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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 22 de julho de 2016

SENHOR, ENSINA-NOS A REZAR!

(Liturgia do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)

A liturgia deste Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum nos apresenta, novamente, Jesus rezando.
Depois de termos seguido o caminho de amor do Bom Samaritano e de sermos firmados na escuta da Palavra para escolher “a melhor parte”, na casa de Marta e Maria, para nos lembrar de que não há ação, ainda que nobre na caridade, que não parta da escuta, hoje o Senhor nos ajuda a compreender o fundamento do que significa escutá-Lo. Trata-se da oração na dimensão da amizade.
Todos nós experimentamos o que significa rezar. Seja quem vive em contínuo relacionamento com Deus, ou até mesmo quem consegue elevar-se ainda que através de uma única e simples invocação. Ou seja, quem se lembra de rezar apenas num momento de provação, ou quem agradece a Deus todos os dias.
A oração, seja em qualquer forma que se exprima, é uma expressão essencial da nossa vida. A vida cristã não sobrevive sem oração.
Há quem não queira ou não consiga encontrar momentos de encontro com Deus, mas nem por isso será inválida a profunda dimensão da oração.
O ato de rezar é a nossa própria pobreza de criaturas com a sua necessidade de verdade, de amor, de beleza e de paz, que nunca é preenchida.
Santo Agostinho, no seu comentário ao Salmo 37, encontra esta belíssima expressão: “O teu desejo é a tua oração”.
Cada ser humano é uma oração viva e forte, às vezes, como um grito, às vezes apaixonada como um pedido contínuo de ajuda. É por isso que o pedido dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar”, não diz respeito tanto ao valor da oração, que nem mesmo é posto em discussão, mas à maneira como rezar.
Como os discípulos de Jesus deveriam rezar, de modo a se distinguirem dos discípulos dos outros mestres, dos discípulos de João, principalmente, que talvez preferissem as orações muito elaboradas e articuladas? Na verdade o pedido dos discípulos escondia outro desejo.
Como deveriam rezar, então, de modo que a sua experiência de oração fosse parecida com a experiência de Jesus que, todas as vezes que entrava em oração, inclusive de noite, revelava, certamente, um rosto luminoso, como se deixasse transparecer uma alegria indescritível?
Jesus responde ao pedido dos discípulos, talvez os decepcionando um pouco, porque a oração que sugere a eles é simples, aparentemente, elementar.
Na realidade, a oração ensinada por Jesus, que se tornou um dos tesouros mais preciosos da nossa fé, encerra toda a beleza do Seu Evangelho.
O que tem de extraordinário neste breve texto que repetimos tantas vezes, infelizmente, muitas vezes sem a comoção e o encantamento que deveria tomar-nos, cada vez que, mesmo sendo criaturas, “ousamos dizer” ao Criador, Pai Nosso?
Esta é a primeira extraordinária revolução do “Pai Nosso”. Isto é, a confiança filial, a possibilidade de falar com Deus, como filhos. Fitar o verdadeiro rosto de Deus, o Pai, é a maior graça, porque se Deus fosse um Deus terrível para nós, mais patrão do que pai, viveríamos sob o medo incessante e sob uma tristeza inigualável.
Vimos que Abraão na primeira leitura (Gn 18,20-32) já se liberta desse medo de Deus, “negociando” com Ele, com a confiança e a coragem de um amigo, em favor de duas cidades ameaçadas, por causa dos seus pecados.
Com a voz da sua oração, Abraão dá voz ao desejo de Deus, que não é o desejo de destruir, mas de salvar, não de punir, mas de perdoar.
Justamente porque, não apenas em Sodoma, mas em todas as cidades em que vivemos, em cada época da história, jamais se encontrará um homem plenamente justo, foi necessária a Encarnação, para garantir que um Justo, Deus mesmo feito homem, para que houvesse um justo.
Sempre teremos um justo, porque é Ele, o Inocente que trouxe a salvação ao mundo inteiro, morrendo na cruz, dando a vida a todos nós, como escreve Paulo aos Colossenses (2,12-14), na segunda leitura,” perdoando-nos todas as culpas e anulando o documento escrito contra nós”.
Portanto, a oração de cada pessoa que reza com fé e como filho/filha encontra sua resposta. É por isso que os nossos pedidos serão sempre plenamente concedidos, porque Jesus nos revelou o rosto do Pai. Eis, então, o cumprimento seguro de cada oração.
Nesta história de amizade, como nos conta a parábola de hoje, Deus dá a quem pede, ao que procura, faz encontrar, abre a quem bate, porque é um bom Pai.
Mas, cuidado! O Evangelho não diz peça isto ou aquilo que vos será dado isso ou aquilo. Simplesmente diz, “pedi e vos será dado”.
Certamente, em muitas ocasiões de nossa vida, pedimos e não recebemos, mas Deus nos surpreendeu igualmente, dando-nos a força necessária para enfrentar uma provação, a fé maior para crescer como cristãos, a esperança que vai além da dor, da perda de uma pessoa querida.
Jesus não nos promete a cura quando estamos doentes ou o sucesso num concurso, ou mesmo uma boa promoção no trabalho. É preciso evitar o perigo da superstição que se percebe quando começamos a pensar que, acendendo uma vela ou multiplicando uma determinada devoção, poderíamos “despertar” um Deus, como um gênio da lâmpada que, caso contrário, seria ausente ou indiferente.
Jesus promete muito mais. Promete o Espírito Santo que “O Pai dará aos que o pedirem”. Eis a única coisa que Jesus garante que o Pai dará. Espírito Santo.
Para que serve este Espírito? O Espírito é a força do amor de Deus que serve para realizar o desígnio de amor do Pai sobre cada um de nós.
Depois, a partir do relacionamento fiel e afetuoso com o Pai, conseguimos também descobrir a alegria da fraternidade. Reconhecer-nos filhos, significa saber que temos irmãos.
Como seria bonito, pensando na parábola contada por Jesus sobre a oração se, como irmãos, ao final de cada dia pedíssemos também ao Senhor o pão da Sua presença e da Sua ternura para todas as pessoas que encontramos, para as pessoas que sofrem, que se desesperam, que procuram, que amam, que pedem, sem ao menos saberem o que pedir.
Rezando com esta intenção nos é concedido também insistir, e até mesmo tornar-nos “inoportunos”, como um amigo que bate no coração da noite. Porque Deus vela.
Foi Ele quem nos disse: “Batei e vos será aberto”. Quem nos pede é o próprio Deus que cumpre essa ordem antes mesmo de nós, quando diz “Eis que estou à porta e bato... se alguém abrir, entrarei e juntos cearemos” (Ap 3,20). Cada vez que batemos na Sua porta, podemos ter certeza de que estamos nos abrindo a Ele. Este é o sinal de que a nossa oração já foi atendida. Então, o simples fato de rezar já é um fruto do dom da Sua presença. 
Hoje, com todos os representantes da juventude em todo o mundo, em torno do Papa Francisco em Cracóvia, na JMJ, sustentados por essa energia de esperança que hoje se concentra também em todo o Brasil e, inclusive, em nossa comunidade paroquial, reencontremos a coragem, a beleza, a dignidade, a alegria e a simplicidade da amizade com Deus que, como Pai, acolhe a nossa oração. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA. Missionário Inaciano.
SENH