CONGREGAÇÃO MISSIONÁRIA DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA - MISSIONÁRIOS INACIANOS
Páginas
quarta-feira, 27 de julho de 2016
sexta-feira, 22 de julho de 2016
SENHOR, ENSINA-NOS A REZAR!
(Liturgia do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)
A liturgia deste
Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum nos apresenta, novamente, Jesus rezando.
Depois de termos
seguido o caminho de amor do Bom Samaritano e de sermos firmados na escuta da
Palavra para escolher “a melhor parte”, na casa de Marta e Maria, para nos
lembrar de que não há ação, ainda que nobre na caridade, que não parta da
escuta, hoje o Senhor nos ajuda a compreender o fundamento do que significa
escutá-Lo. Trata-se da oração na dimensão da amizade.
Todos nós
experimentamos o que significa rezar. Seja quem vive em contínuo relacionamento
com Deus, ou até mesmo quem consegue elevar-se ainda que através de uma única e
simples invocação. Ou seja, quem se lembra de rezar apenas num momento de
provação, ou quem agradece a Deus todos os dias.
A oração, seja
em qualquer forma que se exprima, é uma expressão essencial da nossa vida. A
vida cristã não sobrevive sem oração.
Há quem não
queira ou não consiga encontrar momentos de encontro com Deus, mas nem por isso
será inválida a profunda dimensão da oração.
O ato de rezar é
a nossa própria pobreza de criaturas com a sua necessidade de verdade, de amor,
de beleza e de paz, que nunca é preenchida.
Santo Agostinho,
no seu comentário ao Salmo 37, encontra esta belíssima expressão: “O teu desejo é a tua oração”.
Cada ser humano
é uma oração viva e forte, às vezes, como um grito, às vezes apaixonada como um
pedido contínuo de ajuda. É por isso que o pedido dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar”, não diz
respeito tanto ao valor da oração, que nem mesmo é posto em discussão, mas à
maneira como rezar.
Como os
discípulos de Jesus deveriam rezar, de modo a se distinguirem dos discípulos
dos outros mestres, dos discípulos de João, principalmente, que talvez preferissem
as orações muito elaboradas e articuladas? Na verdade o pedido dos discípulos escondia
outro desejo.
Como deveriam
rezar, então, de modo que a sua experiência de oração fosse parecida com a
experiência de Jesus que, todas as vezes que entrava em oração, inclusive de
noite, revelava, certamente, um rosto luminoso, como se deixasse transparecer
uma alegria indescritível?
Jesus responde
ao pedido dos discípulos, talvez os decepcionando um pouco, porque a oração que
sugere a eles é simples, aparentemente, elementar.
Na realidade, a
oração ensinada por Jesus, que se tornou um dos tesouros mais preciosos da
nossa fé, encerra toda a beleza do Seu Evangelho.
O que tem de
extraordinário neste breve texto que repetimos tantas vezes, infelizmente,
muitas vezes sem a comoção e o encantamento que deveria tomar-nos, cada vez
que, mesmo sendo criaturas, “ousamos dizer” ao Criador, Pai Nosso?
Esta é a
primeira extraordinária revolução do “Pai Nosso”. Isto é, a confiança filial, a
possibilidade de falar com Deus, como filhos. Fitar o verdadeiro rosto de Deus,
o Pai, é a maior graça, porque se Deus fosse um Deus terrível para nós, mais
patrão do que pai, viveríamos sob o medo incessante e sob uma tristeza
inigualável.
Vimos que Abraão
na primeira leitura (Gn 18,20-32) já se liberta desse medo de
Deus, “negociando” com Ele, com a confiança e a coragem de um amigo, em favor
de duas cidades ameaçadas, por causa dos seus pecados.
Com a voz da sua
oração, Abraão dá voz ao desejo de Deus, que não é o desejo de destruir, mas de
salvar, não de punir, mas de perdoar.
