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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 26 de setembro de 2015

"QUEM NÃO ESTÁ CONTRA NÓS, ESTÁ A NOSSO FAVOR"

(Liturgia do Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum)

As leituras propostas neste Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum para nossa meditação e oração, nos tocam bem de perto, como tocam também a situação da sociedade humana em que vivemos.
Em nosso dia a dia, freqüentemente, temos que lutar contra o pecado da inveja. Trata-se de um pecado capaz de se esconder nos recantos mais ocultos da mente e do coração, e de lá lançar seus ataques mais terríveis à alma humana.
A marca da inveja, bem como de todos os outros pecados capitais é, geralmente, utilizar estratégias sofisticadas para atingir o seu objetivo, isto é, arruinar os relacionamentos.
A estratégia utilizada pelo Príncipe do mal é passar despercebido, porque é capaz de disfarçar-se e de mascarar-se, suscitando em quem está “desavisado” das suas artimanhas, reações de desdém, ressentimento, e até mesmo de verdadeiro escândalo.  
Acontece que escandalizar-se com mal é normal, mas indignar-se, desdenhar ou escandalizar-se com o bem é, no mínimo, estranho e curioso.
Este mecanismo, na maioria das vezes inconsciente, acontece por causa do que se "pensa" a respeito do evento que suscitou tanto "escândalo", inveja, ou "ressentimento".
Um exemplo muito antigo pode esclarecer melhor o conceito. Caim, por exemplo, "pensava" que Deus se agradava mais das ofertas de seu irmão Abel e, por isso, tinha muita inveja dele. Logo, a solução era eliminá-lo, como de fato, o fez.
Ao invés de eliminar o seu modo errado de pensar, o seu mau pensamento, Caim mata o irmão.  Mas baseado em que, de fato, Caim estava convencido que era certa a conclusão que fizera a respeito das oferendas de seu irmão Abel a Deus?
A mesma coisa poderia ter acontecido a Lúcifer quando pensou que não era justo que “só Deus fosse Deus... e a partir desse pensamento, teve inveja de Deus, ao ponto de querer eliminá-Lo sem, contudo, conseguir.
Algo mais ou menos parecido deve ter acontecido também com João, o discípulo preferido de Jesus. É o que mostra o Evangelho de hoje (Mc 9,38-43.45.47-48).
Será que os outros onze não sentiram o aguilhão da inveja na carne, justamente por causa dessa preferência gratuita de Jesus por João? Será que não foi essa preferência que o levou (João) a pensar que quem não fosse do seu grupo não poderia fazer o bem? Outra pergunta proposta pelo Evangelho.  
Olhando para João nesse contexto, é possível observar a mente contaminada pelos maus pensamentos, e comportamentos tais como explosão, ressentimento, desdém, sem contar o escândalo quase triunfal de João: “Nós o proibimos, porque ele não nos segue”.
A reação expressa um modo intempestivo de agir de João que, talvez, esperava de Jesus um elogio. Jesus, porém, responde com um “antivírus” que vai atacar exatamente o ‘vírus” daquele mau pensamento: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. “Quem não é contra nós, é a nosso favor”.
Depois disso, Jesus continua fazendo alguns paradoxos capazes de fazer estremecer e perturbar a mente de quem O escuta. Coincidentemente, aparecem várias vezes aí a palavra “escândalo”. Com as comparações que faz diante de todos os seus discípulos que, certamente, deveriam estar perplexos, Jesus “dispara”: “Se alguém escandalizar um desses pequeninos que crêem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Se tua mão te leva a pecar, corta-a! È melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida sem um os pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno... etc.”.
O que Jesus acaba de fazer é derrubar por terra a atitude escandalizada de João e dos outros discípulos, “camuflada” pela inveja!
Como se quisesse fazer com que compreendessem claramente que o seu comportamento mesquinho estava sendo regido pelo mau pensamento: "quem não está conosco está contra nós". Isso não só não corresponde à verdade, como também seria maior motivo de escândalo!
Há o suficiente para todos nós! Portanto, ao invés de “rasgar” as nossas vestes por causa daquilo que pensamos ser muito escandaloso nos outros, devemos nos comportar de modo que não sejam os outros a rasgar as suas vestes por causa dos nossos comportamentos mesquinhos, que irradiam fofocas, comportamentos racionais ao extremo e, não raro, movidos pela inveja.
Isso acontece facilmente quando se perde de vista o cenário do Reino de Deus. Quando isso ocorre, cada um de nós passa a ser rival do outro e não um companheiro de jornada e da luta pelo bem.
Ao invés do um comportamento invejoso, seco, ressentido, irritado e mesmo escandalizado, com relação a qualquer um que faça o bem como nós ou até mesmo melhor do que nós, isto é, mais capaz do que nós ou ainda mais preferido por Deus, devemos simplesmente pensar que se este alguém não é contra Deus, é de Deus, vem da parte de Deus e que se não é contra nós, está conosco. Estar convencido disso pela fé é a semente que faz germinar o amor fraterno! 
Se por um lado a inveja do diabo arruinou as relações no mundo, o amor fraterno ensinado e testemunhado por Jesus é capaz de salvá-las, desde que cada um esteja disposto a não olhar com inveja o seu irmão, mas com atitudes que agreguem, ao invés de dividir.  
A segunda leitura, da Carta de São Tiago, atinge diretamente questões atuais como a injustiça, corrupção e desperdício. Diante disso é impossível não pensar na crise econômica mundial! Como não tomar consciência de que fazer justiça para os mais empobrecidos é, realmente, implantar medidas para protegê-los?
Quando o ser humano estiver convencido a fazer a justiça, de fato, funcionar na sociedade humana, não haverá nenhuma necessidade de inventar armas sofisticadas ou leis estranhas para a segurança dos seus cidadãos.
O Evangelho nos ensina ainda que Deus está escondido nos mais pobres e nos estrangeiros. Portanto, eis aí para todos nós um convite explícito. Somos convidados não a procurar novas auto-satisfações, mas uma nova cultura onde reine a justiça e o perdão.

As leituras que escutamos neste domingo nos convidam a assumir concretamente a nossa responsabilidade seja pessoal ou social/comunitária, para compartilhar os verdadeiros valores em vista de um futuro melhor. Realmente, precisamos de profetas, homens e mulheres "tocados por Deus" para ajudar esta civilização a sair da “fossa” do egoísmo em que se encontra. Pois o Senhor quer dar a todos o seu Espírito! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA).

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