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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 4 de janeiro de 2014

EPIFANIA DO SENHOR



A festa da Epifania do Senhor nos ajuda contemplar o mistério da Encarnação sob outro ponto de vista e sob outro ângulo.
O Menino nascido em Belém não é apenas o Filho de Deus anunciado no segredo do coração a Maria e José. Não é apenas o Salvador anunciado e adorado pelos anjos e pastores, mas é também o Rei de Israel, não acolhido pelo Seu povo, condenado à morte pelo poder político e reconhecido com Luz para todos os povos.
O evangelista Mateus (Mt 2, 1-12) nos comunica esta realidade com a famosa história dos Magos do Oriente, na qual não é fácil distinguir o que, de fato, é história ou o que é metáfora.
Mateus não se prolonga muito sobre o nascimento de Jesus, em si, mas nos apresenta alguns acontecimentos e personagens diretamente ligados ao acontecimento, porque é isso que nos permite descobrir o caráter extraordinário daquele Menino.
Os reis Magos entram em cena. Mago é um nome genérico que, naquele tempo, indicava os representantes do saber natural e religioso do Oriente.
O que os três sábios fazem e dizem nos permitem conhecê-los mais a fundo. Ou seja, empreenderam uma viagem longa e difícil levando no coração uma pergunta viva, nascida da descoberta de uma estrela que, como era comum no pensamento antigo, ligavam ao nascimento de algum personagem importante. Eis, portanto, a pergunta: onde o rei nasceu?
Não se trata de mera curiosidade. O que, na verdade, eles desejam é encontrá-Lo para adorá-Lo. Chegam a Jerusalém e perguntam às autoridades. O rei Herodes e todos os cidadãos de Jerusalém não sabem nada do que aconteceu, e se assustam quando ouvem a notícia dos Magos.
O medo é sempre o contrário da esperança e do desejo de encontrar algo novo. Por motivos diferentes Herodes também se faz a pergunta sobre “onde” devia nascer o Messias. Ele, pagão e chefe político ligado aos romanos, reúne e interroga as pessoas mais importantes da religião hebraica.
A pergunta, finalmente, encontra resposta da parte daqueles que conhecem as Escrituras. Belém, a cidade de Davi é o lugar onde deve surgir o Pastor de Israel. Sabendo disso, os chefes religiosos não se preocupam em pôr-se em movimento para encontrá-lo, diferentemente dos magos, nem ficam perturbados como Herodes.
Na verdade, eles representam aquele povo que, embora tendo recebido as promessas de Deus expressas nas Escrituras, não soube vê-las realizadas em Jesus.
A resposta da Escritura, na verdade, coloca Herodes em movimento, que concretiza o seu plano. Herodes chama os magos de noite e lhes manda ao lugar indicado pelo Profeta, com uma ordem. Eles deveriam retornar e informar tudo o quanto possível sobre o Menino, para que ele também fosse adorá-Lo.
Para o poder político Jesus é um inimigo em potencial, como se mesmo ainda antes de começar a falar Ele já denunciasse a pretensão do poder totalitário e desumano.
E eis que a estrela, que guia os Magos, retorna ao objetivo da sua viagem, enchendo-os de alegria.
As palavras da Escritura não servem muito para os Magos, homens de outras religiões, quanto servem para os cristãos provenientes do judaísmo, para crer que Jesus cumpre a profecia sobre Belém e é, verdadeiramente, o Messias.
Ao contrário do que indica a profecia da Escritura, os Magos chegam até o Menino seguindo a estrela. São guiados pelo divino, já que a estrela aparece no céu, lugar simbólico da divindade.
A estrela que guia só é visível àqueles que estão dispostos a reconhecer naquele Menino um rei. Conclui-se, portanto, que todo o espisódio mostra a quem Deus torna o Seu Filho conhecido. Certamente, não é o suficiente saber o que a Bíblia diz sobre o Messias para crer em Jesus. Tampouco pode encontrá-lo quem O tem como um inimigo em potencial, como acontece com Herodes.
Somente os Magos encontram Jesus e realizam o objetivo da sua viagem. O sonho final dos Magos confirma que quem guia e conduz a história em torno desse Menino é Deus. Confirma também que, quem não é movido pela fé e não se deixa por ela guiar, não pode encontrá-Lo.
Os Magos percorrem outro caminho e retornam para as suas casas. Por que será que não se puseram a anunciar a todos a sua descoberta? Porque eles são apenas um sinal colocado no início da história de Jesus, para dizer-nos que com a Sua vida, radicada na experiência do povo de Israel, Ele anuncia e realiza o plano de salvação que Deus oferece a todas as nações e aos povos de todas as culturas, como também a qualquer pessoa que se põe a caminho, seguindo uma estrela, e chega até ao menino para adorá-lo.
Estamos hoje num tempo em que as pessoas de diferentes culturas e religiões vivem lado a lado. A mensagem desta página do Evangelho ilumina o testemunho que os cristãos devem dar ao seu Senhor.
Assim como Maria e José, os cristãos devem estar dispostos a acolher a todos aqueles que querem conhecer Jesus e reconhecê-Lo como o Senhor.

