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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 25 de julho de 2015

A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES E DOS PEIXES

(Liturgia do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)

            Há alguns milagres que Jesus realiza para saciar. Há alguns dos quais Jesus “foge” para longe como quem evita o perigo. O motivo é que, ao invés da saciar, provocam ainda mais fome. Uma fome que nunca pode ser saciada.
            A cena evangélica deste décimo sétimo domingo do Tempo Comum (Jo 6,1-15) nos apresenta um dos primeiros milagres realizados diante dos olhos de uma grande multidão. Contudo, no final, aponta para um outro tipo de milagre do qual Jesus quer ficar longe a todo custo.
            O primeiro é um milagre que sacia. Trata-se da multiplicação dos pães e dos peixes. Um milagre que acontece a partir daquilo que se tem, da realidade concreta daquelas pessoas, e só pode acontecer quando se aceita partilhar.  O que Jesus faz, em primeiro lugar, na verdade, é ajudar a crer naquilo que se tem, naquilo que se é.
            Com certeza Filipe, que é posto à prova por Jesus, sabe que no grupo há aquela pequena quantidade de alimento. O pouco que se tem não é nada? Será que, mesmo sendo pouco, não significa nada, não serve para nada? O que temos nunca será o bastante?
            O primeiro movimento do gesto de Jesus começa a operar um verdadeiro milagre sobre toda a falta de auto estima, inferioridade e desvalorização.          Portanto, o grande milagre, mesmo antes da fartura, ajuda a reencontrar a confiança!
            O segundo movimento do gesto de Jesus ajuda a ir em direção à partilha. Aquilo que se tem, ainda que pouco ou, aos olhos de muitos, sem importância, deve ser compartilhado. É isso que sacia! Sacia quem age assim, quem encontra coragem para partilhar os próprios bens, os dons, e sacia também quem se alimenta do que foi partilhado. Ou seja, os famintos e sem coragem.
            Jesus não distorce a natureza, tampouco as leis da vida, como às vezes temos a tentação de desejar e pedir, com expressões como: “por que Deus não acaba com a fome do mundo? Por que Deus não faz um gesto e elimina as doenças, as guerras e a violência? Não! Deus não é um mágico.
            Na pessoa de Jesus, Deus age de modo contrário a todo o tipo de artificialismo, ajudando-nos a entrar dinâmica das leis da natureza e da vida.
            Saciar a fome a partir do nada, isso sim teria sido um milagre impressionante, fora de qualquer lei da natureza.Teria sido um gesto mágico, como o próprio diabo já havia um dia proposto que Ele fizesse, no início do Seu ministério: “Faça com que estas pedras se transformem em pão, e todos acreditarão em ti”.
            Mas Jesus está longe disso e vê esse tipo de atitude como uma tentação da qual deve se distanciar. Mais discreto e mais eficaz, mais de acordo com a lógica de Deus é o gesto de fazer uma pessoa tomar consciência daquilo que tem e do que é, como também dos próprios dons, dos próprios recursos.
            A dinâmica de Jesus está fundamentada na lógica de Deus e é por isso que os seus movimentos são gestos que podem ajudar a pessoa a agir confiando que o tem é importante, e a partir daí, usando aquilo que tem, isto é, os seus recursos, os bens, a sua história e a sua realidade toda,encontrar-se no amor, nas relações com os outros, na partilha com os pobres.
            Um outro milagre, ao qual se alude, e que Jesus recusa absolutamente, é aquele no qual as pessoas parecem tropeçar, quando querem fazer dele um rei. Ele se distancia dessa situação, porque percebe que é justamente o oposto do que Ele acaba de fazer.
            Se Jesus tivesse se prestado a essa dinâmica, teria distanciado as pessoas de si mesmo e da responsabilidade de encontrar no amor pelos outros a própria razão da vida. O pão não seria multiplicado, nem os recursos de cada um, muito menos a vontade de partilhar, mas apenas o poder de alguém, isto sim, teria sido multiplicado sem medida.
            A multidão o procura para coroá-lo rei. Está em busca de um homem forte para seguir, entusiasmando-se por um líder. Na realidade, a multidão quer alguém que a desresponsabilize. Prefere tornar-se uma massa indistinta em busca de um herói, atrás de um profeta e de um líder que faz sonhar, mas que, na realidade, aliena e tira de cada um a responsabilidade que tem de agir com os dons que Deus lhe deu.  
            Diante dessa perspectiva Jesus foge e se esconde diante desse capricho! Não quer que as pessoas o encontrem. Não para corresponder aos seus desejos de poder. Disse um não, em alto e bom tom, a essa dinâmica.      Eis o que Jesus considera como verdadeiro milagre: cada um caminha com suas próprias pernas, pensa com sua própria cabeça, torna, por assim dizer, o líder e o profeta de si mesmo, o seu próprio chefe, e essa responsabilidade floresce em vida sempre nova, justamente porque e quando cada pessoa sabe aceitar aquilo que tem e aquilo que é.  Quando sabe fazer de si um dom para os outros.

            Assim se constrói o sonho de Deus manifestado na segunda leitura (Ef 4,1-6): “um só Corpo e um só espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que age por meio de todos e permanece em todos”. Ou seja, só Deus é o nosso Rei! Nós somos, todos unidos num só Corpo, irmãos e irmãs. O Reino de Deus é assim! Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA - Missionário Inaciano. www.facebook.com/www.inacianos.org.br

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