Neste quinto domingo da quaresma
a Palavra de Deus apresenta Jesus como o enviado de Deus que, de fato, na Sua
liberdade, decide e indica o caminho da Sua missão em direção à cruz, enquanto mostra
aos discípulos o caminho que devem seguir na vida.
Ele nos revela o roteiro da Sua
missão que, no episódio do Evangelho deste domingo (Jo 12,20-33), vem logo após a entrada triunfante em Jerusalém, no
contexto da festa da Páscoa, quando assumirá a Sua Paixão e morte na cruz.
“Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”, são as
palavras que Jesus pronuncia diante do pedido de alguns gregos para encontrá-Lo
e vê-Lo. Toda a missão de Jesus no Evangelho de João está direcionada para “a
hora”, isto é, o momento em que Ele manifestará a glória de Deus Pai.
Essa “hora” tem lugar justamente na
Cruz, que assume um tom de realeza e de vitória de Deus sobre o “príncipe das
trevas”. A “hora” da cruz de Jesus é a hora na qual o grão de trigo, cai na
terra e morre, produzindo muito fruto.
Muitas vezes, uma aplicação moral
precipitada, fez desta parábola do Grão de trigo uma metáfora para a nossa vida
mostrando o lado severo, ascético e sacrificial da vida cristã. É importante
lembrar que Jesus não está falando de nós, os discípulos, mas da Sua própria
missão e Cruz e, portanto, de Si mesmo! Assim, o grão de trigo é Ele que,
através da morte, oferece a todos os homens os frutos da Sua Paixão!
O Evangelho de hoje, mais uma vez,
reafirma o ponto de partida da nossa fé, ou seja, o ponto de partida para a
festa da Páscoa que já está chegando. Este ponto é sempre Jesus que dá o
primeiro passo em direção à nossa vida.
Sem a cruz e a morte de Cristo a
nossa vida não poderá produzir nenhum fruto. A fecundidade ou esterilidade não
depende da nossa capacidade de fazer sacrifícios ou de suportar o sofrimento,
mas depende, acima de tudo, da capacidade de acolher os frutos da cruz de
Cristo!
Jesus morre na cruz para
restituir-nos o fruto da libertação de tudo o que nos confunde, de tudo o que é
mentiroso, medíocre, e de tudo o que nos torna escravos. Ele morreu na cruz
para que pudéssemos gozar do fruto da misericórdia infinita de Deus, que nos
resgata do pecado e nos reergue de qualquer situação, pagando Ele mesmo o preço
pelas nossas culpas.
A Sua morte produz para nós o
fruto da Igreja, chamada a levar a mensagem da confiança e da esperança a toda
a humanidade descrente e sem projeto de futuro.
Nestes poucos dias que precedem à
Páscoa do Senhor, paremos um pouco diante do crucificado para pôr sobre os Seus
ombros tudo aquilo que, somente com a Sua graça, pode “morrer”em nossa vida,
para depois produzir frutos. Refiro-me a todas as escolhas e decisões que temos
que fazer em nome do amor, e que exigem de nós sofrimento e sacrifício, de modo
que a Sua morte nos dê os frutos da liberdade e nos resgate de uma vida sem
sentido.
Jesus nos deixa uma direção e uma
decisão a tomar; Depois de ter revelado “a hora” da Sua missão e da Sua glória,
fala aos seus discípulos: “Quem se apega
à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo,
conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer me servir, siga-me e, onde eu
estou estará também o meu servo”.
A palavra de Jesus no Evangelho interpela
a nossa liberdade, mostrando-nos a direção a seguir para ser, realmente,
discípulos Seus.Trata-se de um itinerário que passa por um paradoxo terrível e
maravilhoso: morrer para viver e perder para ter!
A glória prometida à nós por
Jesus não a glória vã do mundo, mas a glória autêntica que abre a nossa vida
para a verdade do que nós somos chamados a ser.
O termo “vida” (perdê-la ou
ganhá-la) aqui tem tudo a ver com o significado
da expressão “amor próprio”. A nossa vida será autêntica quando escolhermos
passar da lógica do possuir e do vencer, isto é, a lógica centrada em nós
mesmos, calcada nos nossos próprios projetos fechados em nós mesmos, sobre as
nossas satisfações e direitos pessoais, _ à lógica do “ser e do perder”.
Há uma palavra que João usa de
modo diferente dos outros Evangelhos que serve como um pressuposto para seguir
a Jesus: servir! Aliás, este é o apelo da Campanha da Fraternidade deste ano:
"Eu vim para servir"!
Antes de seguir Jesus devemos
decidir transformar a nossa vida com a Sua graça, no serviço e em missão. Significa
decidir começar a ver a nossa vida em função dos outros, das pessoas que o
Senhor nos confiou, seja o esposo, a esposa, o vizinho, os filhos, os doentes,
o rebanho, o trabalho pastoral, a obra social etc. Enfim, as pessoas com as
quais, de um modo ou de outro, somos chamados a nos relacionar.
A minha vida, os meus amores se
tornarão autênticos e frutuosos quando deixarem de existir exclusivamente para
satisfazer os meus desejos, o meu bem ou o prazer exclusivamente meu. Os meus
amores serão autênticos na medida em que partirem da busca do bem do outro!
Então, a nossa vida será,
realmente, autêntica, quando o ponto de partida não for mais os nossos projetos
egoístas, mas a busca da vontade de Deus, oferecendo os próprios frutos
surpreendentes e abundantes que Jesus realiza com a Sua morte na cruz! Que o
Senhor Jesus nos dê a graça de acolher os frutos da sua cruz e de decidir
tomar, com coragem, a direção que abre o caminho da nossa vida. Uma vida, de
fato, autêntica! (Frei Alfredo
Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – promocaovocacionnal@inacianos.org.br
(www.inacianos.org.br).