Não devem, pelo contrário, se preocupar tanto em convencer, tampouco condenar quem é diferente de si, mas unicamente devem manifestar com a própria vida a mensagem que Jesus anunciou e o caminho de salvação que abriu para todos os homens. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br –formador@inacianos.org.br)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

SOLENIDADE DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS

Um primeiro passo é sempre bom, se for em direção à luz. Este é um pensamento de encorajamento para motivar o início de um novo caminho, de uma nova fase. Pode ser também uma síntese da festa deste primeiro domingo do ano novo.
A Igreja, nesta solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, nos ajuda a dar o primeiro passo neste ano novo, em direção à luz de um Deus que se fez homem.
Quando éramos crianças e tínhamos medo de enfrentar qualquer situação ou coisa que não conhecêssemos, pedíamos a ajuda da nossa mãe e ela, certamente, pegava a nossa mão para nos guiar ou nos conduzir. É assim que Maria faz ainda hoje com cada um de nós; toma-nos pela mão e nos ajuda a dar o primeiro passo em direção ao ano de 2014. 
A simplicidade desta passagem do Evangelho (Lc 2,16-21), deste primeiro dia no novo ano, em que celebramos a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, é tão extraordinária, como misteriosa e profunda. Em poucas linhas são condensadas diversas cenas. Cada uma delas, riquíssimas.
Na primeira cena temos a chegada dos pastores que, “Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino”. Os próprios anjos haviam dito aos pastores e isso não poderia eximi-los de divulgar a grande notícia.
Os pastores são quase contagiados pelo prodígio e pelo contraste: um simples menino indefeso que, apesar de sua fragilidade, manifesta a glória de Deus no mais alto dos Céus, e ficam maravilhados quando escutam o que agora brota dos seus corações entusiastas e cheios de alegria.
A segunda cena parece contrastar com a primeira, mas é o núcleo da história porque dá o significado para a festa que celebramos neste primeiro dia do ano novo. "Quanto à Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração". Aqui é preciso entender que o anúncio dos pastores, em forma de conversa entusiasmada da primeira cena, é o silêncio meditativo da segunda.
A Mãe de Deus não dá sinais de exaltação ou euforia. Pelo contrário, manifesta o silêncio e a meditação eloqüentes, como se quisesse instruir-nos sobre como se deve tratar as coisas de Deus. Meditação e silêncio orante.
Maria fala pouco no Evangelho. Aliás, quase nunca. As palavras parecem não servir. Às vezes, como no pecado original, servem mais é para levar à tentação. Aqui, pelo contrário, o silêncio que exprime a Redenção é reparador.
A terceira cena retoma a primeira, quase evidenciando o contraste com relação à segunda, pois são ainda os pastores que não se cansam de glorificar a Deus por tudo quanto “viram e ouviram”. Sejamos sinceros, somos tentados a crer que os pastores foram instruídos por um coro de anjos, caso contrário não teriam ficado tão entusiasmados.
Os anjos ainda são mencionados na quarta cena, como para dizer que não se está falando de um conto de fadas ou de uma fábula para crianças. Ao Menino foi dado o nome de Jesus: "Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido".  
Foi assim chamado quando se cumpriram os dias para a circuncisão, à qual o Senhor se submete para não transgredir as regras. Este texto não transmite apenas história, mas nos diz respeito, sobretudo por atingir a vida um de nós, bem de perto.
É São Paulo quem dirá, resumindo em poucas linhas: "Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei.
Se, de fato, Deus não quer transgredir as regras, fazendo outras regras novas, é em vista da vida eterna, pela qual se sacrificou. Ele se ofereceu por nós “para que recebêssemos a dignidade de “filhos adotivos", como nos afirma também a segunda leitura (Gl 4,4-7).
Além disso, Deus "enviou o espírito de seu filho aos nossos corações, o qual clama, 'Abba, Pai!", como prova de que somos filhos de Deus e irmãos em Cristo.
Filhos, portanto, não mais escravos. Não obstante, isto parece não ser suficiente. O amor do Senhor faz de nós também herdeiros, co-herdeiros com Cristo. As palavras de Paulo são inequívocas: "e, se és filho, és também herdeiro". Palavras que não podem, jamais, serem esquecidas. Feliz ano novo! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br –formador@inacianos.org.br)