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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 5 de março de 2016

ALEGRAI-VOS! NOVO COMEÇO – VIDA NOVA!

(Liturgia do Quarto Domingo da Quaresma)

O título deste quarto domingo da Quaresma poderia ser: "Começar uma vida nova". "Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo!", proclama são Paulo na segunda leitura aos Coríntios (2Cor 5,17-21).
O filho pródigo do Evangelho de Lucas (Lc 15,1-3.11-32) começa uma vida totalmente nova, depois de ter recebido o perdão total e incondicional do Pai misericordioso.
Na primeira leitura (Js 5,9a.10-12) o povo de Israel também começa uma aventura novíssima, depois da entrada, tão esperada, na terra prometida.
A palavra início, princípio ou começo é de grande importância na bíblia. É a primeira palavra da Escritura: “No princípio Deus criou o céu e a terra”, como também a primeira palavra do Evangelho de São João: “No princípio era o Verbo”, e de São Marcos, que começa exatamente assim: Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”.  
O início de qualquer coisa nova é, geralmente, acompanhado de emoções contrastantes. De um lado há o temor de deixar um caminho ou uma experiência antiga para começar um caminho ou experiência nova. Neste caso, sabe-se o que está perdendo ou deixando, mas não se sabe o que esperar.
Por outro lado, há o entusiasmo da novidade, do diferente. Na verdade o mundo é bonito, justamente, porque é diferente. Graças a Deus a vida cristã não é feita apenas de eventos que se repetem, mas é marcada profundamente pela novidade. Portanto, a novidade é a condição fundamental que nos define como cristãos: Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova”!
A Palavra de Deus hoje nos ajuda a compreender que a novidade não deve nos causar medo, porque o futuro está nas mãos de um Pai amoroso e misericordioso, como o pai do jovem do Evangelho de hoje.
Quando se inicia uma nova experiência é importante ter em mente que é nova, isto é, diferente do passado! É uma oportunidade totalmente original, oferecida para caminhar com esperança e alegria rumo ao futuro.
A Palavra de Deus é dinâmica, não estática. É a própria Palavra que nos ensina que não devemos ter medo das coisas novas, pois a novidade não é conservadora, mas nos chama a progredir e, portanto, é progressista. Significa dizer, portanto, que exorta o homem a não ter medo de enfrentar a novidade, e o desafia a não refugiar-se no passado, mas a caminhar alegre na direção do futuro, preparado por Deus, para nós. 
O mundo velho desapareceu”, anuncia São Paulo aos novos batizados de Corinto. A recomendação é para que os cristãos não busquem refúgio, nem se instalem num mundo e numa condição que não deve mais fazer parte das suas vidas! É preciso ir adiante!
O maná acabou no dia seguinte para os israelitas que iniciaram a sua nova vida na terra prometida e “naquele ano começaram a comer os frutos da terra de Canaã”. O maná pertence ao passado e, de agora em diante, devem experimentar e saborear coisas novas, frutos diferentes.
Assim como para o filho arrependido que volta para a casa paterna, o alimento é um verdadeiro banquete de festa! Tudo novo, a lavagem dos porcos agora é coisa do passado!
E começaram a festa!”, nos diz a parábola do Pai Misericordioso. Aqui não se lembra mais o pecado do passado. Há uma nova vida para viver, na casa do Pai. Uma vida amadurecida pela experiência do distanciamento. É um novo começo, outra chance, oportunidade para recomeçar o caminho andando com passos diferentes, mesmo que o irmão mais velho não acredite que isso seja possível. Não importa! Deus acredita em nós, e isso basta!
Este é o estilo da novidade de Deus. Tudo se desenrola dentro dos parâmetros desse estilo. Os elementos psicológicos humanos, como costuma acontecer, estão em contraste com a lógica de Deus.
O Pai perdoa de verdade e faz tudo novo a partir do seu perdão. Não se lembra mais do pecado do homem e o convida a recomeçar, oferecendo-lhe a possibilidade de dar início a uma vida nova, mas com o compromisso inadiável de dar um passo importante, que consiste em aceitar o amor incondicional de Deus, o Pai. Aqui descobrimos que é possível se tornar uma pessoa diferente, lembrando que até mesmo a viagem mais longa e distante começa com um primeiro passo.
