Páginas


Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


santaluzia@hotmail.com.br

Fone (14) 3239-3045


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O 3º DOMINGO DO ADVENTO: ALEGRAI-VOS!

ADVENTO: ALEGRAI-VOS!
(3º Domingo)
                                    A Palavra que Deus nos envia neste terceiro domingo do Advento, perfuma e pinta de róseo (cor litúrgica pouco usada, que simboliza a alegria) a nossa espera, porque está fundamentada na alegria. A Palavra enviada por Deus – como toda Palavra que sai da Sua boca – (Is 55,10-11) produz hoje este efeito especial na nossa vida. Isso mesmo, um efeito especial! Não se trata de um efeito “glamuroso”, no sentido comum da nossa linguagem. Muito mais no sentido de que torna especial qualquer situação ou pessoa que a acolha (a Palavra) na sua vida.
                                    É uma Palavra “para efeito de”, portanto. Um efeito imediato, que descreve um estado de ânimo e que, todavia, é também um “mandato”, um compromisso para assumir neste tempo favorável. Uma missão a cumprir, como a de João Batista, porque cada um de nós é alguém enviado por Deus para anunciar e preparar a vinda de Cristo. Por outro lado, cada um de nós é também o primeiro a se beneficiar deste anúncio e desta preparação. A nossa alegria é constitutiva da nossa identidade cristã e da nossa missão. Se o Evangelho não produz alegria em quem o vive, e se quem o anuncia não contagia a vida toda com essa alegria, então, não é Evangelho de Deus. “Isto vos disse para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11).

O TESTEMUNHO DA ALEGRIA
                                    Alegria é a palavra chave desta liturgia, mas ela mesma é o “passaporte”, isto é, uma chave capaz de abrir a porta de cada coração humano para iluminar e aquecer-lhe a vida. É também a chave que abre para nós a possibilidade de suportar o peso do que nos oprime e nos entristece. Uma vida sem alegria é insuportável. É tão pesada que nos prostra de tal forma, que nos faz voltar o rosto para o chão, e nossos semblantes devem estar voltados para o infinito e o eterno de Deus.  Uma fé sem alegria é como uma canção sem melodia, é como um violão sem cordas ou uma comida sem sabor. 
                                    “Alegrai-vos sempre... em todas as coisas rendei graças. Esta, de fato, é a vontade de Deus a vosso respeito”, expressa a segunda leitura deste domingo da alegria. “Enviou-me para anunciar a Boa Notícia aos pobres, para curar as feridas da alma, a liberdade aos prisioneiros, (também da tristeza, do ódio, do medo) “... Eu exulto de alegria no meu Deus, avisa a primeira leitura, e o salmo, “a minha alma se alegra no meu Deus”.
                                    A alegria não é um detalhe marginal da fé, mas uma característica dela. Dar testemunho da luz significa, portanto, dar testemunho da alegria. Alegria de ser  amados por Deus e por Ele criados para amar. Aqui cabe uma pergunta para examinar a nossa consciência: somos pessoas, cristãos, consagrados ou sacerdotes e leigos alegres? Comunicamos alegria com a nossa presença e a nossa vida? Somos apenas pessoas que creem ou também pessoas em quem se pode acreditar? Num mundo que parece ter perdido o caminho da alegria verdadeira, porque preferiu o atalho do prazer e do poder, das satisfações, fazendo a escolha mais fácil do que ética, ou tomando a tangente para vagar em círculos sem, contudo, ir ao centro das questões para aprofundá-las, somos chamados por Deus, a fazer um caminho “reto” para que, aqueles cujas vidas se encontram com a nossa, possam encontrar Cristo através de nós.
ENTÃO, QUEM SOU EU?
                                    Ultimamente fala-se de crise com frequência: crise da economia, da política, de valores, crise da família, da educação e crise de identidade. Não é tão ruim que haja crise. Já ouvimos dizer que “com crise se cresce”! Eu quero dizer, se há crises é porque há possibilidades e há vida! Se existem crises é porque algo não vai bem e, por conseguinte, nos incomoda, e se nos incomoda, necessariamente deve nos desinstalar.  Aqui temos a possibilidade para uma reavaliação das nossas atitudes e, até mesmo, para fazer mudanças! É aí que se toma consciência de que a soberba se cura com a humildade. Quem és tu? João confessou e não negou: "Eu não sou o Messias". João nos ensina a reconhecer hoje: eu não sou todo-poderoso, eu não sou o dono da verdade, nem vida ou do Planeta, a ponto de fazer com ele o que bem entender. Eu não sou Deus, que decide o que é o bem e o que é o mal.
                                    Com o Batista somos chamados a descobrir que mentira se vence com a verdade, as ilusões podem ser vencidas com as desilusões. Aprendemos que a unidade, e não a guerra, é que vence a divisão, remédio sempre eficaz, segundo Santo Inácio Mártir. O egoísmo se cura com a solidariedade. Eu existo porque Deus me criou e me fez ser. Sem Deus, eu não sou! Não existo! Sem a alegria que vem de Deus, eu não vivo na alegria...no mínimo, eu sobrevivo.
                                    Sem Deus eu não sou mais do que apenas um indivíduo do reino animal. Sem Deus, o instinto de sobrevivência, isto é, de satisfazer as minhas necessidades individuais, é o que me governa e dirige as minhas escolhas. Para viver na alegria, é necessário recuperar a razão, o bom senso; o senso de coletividade (comunidade), o sentido do bem comum, da justiça, da honestidade e dos verdadeiros valores.
                                    É possível constatar que as inseguranças existenciais e as crises estruturais são consequências da falta de relacionamento com Deus. Esta falta gera alienações e insatisfações na própria pessoa, e indiferença ou desrespeito, muitas vezes até mesmo desprezo em relação aos outros. Sem relação com Deus o meu “eu” se torna um “ridículo absoluto” e a minha vida adoece de “relativismo agudo”, a epidemia do homem moderno.

“Quem és, então? És tu Elias, o profeta?” Não! Com esta afirmação João nos ensina a sermos firmes em nossas convicções: não sejamos aquilo que os outros esperam nós! Não vamos usar as máscaras que nos são impostas para sermos aceitos pelos outros e para que nos aprovem. Nós somos amados! Eu sou amado. Eu tenho um nome que Deus me deu, e Ele me chama por este nome. Assim, queremos ser e fazer aquilo que Ele escreveu a nosso respeito quando nos projetou e modelou com as suas próprias mãos. A nossa identidade profunda se encontra na Sagrada Escritura: “Eu sou: voz daquele que grita do deserto”... Como disse o profeta Isaías. Sem o contato íntimo, a escuta da Palavra que Deus nos envia, não sabemos mais quem somos e o que devemos fazer neste mundo. Ao invés de sermos plenos de alegria, estamos e somos vazios.

Assim como João seja um testemunho de um Deus que é luz, um Deus feliz, que fez resplandecer a vida (2Tm 1,10), deu esplendor e beleza à existência humana, semeou fragmentos de luz nas veias escuras da história. Nós, cristãos católicos, não devemos e nem queiramos testemunhar obrigações e deveres para com Ele, mas o fascínio da Sua luz, o efeito especial da alegria verdadeira causado pela Sua Palavra em nós. Alegrai-vos! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos).

Nenhum comentário:

Postar um comentário