(Sexto Domingo da Páscoa)
Ainda
estamos percorrendo o caminho do Tempo Pascal. Caminho que nos convida a reconhecer
Jesus vivo e vencedor da morte, capaz de dar vida nova a cada um de nós.
O
Ressuscitado, que aparece aos discípulos, os faz "recordar" tudo
quanto havia dito e feito antes de dar a Sua vida. À luz da Sua morte e
ressurreição, Suas palavras assumem um sentido mais profundo, isto é, dizem
"mais", chegam até o nosso coração. Tornam-se cada vez mais fortes,
com o passar dos anos, quando nos acompanham nas experiências alegres ou
tristes da vida.
Ainda
hoje escutamos algumas palavras ditas por Jesus na hora do
"testamento" da despedida, momento quando tudo se faz essencial e
verdadeiro.
Nos
domingos passados Jesus havia falado de Si e do Seu relacionamento com os
discípulos através de duas imagens bonitas. O Bom Pastor e Suas ovelhas e a
Videira Verdadeira e os ramos.
No
Evangelho deste Sexto Domingo da Páscoa (Jo
15,9-17), para Jesus o sentido da Sua vida é a relação com os Seus. As
imagens não nos deixam pensar em outra coisa que não seja essa relação, principalmente
porque o pastor não tem sentido sem as ovelhas, assim como a videira não tem
sentido sem os ramos. Assim, nos convida
a pensar também na nossa vida nesse sentido, dessa maneira, como relação vital
com Ele.
Hoje,
continuando o discurso sobre a videira, Jesus deixa de lado as imagens e vai
direto ao coração da revelação de Deus, que não consiste em comunicação de
ideias e, muito menos, de normas, mas consiste numa relação de amor. Trata-se
da mesma relação que Jesus vive com o Pai, e da mesma relação que Ele quis
viver com os Seus discípulos.
Antes
de deixar os Seus, os exorta a permanecer nesta relação, o que, na prática,
significa corresponder com a vida concreta, ao dom do amor que receberam. Esta
relação de amor tem uma condição: "guardar
os meus mandamentos".
Como
Jesus, obedecendo ao Pai, fez a experiência do Seu amor, assim também Ele
convida os Seus a obedecer ao Seu mandamento, isto é, amar os irmãos como Jesus
amou os Seus amigos.
A
condição para continuar a receber o dom do amor de Deus é fazer "fluir"
o mesmo dom entre nós. Isso significa não fechar-nos aos outros, relacionar-nos
com os outros da maneira que vimos Jesus se relacionar com os Seus e, sobretudo,
superar outras propostas humanas de relacionamento, muito diferentes das dele,
até ao ponto de dar a vida.
É
este o fruto que Jesus espera de nós, Seus amigos. A finalidade para a qual
Jesus nos chama a entrar nesta relação que parte do Pai, é a alegria: "para que a minha alegria esteja em vós e a
vossa alegria seja plena".
Este
projeto de amor para com a humanidade, é também contemplado por São João na
segunda leitura (1Jo 4,7-10) de hoje,
onde encontramos a famosa e breve expressão que diz tudo o que se poderia dizer
de mais profundo e elevado sobre Deus: "Deus é amor!"
João desenvolve esta definição com
alguns aspectos deste mistério, sobretudo, ao ressaltar que foi Deus quem tomou a iniciativa, isto é, foi o
primeiro a amar, e o fez quando a humanidade havia se afastado dele por causa
do pecado. Amar, então, significou perdoar a recusa e o pecado da humanidade.
Portanto,
o caminho para conhecer a Deus é amar. Aliás, sabemos que somos Seus filhos, se
amamos. A prática desse amor como exigência, não tem limites ou empecilhos; não
consiste em teorias ou ilusões românticas. Não impõe a necessidade de se fazer
projetos complexos, planos detalhados ou ir a lugares distantes ou procurar
longe de nós a quem amar. Bastará amar o mais próximo.
O
amor como "coração" da revelação cristã, está intimamente ligado à
obediência: "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como
eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor".
Ao
mesmo tempo, sentimos o quanto é difícil seguir Jesus nesse caminho. Ocorre o
mesmo em todas as vocações e formas de vida cristã. Cada uma nos oferece a cada
dia um desafio, alguma renúncia, passos corajosos a dar e escolhas difíceis a
fazer.
Paremos
por um instante e nos perguntemos: na minha vocação, como no dia a dia estou
amando o meu próximo, assim como Jesus me amou? Há algo mais que eu possa
fazer, qualquer gesto concreto, qualquer escolha importante que me permita caminhar
na direção que Jesus nos ensina?
Depois
de fazer este questionamento pessoalmente, é preciso também colocar estas
questões enquanto comunidade, como Igreja, para que testemunhemos Jesus,
enquanto comunidade.
Os
Atos dos Apóstolos, na primeira leitura (At
10,25-26.34-35.44-48), conta-nos uma experiência importante vivenciada
nos primeiros anos da Igreja. Pedro entra na casa de Cornélio _ um romano,
portanto pertencente à religião judaica _ que vivia na Cesaréia. Deus havia
enviado os Seus mensageiros tanto a Conélio _ para mandar chamar Pedro _ como a
Pedro _ para aceitar o convite de Cornélio. Depois de haver
anunciado Jesus, Pedro compreende que o Espírito Santo vem também sobre as
pessoas ali reunidas, sem distinção.
Portanto,
Pedro reconhece que Deus vai além dele, abre novas estradas em direções em que
Pedro sozinho jamais havia pensado trilhar. Se, como Igreja, estamos à escuta
do Espírito, Ele nos abre estradas e caminhos antes inimagináveis, para que o amor
de Deus possa alcançar a todos aqueles que o esperam, através dos nossos gestos
de amor, quando o amor nos precede e nos guia. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA - MISSIONÁRIO INACIANO -
alfredodesouza1966@gmail.com.
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