As leituras desta missa nos levam a analisar o passado, o presente e o futuro, ou o antes, o hoje e o depois da nossa vida, esclarecendo o significado do termo novidade, segundo a lógica de Deus.
Na primeira leitura o antes, ou o passado é constituído pela escravidão do Egito, marcado pela humilhação, pelo sofrimento e pela falta de liberdade. O povo de Israel faz um duro caminho de purificação no deserto. Caminho este que preparou os seus corações para se tornarem um povo novo.
Para Israel, que carrega o fardo desse passado, Deus diz: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito”. Neste ponto, Deus marca pontualmente o tempo. “Hoje”, isto é, no tempo do cumprimento da promessa.
A experiência do começo de uma vida nova é acompanhada pela celebração da Páscoa, pela primeira vez, na condição de povo livre. É por isso que a novidade é celebrada com um rito, na presença do Senhor.
O depois, ou seja, o futuro de Israel, começa no dia seguinte: No dia seguinte à Páscoa, comeram dos produtos da terra, pães sem fermento e grãos tostados nesse mesmo dia”. 
O mesmo dinamismo aparece na segunda leitura. “O mundo velho desapareceu”! Não existe mais, e por isso mesmo, não devemos mais, sequer, olhar para ele. Paulo pode proclamar isso aos coríntios porque ele próprio fez essa experiência, passando de perseguidor da Igreja a alguém que foi perdoado e regenerado para começar uma vida nova.              O hoje é marcado por um convite a acolher gratuitamente o amor de Deus, permitindo a reconciliação, a volta e reaproximação que Deus tanto espera de nós!
Como o Pai é livre na doação do Seu amor, o Filho é livre no acolhimento, e o Espírito é livre na comunhão, assim os cristãos devem ser livres na aceitação da novidade de Deus: “Deixai-vos reconciliar com Deus”! Nestas palavras, que dizem respeito ao hoje do cristão, há quase uma passividade. O que devo fazer? Deve deixar-se amar. Deve permitir a Deus que o reconcilie com Ele.
O depois, isto é, o futuro, do qual fala a segunda leitura é o envio ao mundo como embaixadores de uma vida nova, como pessoas que falam como se fossem a voz do próprio Deus no meio de nós, convidando os povos a acolherem o amor regenerador de Deus. 
O Evangelho também nos mostra um ontem, um hoje e um amanhã.
O pecado foi concebido e preparado, poderíamos até dizer que foi premeditado, pelo filho pródigo. Cultivado na consciência, esse pecado o levou a desejar a morte de seu pai e o conduziu a uma vida corrompida.
Mas a decisão de pedir perdão ao pai indica o divisor de águas no texto: é o hoje da graça, que o faz começar uma vida nova.
O depois, o futuro, não conhecemos, porque o Evangelho não nos fala. Podemos imaginar que tenha sido caracterizado por uma vida diferente, em companhia do irmão mais velho, que não tinha compreendido nada do estilo e da lógica do seu Pai.
Mas, na verdade, o que importa é fazer a experiência pessoal de ser perdoado e regenerado para uma vida nova, e se os outros não acreditam, não importa. O que importa, de fato, é que o Pai acredita!
O dinamismo da Palavra de Deus nos interpela de modo pessoal. Nós também temos um passado, um presente e um futuro. Há os que tem pouco passado e muito futuro, como as crianças e os jovens, por exemplo. Há os que tem muito passado e pouco futuro, como os idosos. Todos, porém, temos o hoje da graça, que é próprio deste tempo em que nos preparamos para celebrar a ressurreição de Jesus, que nos insere numa perspectiva de vida totalmente nova.

A Quaresma nos recorda que a graça de Deus trabalha nos corações de todos os homens e mulheres e a todos é oferecida a possibilidade da conversão. Rezemos para que todos nós possamos acolher hoje o amor incondicional de Deus, que nos ajudará a dar o primeiro passo para um amanhã, na alegria do novo começo de uma vida nova! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br).