(Liturgia do Primeiro Domingo do Advento)
A Igreja é a
casa de Deus, onde vive uma grande família. É uma casa grande, porque somos
muitos, de todos os povos, tribos e línguas (Ap 7.9). Como toda grande casa,
deve ser bem organizada para que tudo corra bem e de maneira eficiente. Nesta casa o trabalho deve ser conjunto, e
com um único objetivo: manter a casa arrumada e bem preparada para a chegada
daquele que é o Senhor da casa. Este é o objetivo final, ao qual estão sujeitas
todas as pequenas metas intermediárias: preparar-se para a Sua vinda, sem saber
nada sobre o tempo e o momento em que virá. (At 1,7).
Certo é que
todos nós sentimos um vazio que a vida – inclusive a vida mais confortável -
não pode satisfazer. Todos trazemos
dentro de nós, a falta de algo melhor, a falta, por que não dizer, de alguém ?
Não
raro, o tédio atinge a todos, haja vista que nossa vida, de modo geral, é
repetitiva. Principalmente são repetitivas as palavras que ouvimos e dizemos
todos os dias.
Acontece que, diante dessa monotonia
quotidiana, nos entediamos, sentindo-nos estranhos...distantes. Ao mesmo tempo,
estamos sempre à espera de uma novidade qualquer, ou de um evento
extraordinário, que nos tire do tédio, trazendo-nos alegria e esperança.
Diante
da rotina entediante, estamos em busca
de algo novo e bom. Como disse, por que não dizer, de "alguém"?
Essa
expectativa se dá em relação ao lugar em que nos encontramos, às obras nas
quais estamos envolvidos e, geralmente, também na relação com as pessoas à
nossa volta.
Assim,
temos a sensação de que nossa vida parece, às vezes, um vagar inútil, uma perda
de tempo, um contínuo dormir e acordar, e nada mais.
Por
um lado, nos lamentamos facilmente do tempo que foge de nós sem que percebamos.
Por outro, parece que somos incapazes de dar sentido e plenitude ao tempo que
temos ao nosso dispor. Mas mesmo nesse sentimento de tédio, nasce a invocação
que caracteriza o Advento. Trata-se
da invocação proclamada na primeira leitura do profeta Isaías, neste primeiro
domingo do Advento (Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7): "Ah!
se rompesses os céus e descesses"!
Como seria
bom se acontecesse alguma coisa nova, de fato, em nossa vida! Se, finalmente,
Alguém rompesse a monotonia dos dias que passam, se o "sono" que o
tédio provoca em nós fosse definitivamente banido de nossa vida!
Como seria bom
se o tempo recuperasse o sentido e a plenitude, se reencontrássemos a beleza, a
criatividade e serenidade. Que bonito seria se redescobríssemos os outros como
irmãos com quem temos tanto a aprender. Se o amor entre os casais fosse todos
os dias revigorado e despertado com pequenos e simples gestos.
Como
seria maravilhoso se não fosse necessário acontecer perdas e tragédias para que
familiares se reencontrassem! Como seria bom se "Tu rompesses os céus e descesses"! Este é o clamor do Advento. Clamor muito mais
forte do que a rotina diária e que na pessoa de Jesus, o Esperado, se torna
promessa.
No
Evangelho de Marcos (Mc 13, 33-37) lemos
hoje "Ficai atentos, vigiai!",
porque não sabeis quando será o momento exato. Significa dizer, é certo que os
céus se abrirão, e com certeza o tédio será vencido, porque Deus é fiel à Sua promessa!
Contudo,
"ficai atentos"! Fiquemos
atentos para que isso não aconteça ao sabor do improviso e nos "pegue' de
surpresa, encontrando-nos "dormindo", incapazes de acolher a novidade
que tanto invocamos. Fiquemos atentos!
Vigiemos, porque não sabemos quando será o momento!
Fiquemos,
portanto, atentos, porque o momento, o tempo esperado no qual Deus rompe os Céus e vem ao nosso encontro
pode ser amanhã, já. Isto é, amanhã podemos descobrir a bênção de Deus sobre a
nossa vida, arrancando-nos da monotonia entediante, da mesmice e do desânimo.
É
claro que nossos dias podem parecer angustiantes ainda, assim como a tentação
do tédio pode tomar conta de nós. Contudo, tais pensamentos não deverão nos
surpreender ou nos derrotar, pois todas as situações terrenas são envolvidas
nessa angústia.
Mas,
se apesar dessas situações, soubermos enxergar a presença de Deus que esperamos
e que rompe os nossos "céus" fechados", então nada mais poderá
nos oprimir.
. Eis a graça e a beleza deste tempo de
Advento: a espera por uma criança que vem para levar-nos pela mão, para
preparar-nos, de ano em ano, naquela expectativa solene que verá o retorno do
Senhor da Casa na sua gloriosa majestade. Frei
Alfredo Francisco de Souza, SIA - (Missionário Inaciano).
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