Justamente
porque, não apenas em Sodoma, mas em todas as cidades em que vivemos, em cada
época da história, jamais se encontrará um homem plenamente justo, foi
necessária a Encarnação, para garantir que um Justo, Deus mesmo feito homem,
para que houvesse um justo.
Sempre teremos
um justo, porque é Ele, o Inocente que trouxe a salvação ao mundo inteiro,
morrendo na cruz, dando a vida a todos nós, como escreve Paulo aos Colossenses (2,12-14), na segunda leitura,” perdoando-nos todas as culpas e anulando o
documento escrito contra nós”.
Portanto, a
oração de cada pessoa que reza com fé e como filho/filha encontra sua resposta.
É por isso que os nossos pedidos serão sempre plenamente concedidos, porque
Jesus nos revelou o rosto do Pai. Eis, então, o cumprimento seguro de cada
oração.
Nesta história
de amizade, como nos conta a parábola de hoje, Deus dá a quem pede, ao que
procura, faz encontrar, abre a quem bate, porque é um bom Pai.
Mas, cuidado! O
Evangelho não diz peça isto ou aquilo que vos será dado isso ou aquilo.
Simplesmente diz, “pedi e vos será dado”.
Certamente, em
muitas ocasiões de nossa vida, pedimos e não recebemos, mas Deus nos
surpreendeu igualmente, dando-nos a força necessária para enfrentar uma
provação, a fé maior para crescer como cristãos, a esperança que vai além da
dor, da perda de uma pessoa querida.
Jesus não nos
promete a cura quando estamos doentes ou o sucesso num concurso, ou mesmo uma
boa promoção no trabalho. É preciso evitar o perigo da superstição que se
percebe quando começamos a pensar que, acendendo uma vela ou multiplicando uma
determinada devoção, poderíamos “despertar” um Deus, como um gênio da lâmpada
que, caso contrário, seria ausente ou indiferente.
Jesus promete
muito mais. Promete o Espírito Santo que “O
Pai dará aos que o pedirem”. Eis a única coisa que Jesus garante que o Pai dará.
Espírito Santo.
Para que serve este Espírito? O
Espírito é a força do amor de Deus que serve para realizar o desígnio de amor
do Pai sobre cada um de nós.
Depois, a partir
do relacionamento fiel e afetuoso com o Pai, conseguimos também descobrir a
alegria da fraternidade. Reconhecer-nos filhos, significa saber que temos
irmãos.
Como seria
bonito, pensando na parábola contada por Jesus sobre a oração se, como irmãos,
ao final de cada dia pedíssemos também ao Senhor o pão da Sua presença e da Sua
ternura para todas as pessoas que encontramos, para as pessoas que sofrem, que
se desesperam, que procuram, que amam, que pedem, sem ao menos saberem o que
pedir.
Rezando com esta
intenção nos é concedido também insistir, e até mesmo tornar-nos “inoportunos”,
como um amigo que bate no coração da noite. Porque Deus vela.
Foi Ele quem nos
disse: “Batei e vos será aberto”.
Quem nos pede é o próprio Deus que cumpre essa ordem antes mesmo de nós, quando
diz “Eis que estou à porta e bato... se
alguém abrir, entrarei e juntos cearemos” (Ap 3,20). Cada vez que
batemos na Sua porta, podemos ter certeza de que estamos nos abrindo a Ele.
Este é o sinal de que a nossa oração já foi atendida. Então, o simples fato de
rezar já é um fruto do dom da Sua presença.
Hoje, com todos
os representantes da juventude em todo o mundo, em torno do Papa Francisco em
Cracóvia, na JMJ, sustentados por essa energia de esperança que hoje se
concentra também em todo o Brasil e, inclusive, em nossa comunidade paroquial,
reencontremos a coragem, a beleza, a dignidade, a alegria e a simplicidade da
amizade com Deus que, como Pai, acolhe a nossa oração. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA. Missionário Inaciano.
SENH
Assinar:
Postagens (Atom)