba de fazer é derrubar por terra a atitude escandalizada de João e dos
outros discípulos, “camuflada” pela inveja!
Como se
quisesse fazer com que compreendessem claramente que o seu comportamento
mesquinho estava sendo regido pelo mau pensamento: "quem não está conosco está contra nós". Isso não só não
corresponde à verdade, como também seria maior motivo de escândalo!
Há o
suficiente para todos nós! Portanto, ao invés de “rasgar” as nossas vestes por
causa daquilo que pensamos ser muito escandaloso nos outros, devemos nos
comportar de modo que não sejam os outros a rasgar as suas vestes por causa dos
nossos comportamentos mesquinhos, que irradiam fofocas, comportamentos
racionais ao extremo e, não raro, movidos pela inveja.
Isso
acontece facilmente quando se perde de vista o cenário do Reino de Deus. Quando
isso ocorre, cada um de nós passa a ser rival do outro e não um companheiro de
jornada e da luta pelo bem.
Ao invés do
um comportamento invejoso, seco, ressentido, irritado e mesmo escandalizado,
com relação a qualquer um que faça o bem como nós ou até mesmo melhor do que
nós, isto é, mais capaz do que nós ou ainda mais preferido por Deus, devemos
simplesmente pensar que se este alguém não é contra Deus, é de Deus, vem da
parte de Deus e que se não é contra nós, está conosco. Estar convencido disso
pela fé é a semente que faz germinar o amor fraterno!
Se por um
lado a inveja do diabo arruinou as relações no mundo, o amor fraterno ensinado
e testemunhado por Jesus é capaz de salvá-las, desde que cada um esteja
disposto a não olhar com inveja o seu irmão, mas com atitudes que agreguem, ao
invés de dividir.
A segunda
leitura, da Carta de São Tiago, atinge diretamente questões atuais como a injustiça,
corrupção e desperdício. Diante disso é impossível não pensar na crise
econômica mundial! Como não tomar consciência de que fazer justiça para os mais
empobrecidos é, realmente, implantar medidas para protegê-los?
Quando o
ser humano estiver convencido a fazer a justiça, de fato, funcionar na sociedade
humana, não haverá nenhuma necessidade de inventar armas sofisticadas ou leis
estranhas para a segurança dos seus cidadãos.
O Evangelho
nos ensina ainda que Deus está escondido nos mais pobres e nos estrangeiros.
Portanto, eis aí para todos nós um convite explícito. Somos convidados não a
procurar novas auto-satisfações, mas uma nova cultura onde reine a justiça e o perdão.
As leituras
que escutamos neste domingo nos convidam a assumir concretamente a nossa
responsabilidade seja pessoal ou social/comunitária, para compartilhar os
verdadeiros valores em vista de um futuro melhor. Realmente, precisamos de
profetas, homens e mulheres "tocados por Deus" para ajudar esta
civilização a sair da “fossa” do egoísmo em que se encontra. Pois o Senhor quer
dar a todos o seu Espírito! (Frei
Alfredo Francisco de Souza, SIA).
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